Neilton Serafim Ferreira era um ex-bancário sem experiência no meio artístico quando passou a atuar como assistente da direção do Theatro Municipal do Rio de Janeiro há cerca de 40 anos.
Em meio às tarefas burocráticas, o tom empostado da voz chamou a atenção até de um maestro no teatro. Logo, ele passaria a atuar informalmente como locutor e mestre de cerimônias antes dos espetáculos.
Além dos avisos, como a proibição de fumar, ele também lia textos introdutórios sobre as peças e concertos.
O temporário virou oficial, e a voz de Neilton se tornou marca dos eventos do teatro.
“Ele foi gostando muito daquilo. A gente tinha grandes produções, era uma coisa badalada, com um público enorme”, lembra Ciro Pereira, hoje assessor da presidência do teatro, onde já desempenhou várias funções, incluindo a de presidente.
Ciro foi responsável pela contratação de Neilton, que, segundo ele, dedicava sua vida ao municipal. “Não tinha sábado, domingo, feriado. O municipal é uma família, e você acaba tendo mais vida dentro do teatro que na vida privada”.
Chefe da divisão administrativa do teatro, também desempenhava todo tipo de função para que as coisas acontecessem no municipal. E não deixava de ir mesmo quando estava doente.
No fim de maio, mesmo diagnosticado com uma virose e sem estar 100% recuperado, o locutor insistiu em aparecer no trabalho, na época em que a equipe estava às voltas com as apresentações do Balé da China.
Um dia depois, no dia 28, Neilton teve um infarto e morreu aos 66 anos. Solteiro, deixa uma irmã.
A voz de do locutor ainda deve ecoar pelo municipal mais uma vez. No dia 14 de julho, quando o teatro completa 110 anos, o áudio de uma fala de Neilton será veiculada.
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