Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu inflação juros

Economia vai crescer quase nada, mas pessimismo cai, bom para Bolsonaro

Ligeira mudança de humor de consumidores e empresários favorece o prestígio do governo

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A confiança do consumidor e a dos empresários da construção civil e da indústria aumentou em abril, mostram os indicadores pesquisados pela FGV. Não é otimismo. A confiança ainda está no nível da insatisfação, do pessimismo, mas aumentou. Vinha em geral em baixa desde meados do ano passado.

Não quer dizer que vai haver uma virada econômica, com aumento de consumo e, menos ainda, de investimento produtivo. Mas a ligeira mudança de humor favorece o prestígio do governo.

Desde o início do ano, a votação de Jair Bolsonaro aumentou cerca de um ou dois pares de pontos. Mesmo com o repique da inflação, que continuou pelo menos até meados de abril, com a carestia da comida em terríveis 15% ao ano, em geral motivo de revolta ainda maior.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, em cerimônia no Palácio da Alvorada - Adriano Machado - 17.mar.2022/Reuters

O assunto, pois, é mais político do que econômico. A questão é saber o motivo dessa despiora de humores e se isso vai durar.

O que haveria de novo?

O crescimento desde fins de 2021 não foi tão baixo quanto se esperava. Economistas e bancões mais pessimistas revisaram estimativas de pequena recessão para crescimento além de 0,5%. Na mediana das previsões compiladas pelo Banco Central, o PIB cresceria 0,65% neste 2022. Mas o refresco não parece vir daí.

Como já se escreveu nestas colunas, de fevereiro de 2021 a fevereiro de 2022, o número de pessoas com algum trabalho aumentou em quase 8 milhões. Nesta sexta-feira, vamos saber o que se passou em março, mas os indícios são de que mais gente arrumou algum trabalho.

Segundo também os economistas da FGV, parece que o consumidor ficou menos pessimista por causa de medidas do governo tais como a liberação do saque parcial do FGTS ou a antecipação do 13° do INSS. A gente ouve na rua as pessoas falando que vão sacar do FGTS.

Nas indústrias, o motivo talvez tenha sido a descompressão de notícias ruins do início do ano: menos Covid, menos problemas com fornecedores, redução do choque com a guerra. Na construção, há mesmo alguma satisfação com perspectivas de meses adiante, além de ânimo de contratar trabalhadores. Talvez as obras de estados e prefeituras, que estão com os caixas cheios, estejam dando algum ânimo para o setor.

É preciso qualificar um pouco mais essa redução do pessimismo. O consumidor está muito insatisfeito, pessimista como não se via mesmo em muitos meses de epidemia em 2020 e 2021. Os empresários da construção civil estão à beira de passar para o lado do "otimismo" no indicador da FGV. A onda de aumento de pessimismo do empresário industrial, que vinha desde agosto de 2022, amainou. Mas a confiança está em nível bem abaixo do que se registrara de fins de 2016 até o início da epidemia.

Ou seja, são migalhas de redução de desânimo.

Não dá para salvar o crescimento de 2022. A renda (PIB) per capita vai ficar quase estagnada (a população cresce cerca de 0,7% ao ano, estima o IBGE).

O dito consumo das famílias, o consumo privado não deve aumentar mais de 1% também, pois os empregos novos pagam pouco e esse rendimento miúdo ainda é massacrado pela inflação.

O investimento em novas instalações produtivas, residências, máquinas, equipamentos, softwares etc. não vai ter uma reviravolta. Deve cair em 2022. A retranca está dada. Não se vira do avesso plano de investimento em meados de ano de eleição em um país caótico, em um mundo em que o crescimento deve embicar para baixo e que também anda muito incerto.

No entanto, não há degringolada maior na economia. Há remendos temporários no rendimento (FGTS, 13º etc.). A situação socioeconômica é obviamente terrível, mas não há cenário de desastre acelerado, como esperava a oposição. ​

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