Bela Vista, no centro de SP, se mobiliza contra agressão a padre, violência e barulho

Missa tem manifestação de solidariedade; ação levou a fechamento de 5 bares e detenção de suspeitos

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São Paulo

A missa das 19h superlotou a igreja de Nossa Senhora de Achiropita, na Bela Vista, centro de São Paulo, na noite de domingo (13), e não era dia da padroeira, mas uma manifestação de solidariedade ao pároco Antonio Bogaz, uma das vítimas da violência no bairro.

Ao sair da Casa São José, onde a igreja cuida de 130 idosos, na rua Treze de Maio, Bogaz foi atacado com um facão por um comerciante que está foragido.

O agressor ficou à espreita na rua sempre movimentada à espera do padre, na noite de 27 de dezembro, e depois não foi mais visto. Bogaz se protegeu com uma caixa de papelão que carregava e foi atingido apenas no braço esquerdo.

Na abertura da missa, num clima bastante emotivo, Bogaz veio ao final de um cortejo de sacerdotes, lideranças comunitárias, dezenas de coroinhas, membros do Conselho de Segurança do Bexiga, representantes do comércio, da prefeitura, da Polícia Militar, da Guarda Civil Metropolitana e até da ala das baianas da escola de samba Vai-Vai, que neste ano tem como tema “Quilombo do Futuro”.

Todos se uniram nas últimas semanas contra a presença de usuários de drogas e traficantes, que se espalharam em outros pontos da cidade após a ação de estado e prefeitura no fluxo da cracolândia do centro, em 2017. Na Bela Vista, frequentadores varam a noite com atos de vandalismo e som alto, fechando as vias ao trânsito. 

A agressão ao padre foi uma represália às denúncias do movimento comunitário que já levou ao fechamento de cinco bares e detenção de suspeitos, mas Bogaz diz que não está arrependido de ter voltado à paróquia em 2008, onde já havia servido por dez anos antes de ser transferido para Rio Claro (no interior de São Paulo).

“Nós temos a missão de proteger os mais fracos em qualquer situação. Eu já não estava mais nem conseguindo rezar à noite tanto era o barulho que vinha da rua, as pessoas se sentiam ameaçadas”, conta o pároco, antes da missa, andando de um lado para outro para ouvir as queixas dos fiéis.

Um deles era o deputado federal Samuel Moreira (PSDB-SP), que já participou de quatro reuniões do Conseg (conselho de segurança) em que foram apresentadas denúncias de irregularidades no uso e ocupação do solo. “Precisamos garantir providências do poder público e isso está sendo feito.”

Cristina Oka, presidente do movimento Viva 13 , que faz parte do Projeto Vizinhança Solidária, formou grupos de WhatsApp ligados diretamente à polícia. A Guarda Civil Metropolitana montou uma base móvel próxima à igreja para dar segurança 24 horas.

A próxima tarefa do movimento é instalar iluminação e câmeras de segurança na rua Treze de Maio, antes da tradicional festa da Achiropita, em agosto.

Na missa cantada, foram apresentadas as várias medidas já tomadas pela comunidade e pelo poder público para reagir à violência com apelos à paz e contra a intolerância.

Um dos celebrantes lembrou os 30 anos de sacerdócio de padre Bogaz, dedicados a vários projetos sociais na paróquia. “Não podemos ficar presos nesse medo provocado pelo ódio que ameaça até celebrações religiosas, como temos visto em vários lugares. Nosso projeto é de vida e liberdade, e precisamos lutar juntos por isso”.

Com o dinheiro arrecadado nas festas, além da casa de idosos, a igreja mantém creches e um serviço permanente para moradores de rua e dá apoio a usuários de drogas que buscam ajuda, atendendo em média mil pessoas carentes por dia.

“Este não é um movimento da igreja, mas de toda a nossa comunidade e do poder público que se uniu em defesa da vida”, repetia o pároco aos fieis antes de dar início à celebração.

Não era dia da padroeira, mas há muito tempo a Achiropita não via uma missa assim. Um carro da polícia ficou o tempo todo parado na porta. Sinal dos tempos.

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