Relatório da Vale revela que, em 2018, a empresa fez apenas nove simulados de emergência em barragens de rejeitos de minérios de ferro, apesar de possuir 175 estruturas em todo o país.
Os dados estão em uma apresentação de sustentabilidade feita pela empresa que, um mês antes da tragédia em Brumadinho, garantia que "todas as barragens de minério de ferro da Vale seguras e operando dentro dos limites normais".
De acordo com a empresa, o simulado tem objetivo de "testar recursos, rotas de fuga e pontos de encontro das localidades que estão definidos em nossos planos". Mesmo com o teste, a barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho, teve ao menos 110 mortes e 238 desaparecidos. Peça fundamental do plano de emergência, as sirenes não funcionaram neste caso.
Segundo o relatório, em 2018, foram realizados os chamados Planos de Ação de Emergência de Barragens de Mineração em três estados: Minas, Pará e Mato Grosso. Para este ano, o relatório tinha 15 exercícios do tipo planejados.
A empresa produziu até uma história em quadrinhos mostrando como funciona o plano de emergência. Um dos personagens usados para exemplificar o sistema de segurança frisa a importância das sirenes: "O acionamento das comunidades está previsto por meio de sirenes, caso seja percebida alguma situação que represente ameaça. Nessa hipótese, todos deverão se dirigir aos pontos de encontro".
A barragem que se rompeu em Brumadinho foi um dos locais onde foi realizada a simulação de emergência. De acordo com publicação de junho no site da Vale, 109 pessoas participaram —82% do esperado. Do simulado, também participaram órgãos como Defesa Civil, Polícia Militar e a Feam (agência ambiental mineira).
Como a sirene não tocou, as pessoas não tiveram chance de utilizar este plano.
Na publicação da empresa, com um intertítulo "comunidade tranquila", a Vale trouxe o depoimento de uma moradora da região que participou da simulação. Segundo ela, o teste lhe dava mais segurança e tranquilidade.
O relatório da Vale ainda cita uma série de medidas de segurança como 100% das barragens de minério de ferro com declaração de estabilidade emitida pelos órgãos externos. No caso de Brumadinho, a polícia prendeu engenheiros e funcionários que atestaram a segurança da estrutura.
A empresa cita no documento que tem o objetivo de reduzir continuamente o número de barragem de rejeitos. "Em 2018, reduzimos o nosso portfólio de 150 para 136 estruturas"
Contatada, a Vale não respondeu questionamentos da Folha até a publicação desta reportagem.
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