Descrição de chapéu

Turfe, um dia esporte dos reis, vive hoje apenas de lembranças

Iniciativas atuais são tímidas e pontuais, sem um calendário anual e nacional

Cyro Queiroz Fiuza

Quando os clubes de corridas de cavalos foram fundados no Rio e em São Paulo, no final do século 19, provavelmente seus primeiros associados não imaginavam o sucesso que faria no país a atividade, chamada de "esporte dos reis" por suas origens inglesas e que resultou na abertura de pistas também no Paraná, no Rio Grande do Sul e em outros estados.

O Club Paulistano de Corridas foi fundado em 14 de março de 1875. Em 29 de outubro de 1876, foi disputada a primeira corrida no hipódromo da Mooca, que permaneceu ali até a construção do hipódromo de Cidade Jardim, em 1941.

Era uma área de charco às margens do rio Pinheiros, que deu início à urbanização do bairro do Morumbi.

O público pegou gosto pelo esporte e pelas apostas, influenciado pelos imigrantes, que gostavam de turfe em seus países de origem. As apostas cresceram, e o esporte se popularizou, só perdendo em espaço nos jornais para o futebol.

A equação do "negócio turfe", porém, nunca foi boa para os clubes. Ao contrário do que se imagina, a parte do leão não fica para o Jockey, mas é devolvida ao apostador (cerca de 70%). Outros 20% vão para criadores e proprietários de cavalos e cerca de 6% ou 7% ficam nos cofres dos clubes.

Em tempos gloriosos, esse percentual era mais do que suficiente para cobrir as despesas. Estima-se que mais de US$ 1 milhão passavam pelos guichês em cada dia de corrida, com milhares de pessoas participando do evento. Não é à toa que o Jockey Club de São Paulo promovia o Réveillon mais badalado da capital ou importava chefes de cozinha da Itália e confeiteiros da França para suas cozinhas.

A bonança durou algumas décadas, de 1940 até o início dos anos 1990. Nesse meio tempo, a capital viu nascer seus primeiros shoppings centers, o rádio deu lugar à televisão e a cidade ganhou novas formas de lazer e diversão, que disputavam cada vez mais a atenção do consumidor. Os dirigentes dos Jockeys Clubs não deram conta disso, mesmo quando passaram a perder espaço na imprensa a partir da década de 1990.

O movimento geral de apostas, que soma o dinheiro arrecadado nos páreos, foi caindo ano a ano. O público também. Hoje, menos de 500 pessoas comparecem às corridas aos sábados. Nos dias frios de inverno, esse número cai ainda mais. No final de julho (dia 28), a arrecadação em São Paulo foi de R$ 564 mil, ou US$ 144 mil ao câmbio de US$ 3,91.

Uma redução tão drástica diante dos áureos tempos que, fosse uma empresa, já teria fechado. Como é clube, permanece aberto, mas não se sabe até quando caso perdure essa sangria.

A solução para os problemas do turfe, entretanto, não está tão longe da realidade. Os Jockeys Clubs têm hoje a possibilidade de promover parcerias com empresas norte-americanas e europeias especializadas que podem trazer novas modalidades de apostas, escala no jogo e tecnologia para as transmissões de televisão tanto para canais a cabo como para a internet e celulares (Rio e Porto Alegre já experimentam parcerias).

Retomar as atividades de marketing também é fundamental. Algumas iniciativas acontecem hoje, mas são tímidas e pontuais, sem um calendário anual e nacional que faça as pessoas irem ao hipódromo ou os visitantes retornarem.

Cyro Queiroz Fiuza

Jornalista pós-graduado em marketing pela ESPM. Tem passagens por Gazeta Mercantil, Diário Popular, InPress Porter Novelli e Jockey Club de SP, onde exerceu a função de gerente de comunicação.

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