Descrição de chapéu racismo

Acusado de racismo é alvo de protesto em retorno às aulas na FGV após liminar

Cartazes espalhados dizem que 'lugar de racista é na cadeia'; celular do aluno teria sido roubado, defende família

Paulo Saldaña
São Paulo

O retorno às aulas, por decisão judicial, do estudante da FGV (Fundação Getulio Vargas) de São Paulo que havia sido suspenso por ter chamado um colega negro de "escravo" tem causado polêmica na instituição. Cartazes contra a volta do aluno foram espalhados nesta segunda-feira (7) na sede da escola de administração, no centro da capital paulista, e o movimento negro da instituição publicou nota de repúdio.

Aluno de administração, Gustavo Metropolo, 20, havia sido suspenso por três meses no início de março depois de uma mensagem racista atribuída a ele ter vazado de um grupo privado de WhatsApp. Nela, o aluno encaminha uma foto de outro estudante com o seguinte comentário: "Achei um escravo no fumódromo! Quem for o dono avisa!".

Cartaz com os dizeres: O racista voltou. Lugar de criminoso é dentro da cadeia e não na sala de aula; Racistas não vão assistir aula do nosso lado
Cartaz produzido por alunos da FGV-SP em protesto à volta às aulas de aluno acusado de racismo - Acervo pessoal

Nesta segunda, cartazes espalhados afirmam que "o racista voltou". "Lugar de criminoso é dentro da cadeia e não na sala de aula". Outro cartaz afirma: "Racistas não vão assistir aula ao nosso lado. Ao ver ele nas salas e nos espaços da FGV saiam".

A FGV havia suspendido, no dia 8 de março, por três meses o aluno. A sanção era prevista no Código de Ética e Disciplina da fundação. A análise para uma possível expulsão do aluno estaria ainda sendo realizada.

A família do aluno conseguiu na Justiça uma decisão liminar (temporária) que garante seu retorno às aulas. Ele voltou a frequentar a unidade na quinta-feira (3).

Os pais de Gustavo são advogados e assinam a defesa do jovem. Segundo a mãe, a advogada Ana Paula Rodrigues Metropolo, a fundação não deu amplo direito de defesa a seu filho. "Em 24 horas [a FGV] fez um procedimento contra ele, sem dar o direito de chamar os pais ou advogado, e ofertou a suspensão".

Gustavo teria admitido a autoria da mensagem à direção da instituição. No processo, entretanto, a família argumenta que isso não ocorreu. "Ele só disse que tinha visto a mensagem, não confirmou que foi ele", disse Ana Paula. "Não foi ofertada ampla defesa, portanto essa confissão foi dada em ambiente questionável".

No processo, a família informou ainda que Gustavo havia tido o celular roubado. O roubo teria ocorrido em novembro de 2017, cerca de quatro meses antes da frase racista. Segundo a mãe, Gustavo teve uma volta tranquila às aulas.
 

FGV suspende aluno da faculdade após acusação de racismo em SP
FGV suspende aluno da faculdade após acusação de racismo em SP - Reprodução

O coletivo Negro 20 de novembro da FGV divulgou na semana passada nota de repúdio em que exige novo processo administrativo e a expulsão do aluno. "Sofremos juntos a vítima que terá que conviver no mesmo ambiente que seu agressor", diz a nota.

Estudantes ainda articulam a realização dentro da escola do espetáculo de teatro "Baquaqua- Documento Dramático Extraordinário”, baseado na única autobiografia conhecida de um africano que foi escravizado no Brasil (Cia. do Pássaro). 

Segundo Lia Lopes Almeida, 30, mestranda em direito na FGV, o retorno do estudante causou revolta entre os estudantes. "O esforço de tentar articular uma intervenção cultural é para que falemos do tema, mas sem que haja linchamento de nenhum dos lados."

Questionada sobre a situação, a FGV informou que o caso está sendo tratado na Justiça e que não comentará o assunto.

HISTÓRICO

Este não é o primeiro caso de racismo na instituição. 

Em março do ano passado, uma caloura de 17 anos foi hostilizada dentro do campus durante um campeonato esportivo interno. Da torcida, uma pessoa gritou para a garota: "Negrinha, aqui, não!". 

Ela fazia parte do programa de bolsas de estudos da faculdade, que atende pessoas de baixa renda, numa tentativa de ampliar a diversidade na escola, diminuindo sua elitização —as mensalidades da FGV são superiores a R$ 3.500.  

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