Mesmo após mortes, pancadão continuou em favela por mais cinco horas

De acordo com PM, evento se repetiu no dia seguinte, o que gerou mais de 40 reclamações de vizinhos

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São Paulo

O tumulto ocorrido na madrugada do último domingo (1), que deixou nove mortes e 12 feridos, não foi suficiente para afastar totalmente os frequentadores do pancadão da favela de Paraisópolis que, segundo informações da PM, continuou até as dez horas da manhã.

Segundo informações oficiais, esse baile realizado no meio da rua e com som em altíssimo volume, também se repetiu na madrugada de domingo para segunda-feira (2), o que provocou mais de 40 ligações de moradores da região reclamando o barulho.

Segundo a Folha apurou, só neste ano foram realizados 163 dias de bailes naquele mesmo lugar. Cada evento costuma durar quatro dias seguidos, sempre regado drogas (lícitas e ilícitas), e também concentra grande quantidade de jovens.

A região de Paraisópolis é conhecida com um dos principais redutos do PCC na capital, e, não raro, de relatos de enfrentamento de criminosos com policiais.  No início do mês passado, por exemplo, foi morto ali o sargento Ronaldo Ruas, 52, baleado durante uma intervenção policial.

Só neste ano, a PM apreendeu mais de duas toneladas de drogas ali, entre maconha, crack e cocaína, além de ter recuperado 103 veículos produtos de furto e roubo.

Há entre integrantes da cúpula da PM que afirmam acreditar que os policiais da Rocam podem ter sido atraídos para o baile funk, após serem alvos de disparos, como parte do plano dos criminosos para criar um tumulto no local, criar desgastes à imagem da corporação e, com isso, afastá-la das ruas e vielas do interior da favela.

Veja perguntas ainda sem resposta do caso 

Quem eram os homens que estavam na moto, que teriam atirado na polícia, e qual o motivo dos disparos?

A PM ainda não identificou quem são os dois suspeitos que, segundo a versão do governo, teriam disparado contra os agentes que faziam patrulha no local e gerado a suposta perseguição que terminaria em tumulto no baile

Quais as evidências de que a perseguição existiu e onde está a moto?

Testemunhas que estavam em Paraisópolis dizem não ter visto moto nem tiros descritos pelos policiais. Segundo a corporação, era uma motocicleta preta Yamaha, modelo 660R, e a perseguição está comprovada, uma vez que policiais avisaram rapidamente sobre a abordagem. A moto ainda não foi encontrada

Os jovens começaram a correr após ouvir tiros ou para fugir da fumaça das bombas de gás disparadas pela polícia?

A questão ainda é controversa. Na versão oficial da PM, o estopim para a correria que resultou no pisoteamento de nove pessoas foram os tiros supostamente disparados por dois criminosos. Os relatos dos jovens que estavam no baile são de que a correria começou após bombas de gás e agressões por cassetetes que teriam partido da polícia

Os jovens realmente morreram pisoteados? Eles teriam caído na correria ou desmaiado com o efeito das bombas de gás?

Apenas o resultado dos exames de corpo de delito vai dizer com certeza. Segundo a PM, todos morreram pisoteados. Relatos de moradores, porém, são de que as supostas agressões por policiais podem ter ocasionado a morte de parte das vítimas

As viaturas da força tática foram até os PMs de motocicleta para tirá-los em segurança do baile ou os agentes já haviam saído da favela e voltaram depois?

Há incongruências entre as versões da própria polícia. De acordo com o comando da PM, os agentes que teriam perseguido a moto até o baile foram hostilizados e viraram alvo de pedras e garrafas. Os agentes pediram reforço e se abrigaram. Na ocorrência registrada pela Polícia Civil,no entanto, os policiais narram ter conseguido sair da favela, se encontrado com superiores e voltado ao baile com reforço da força tática

Por que a polícia teria dispersado uma multidão sem garantir uma rota segura de escape?

Segundo moradores, policiais fecharam ambos os lados da rua e começaram a disparar balas de borracha e bombas de gás. Imagens e relatos indicam que a multidão ficou encurralada em vielas estreitas —alguns tropeçaram e acabaram mortos. O governo sustenta que não houve dispersão, mas sim reação às agressões

Por que o baile continuou por mais cinco horas após a morte dos jovens?

Ainda não se sabe, mas o baile não tem organizador nem apresentações de DJs ou MCs; funciona com iniciativas descentralizadas ao longo da rua

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