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Professor de engenharia de Juiz de Fora morre vítima de coronavírus

José Luiz Rezende Pereira ajudou a consolidar programa de pós-graduação da UFJF

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São Paulo

Qualidade rara na academia, José Luiz Rezende Pereira era apaixonado não só por pesquisar, mas também por ensinar.

Descobriu-se professor ainda jovem, quando começou a dar aulas em um cursinho em Juiz de Fora enquanto estudava engenharia elétrica na federal da cidade.

Homem de camisa olha para a frente
José Luiz Rezende Pereira, professor de engenharia elétrica da Universidade Federal de Juiz de Fora - Alexandre Dornelas/UFJF

Na pós-graduação, não foi diferente: mesmo fazendo mestrado no Rio, continuou ajudando vestibulandos na cidade mineira.

Foi em meio a essa rotina intensa que Zé Luiz conheceu Dayse, aluna do cursinho que mais tarde se tornaria a sua mulher.

No começo dos anos 1980, o casal partiu para Manchester, na Inglaterra, onde Zé Luiz fez seu doutorado -- feito raro na época.

Dayse se recorda como um período muito importante para o marido, mas ao mesmo tempo difícil financeiramente. Foram quatro anos dedicados completamente ao trabalho, sem direito a um respiro no Brasil por causa do preço das passagens.

Desde então, a jornada de Zé Luiz foi de retorno ao lar, de Manchester para o Rio, onde foi professor na UFRJ, e do Rio de volta para Juiz de Fora, onde escolheu criar seus filhos.

Zé Luiz tornou-se professor na mesma faculdade em que se formara quase 20 anos antes.

Ali adotou como missão fortalecer a área de pesquisa não só institucionalmente, contribuindo para a consolidação do programa de pós-graduação em engenharia elétrica --o primeiro da faculdade de engenharia --, mas também em sua faceta humana, orientando pesquisas de estudantes em todos os estágios de formação.

Hoje muitos desses alunos fazem parte do quadro da UFJF -- é o caso de André Marcato, primeiro orientando de iniciação científica de Zé Luiz, em 1993, hoje também professor na unidade.

Outro caso emblemático é o de João Passos, autor da primeira dissertação de mestrado defendida no programa e orientada por Zé Luiz. Quem coordena o programa, hoje, é Passos.

“Ele vibrava ao ver seus alunos crescendo, se formando e se inserindo no meio científico”, afirma Marcato.

Reflexo do empenho do engenheiro, o meio científico abraçou-o de volta. Foi vice-reitor na UFJF entre 2006 e 2014 e coordenador do Instituto Nacional de Energia Elétrica, além de ser uma liderança reconhecida em órgãos de pesquisa como a Capes, o CNPq e no Cepel (Centro de Pesquisas de Energia Elétrica).

Era um professor com quem se podia contar em caso de necessidade, sempre pronto para apoiar quem se esforçasse.

Essa era a fórmula de ensino e cuidado do engenheiro. Não à toa, é assim que a filha Marina o descreve como pai: nunca dando as coisas de forma fácil, sempre ensinando, afetuoso mesmo nos momentos de bronca.

Zé Luiz trabalhava muito, mas no pouco tempo livre que tinha, gostava de cultivar uma horta em casa. “Ele vivia fazendo carinho nas plantas dele”, conta Marina.

O prazer era também, de certa forma, um retorno. O engenheiro passou a infância na roça, na zona rural de Leopoldina, onde cresceu com os sete irmãos.

A casa cheia era outro gosto cultivado pelo professor, que gostava muito de receber gente, de amigos a alunos, sem ver diferença entre as duas categorias.

Nesses momentos de descontração, Zé Luiz fazia churrasco e compartilhava a produção de sua hortinha.

O apego ao lar não significa que o professor não gostasse de viajar, seja a trabalho, nos muitos congressos que frequentava, seja a lazer.

A última viagem que fez foi para Maragogi (AL) em companhia da mulher -- o casal completou 40 anos de casados no final do ano passado. “Tiramos uma semana passeando. Ele estava muito feliz”, diz Dayse.

Logo depois da viagem, o professor começou a apresentar os primeiros sintomas da Covid-19. Ele passou duas semanas internado, mas não resistiu.

José Luiz Rezende Pereira morreu na quarta-feira (8), aos 70 anos. Além da mulher, Dayse, deixa os filhos Marina, Fernando e Isabela.

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