Descrição de chapéu Rio de Janeiro Coronavírus

Corpo de homem que pode ter morrido por Covid-19 fica na rua por 30 horas no Rio

Valnir da Silva, morador de rua, relatou dificuldade para respirar; não se sabe se foi testado

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Ricardo Moraes
Rio de Janeiro | Reuters

Valnir da Silva morreu na rua de um bairro pobre do Rio no sábado (16). Seu corpo ficou estendido na calçada por 30 horas, de acordo com parentes e vizinhos.

Pode ser que nunca tenham certeza, mas eles suspeitam de que o homem de 62 anos seja uma vítima não contada do coronavírus que se espalha pelas comunidades marginalizadas do Rio, levando os serviços públicos ao limite.

Enquanto boa parte da Ásia e da Europa passam do pior momento da pandemia, o Brasil está se aproximando do pico, com mais de 18 mil mortos. O maior país da América Latina passou o Reino Unido nesta semana no triste número de casos confirmados, ficando atrás da Rússia e dos Estados Unidos.

Corpo de Valnir Mendes da Silva, 62, em calçada em favela onde ele morreu
Corpo de Valnir Mendes da Silva, 62, em calçada em favela onde ele morreu - Ricardo Moraes - 17.mai.20/Reuters

As mortes do estado do Rio ficam atrás apenas daquelas em São Paulo, mais populoso. A pandemia está enchendo UTIs (unidades de terapia intensiva) e deixando descobertos os serviços de emergência.

A reportagem da Reuters estava cobrindo uma operação policial no domingo (18) quando ficou sabendo do corpo na favela da Arara.

Quando a reportagem chegou ao local por volta das 7h, achou o corpo de Silva no mesmo local onde, segundo moradores, ele havia morrido na manhã de sábado —entre uma fileira de carros estacionados e uma pequena quadra de futebol.

Um grupo de moradores em um bar próximo disse que a vida de Silva começou a se deteriorar depois da morte de sua mulher há alguns meses, depois do que ele passou a viver na rua.

No sábado, quando Silva reclamou de que não conseguia respirar, moradores disseram que chamaram uma ambulância, mas que ele morreu antes de o socorro chegar.

Alguns residentes achavam que ele tinha morrido de Covid-19, a doença respiratória causada pelo coronavírus, mas ninguém tinha certeza. A doença chegou ao Rio trazida por moradores mais ricos que voltaram da Europa, mas desde então se espalhou por bairros pobres.

Marcos Vinicius Andrade da Silva, 26, enteado de Valnir, e outros carregam seu caixão no cemitério de Inhaúma
Marcos Vinicius Andrade da Silva, 26, enteado de Valnir, e outros carregam seu caixão no cemitério de Inhaúma - Ricardo Moraes - 17.mai.20/Reuters

A ambulância chegou por volta das 16h de sábado, segundo moradores, mas foi embora sem levar o corpo. Paramédicos anotaram sua morte como parada cardíaca e outra causa incerta, de acordo com a certidão de óbito vista pela Reuters.

O serviço de ambulâncias disse que não era responsável por remover o corpo e não esclareceu se Silva foi testado para coronavírus.

Na manhã seguinte, o enteado de Silva, Marcos Vinicius Andrade da Silva, 26, tentou achar outra autoridade para levar o corpo. Ele disse que falou com policiais, que alertaram a 21a Delegacia de Polícia Civil, próxima dali, mas nada aconteceu. Um porta-voz da polícia disse que ela é responsável por remover corpos só em caso de crimes.

Depois de passar o dia ao telefone, o enteado disse que uma equipe funerária chegou às 17h de domingo. "Ficamos aliviados por o terem levado... mas também muito tristes pelo que aconteceu", disse ele.

Na segunda-feira, Silva foi enterrado em uma cerimônia à qual assistiram quatro pessoas, entre elas Marcos e sua mãe.

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