Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu Eleições 2022

Corrida para aderir a Lula não deve dar carta branca ao petista

Conversa menos mole vai começar com composição do Congresso, que não deve ser lá muito diferente do que saiu da eleição municipal de 2020

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Nos últimos dias, tem causado algum zunzum a adesão de "personalidades", quadros da elite, "famosos" ou "influencers" à candidatura de Lula da Silva, em especial de muita gente que jamais foi simpática ao PT ou que sempre demonstrou aversão ao partido e a seu líder máximo, em palavras e atos.

É meio previsível, ainda mais em fim de campanha destes tempos de redes sociais e em uma eleição de caráter plebiscitário figadal. Se esses "influenciadores" vão influenciar algum voto é menos provável. Talvez possam ser sintoma de um movimento eleitoral mais amplo, do que apenas vamos saber no sábado, com pesquisas de véspera de votação —e olhe lá.

Por ora, é possível que cerca de 22 milhões ainda possam mudar o voto, estimativa precária baseada no percentual de eleitores "voláteis", segundo o Datafolha, no eleitorado potencial e no comparecimento às urnas de 2018. Milhões desses eleitores não prestam atenção ao noticiário ou a tretas e conversas políticas de redes sociais. Talvez se decidam em trocas de mensagens de última hora pelo celular.

Imagem mostra Lula apontando dedo indicador para a cabeça enquanto discursa com microfone.
Lula durante evento com setor esportivo - Carla Carniel - 27.set.22/Reuters

Faz pelo menos uma dezena de dias, como se registrou nestas colunas, também políticos de partidos variados, inclusive do núcleo do centrão bolsonarista (PL e PP), mandam "recados" adesistas. Quadros "técnicos" oferecem seus préstimos, alguns descaradamente.

Ao menos no que diz respeito à política econômica, não pode ser adesão a um programa, que não existe. Há quem diga que tal embarque na candidatura ora favorita significa dar "carta branca" a Lula (até ontem, essas pessoas concediam uma "carta cinza" ou mesmo suja, a Jair Bolsonaro). Alguns outros afirmam que um segundo turno obrigaria o petista a negociar apoios e, assim, a explicitar um programa.

Caso sobrevenha um segundo turno, Lula deverá ter tido quase 50% dos votos. Seus adversários relevantes, além de Bolsonaro, devem somar uns 12%, de resto votos que esses outros candidatos não controlam. Portanto, há muito pouco o que negociar por aí.

A conversa menos mole vai começar quando se souber da composição do Congresso, que não deve ser lá muito diferente do que saiu da eleição municipal de 2020. Isto é, predomínio da direita mais marcada, de partidos negocistas, da dúzia de sublegendas do centrão. Será preciso verificar se as atuais lideranças políticas terão mantido sua força. Um ou outro resultado de eleição estadual pode ser relevante, mais como sinal —governadores não comandam rebanhos políticos.

Esses partidos fazem qualquer negócio. Estavam aboletados no governo "desenvolvimentista" de Dilma Rousseff. No entanto, o clima ideológico no país mudou desde o desastre que explodiu entre 2013 e 2015, ainda mais depois que a direita mais extrema ousou gritar seu nome. Tanto que os credores do governo, "o mercado", parecem acreditar que algum acordo tolerável vai se arranjar, com tranquilidade surpreendente. É o que transparece nos indicadores financeiros relativamente tranquilos (dada a situação horrível das contas públicas e da economia).

Donos de dinheiro dizem que o fato de Lula não ter um programa significa apenas que, caso eleito, vai ver para onde o vento sopra. Lula 3 seria, então, uma resultante da voz rouca das ruas com realismo, a pressão da feia necessidade econômica. Inventaria um programa palatável a partir daí, quase do zero. A "carta branca" seria, na verdade, uma carta em branco. As adesões seriam até mais um impulso para um acordo mais amplo, que começou a ser sinalizado desde a adesão de Geraldo Alckmin. Pode ser mero pensamento desejante, mas é o tema de muita conversa de elite.

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