Vinicius Mota

Secretário de Redação da Folha, foi editor de Opinião. É mestre em sociologia pela USP.

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Vinicius Mota

Agenda conservadora é perfumaria copiada de país rico

Esqueça a ideologização do ensino ou o endurecimento das leis penais: no Brasil, jovem vai pouco à escola e policial sai pouco às ruas

Aumentar o acesso da população às armas, vigiar o que professores dizem na sala de aula, diminuir o controle sobre os policiais que matam em serviço, elevar a dureza dos regimes e das leis penais, tudo isso faz parte da agenda conservadora de presidente, governadores e legisladores eleitos em outubro.

A possível conversão em atos e regulamentos oficiais das ideias que defendem, desde que respeitada a liturgia democrática, estará legitimada. Os graves e urgentes problemas nacionais, no entanto, serão mal combatidos por essas plataformas, que parecem copiadas de movimentos neocons de países ricos.

Aqui os dramas da segurança pública e da educação encontram na juventude o ponto de intersecção. A despeito da visão de mundo –a esquerda enfatiza as falhas no amparo estatal; a direita, a falta de repressão--, o problema continua lá, gigantesco.

Escola fechada no governo Mário Covas. na rua Barão de Jaceguai, que virou delegacia de ensino
Escola fechada no governo Mário Covas. na rua Barão de Jaceguai, que virou delegacia de ensino - Rubens Cavallari/Folhapress

A matança de homens brasileiros da adolescência até os vinte e tantos anos de idade é tamanha que produz uma rampa saliente na tábua de mortalidade, algo totalmente atípico para esse período em regra florescente da vida.

Há quase duas décadas a frequência escolar na faixa etária de 15 a 17 anos permanece virtualmente estagnada, pouco abaixo de 80%. A média embute uma piora progressiva: aos 17 anos, apenas 60% vão às aulas. Nesse ritmo, serão necessários 200 anos para universalizar o ensino básico no Brasil.

Que tal deixar de lado a perfumaria ideológica e encarar o problema das faltas, das mudanças constantes de professores, da evasão, do desalento e da repetência no ensino médio?

Que tal resistir à retórica fácil da truculência e dar instrumentos aos governos estaduais para que coloquem mais policiais bem treinados nas ruas em vez de ficarem pagando aposentadorias elevadas durante décadas a oficiais fora de serviço?

O custo da ignorância se traduz em mais violência, menos renda e menos bem-estar.
 

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