Adolescente é o 2º do país a sobreviver depois de contrair raiva, diz ministério

Crédito: Pascual Soriano/AFP Imagem de morcego, um dos animais capazes de transmitir raiva ao homem
Imagem de morcego, um dos animais capazes de transmitir raiva ao homem; jovem é 2ª sobrevivente

NATÁLIA CANCIAN
DE BRASÍLIA

Um adolescente de 14 anos tem sido considerado o segundo paciente no Brasil a sobreviver após contrair raiva, doença cujo índice de letalidade é de aproximadamente 100%.

O outro caso ocorreu em 2008, em Pernambuco, segundo o Ministério da Saúde. A pasta, no entanto, afirma que ainda precisa analisar mais dados para confirmar se houve cura.

Em nota, o ministério informa que "ainda não recebeu todos os relatórios neurológicos do paciente, de modo que não há como avaliar ainda quais as condições e prognóstico de recuperação".

Já a Secretaria de Saúde do Amazonas informa que o caso, atípico, indica uma "cura clínica", já que o paciente deixou a UTI e tem apresentado melhora.

Novos exames devem ser feitos nos próximos dias para confirmar a eliminação do vírus.

Se confirmado, o caso do menino, que vive em Barcelos (AM), poderá ser o quinto no mundo de raiva humana a evoluir para cura. Além do caso de Pernambuco, outros dois casos de cura ocorreram nos Estados Unidos, em 2004 e 2011, e outro na Colômbia, em 2008.

A doença, causada por um vírus que acomete mamíferos, é transmitida principalmente por meio da mordida de animais infectados. Seus sintomas iniciais duram de dois a quatro dias, tempo em que a infecção começa a progredir, levando a febre, delírios, espasmos involuntários e convulsões, entre outros.

Após esse período, a evolução do quadro até a morte do paciente costuma levar de cinco a sete dias, segundo dados do ministério.

3º DA FAMÍLIA

No caso do adolescente, que vive em Barcelos (AM), o diagnóstico precoce e a rápida internação tem sido apontados como fatores fundamentais para a melhora.

Ele foi internado no dia 2 de dezembro na Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, unidade que pertence à rede estadual de saúde, com formigamento nas mãos.

Antes de apresentar os primeiros sintomas, porém, a família do menino já estava sendo monitorada, segundo conta o infectologista Antônio Magela, que acompanhou o caso.

Isso porque, dias antes, o irmão e a irmã do garoto haviam sido internados com a doença, transmitida pela mordida de um morcego infectado. Ambos morreram.

O histórico de outras duas infecções recentes na família levou à decisão rápida pela aplicação do "protocolo de Milwaukee", tipo de tratamento aplicado também no caso do paciente que sobreviveu à doença em Pernambuco e nos demais casos de cura.

Segundo o infectologista Antônio Magela, que acompanhou o caso, o protocolo consiste na sedação do paciente e no uso de um antiviral e outros medicamentos, que atuam no sistema nervoso e visam também prevenir convulsões.

Durante esse período, o paciente é mantido em coma induzido. Os remédios foram enviados pelo Ministério da Saúde, que autorizou o tratamento. Além do menino, a irmã chegou a ser submetida ao mesmo protocolo, mas já chegou em estado grave e não resistiu.

O adolescente chegou ao hospital horas após a morte da irmã. No mesmo dia em que foi internado, ainda consciente, ele teve uma convulsão e foi encaminhado à UTI.

O quadro se agravou nos dias seguintes. Segundo a secretaria, o adolescente chegou a ficar em estado gravíssimo, até que, aos poucos, começou a responder ao tratamento.

Após melhora, o menino foi transferido para a enfermaria do Hospital e Pronto Socorro da Criança, que fica na zona leste de Manaus.

"A cura clínica é vista no dia a dia, na sobrevivência dele e na maneira como ele se livrou dos sintomas", explica Magela.

"Ele está semi consciente, abre os olhos e atende a solicitações verbais. Ele tenta se levantar quando o pai fala com ele. Não sabemos se pode ver, mas sabemos que ele está ouvindo. A evolução dele vai ser através do tempo. Vai demandar tempo, cuidado e assistência constante", diz.

A previsão é que o adolescente continue no local por tempo indeterminado, para tratamento de complicações causadas pela doença. No caso de Recife, o paciente ficou internado por nove meses e ainda passa por acompanhamento ambulatorial.

Segundo Magela, ainda não é possível saber se o menino terá sequelas. "Temos um paciente que ficou extremamente grave, que passou por um período de muito risco de morrer e sobreviveu. Ele apresenta melhora clínica e neurológica, lenta, porém progressiva. Vamos levar ainda certo tempo para analisar se vai ficar com sequelas e se podem ser revertidas, diz.

SORO E VACINA

Em geral, o protocolo de prevenção contra a raiva recomenda a aplicação de soro e vacina, geralmente indicados nos casos em que uma pessoa é mordida por um animal e há maior risco de adquirir a doença.

O objetivo é produzir anticorpos no local do ferimento, como forma de controle rápido do vírus.

Segundo Magela, o menino chegou a receber vacina e soro, mas vários dias após ter tido contato com o morcego –o ideal é que ocorra o quanto antes, ou em até três dias, afirma. A suspeita, assim, era que já estivesse com o vírus no organismo, explica –daí ter desenvolvido a doença.

Em nota, a secretaria do Amazonas informa que, como prevenção, reforçou a distribuição de vacinas e soros contra a doença na região de Barcelos onde ocorreram os três casos.

Em 2017, de acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados cinco casos de raiva, sendo um em Pernambuco, um em Tocantins, um na Bahia e três no Amazonas.

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