Descrição de chapéu Obituário Luiz Roberto de Souza (1953 - 2020)

Morto pela Covid-19 fundou curso de licenciatura em teatro e marcou cena cultural do Maranhão

Luiz Roberto de Souza, 67, conhecido como Luiz Pazzini, morreu no dia 29 de abril

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São Paulo

Nascido no interior de São Paulo, Luiz Roberto de Souza mudou-se para São Luís do Maranhão em 1992 para dar aulas na universidade federal e acabou ficando uma vida inteira, até a sua morte no dia 29 de abril, aos 67 anos, em decorrência de complicações do novo coronavírus.

Conhecido como Luiz Pazzini —nome artístico em homenagem à sua mãe, Elza Pazinni, hoje com 92 anos—, foi ator, bailarino, diretor de teatro e professor da Universidade Federal do Maranhão. Ele foi responsável pela fundação do curso de licenciatura em teatro, em 2005, e um dos defensores da criação de um prédio para o departamento de artes cênicas, hoje em construção.

Pazzini nasceu em Severínia, onde a família ainda vive. “Para nós, ele era o tio Luiz, aquele homem sensível, engraçado, cheio de luz, que quando visitava só trazia uma mochila nas costas. Para eles, no Maranhão, era um baita de um ator, mas a gente pouco sabia dessa grandiosidade”, diz Andrea Frasato, casada com o sobrinho de Pazzini, Flavio.

Luiz Pazzini interpretando personagem em um cenário a céu aberto
Luiz Pazzini durante o espetáculo 'Negro Cosme em Movimento' - Paulo Socha/Divulgação

Pazzini dirigiu o grupo teatral Cena Aberta por quase 20 anos e virou figura de destaque na cena cultural maranhense. “Ele se apaixonou pela cidade e, mais do que isso, se apropriou dos elementos da cultura do estado para suas produções artísticas. Seu trabalho vai virar uma referência”, aposta Francisco Gonçalves, secretário estadual de Direitos Humanos e Participação Popular, e seu colega na universidade.

“Era uma pessoa querida na cidade inteira, transmitia muita alegria e entusiasmo”, continua.

O ator Wagner Heineck, 46, lembra-se de quando Pazzini o chamava para ir a um tambor de crioula ou um bumba meu boi em comunidades da periferia. “Eu sou 20 anos mais jovem e ele me tratava com uma igualdade fantástica, mesmo sendo um professor na universidade.”

Além da idade que o coloca dentro do grupo de risco, Pazzini tinha histórico de pneumonia, foi fumante durante 30 anos e há dois colocou um stent após um infarto. “Ele parou de fumar e vinha se cuidando, mas ainda assim era vulnerável. Quando começou o isolamento, ele me ligou chorando dizendo que se ele pegasse morreria”, conta Heineck.

A premonição se fez verdade. O amigo estava ao lado de Pazzini em seus últimos momentos, quando morreu na enfermaria de um hospital particular da cidade à espera de um leito na UTI. Ele diz que a piora em seu estado de saúde foi tão rápida que nem foi possível fazer o teste, mas que a médica garantiu que era coronavírus pelos exames.

Para a família, a notícia foi um choque. “Não sabíamos que ele tava com a Covid-19, ele me mandou um vídeo fazendo teatro, daquele jeito engraçado dele. Ele não quis nos preocupar”, conta Andrea Frasato.

Com mais dois amigos, Heineck fez uma live do enterro para que a família pudesse acompanhar. Além da mãe, ele deixa a irmã Aparecida de Lurdes, a Cidinha.

O reitor da universidade, Natalino Salgado, planeja terminar as obras do prédio de artes ainda neste ano e deseja batizá-lo em sua homenagem. A ideia precisa ser aprovada pelo departamento, mas Salgado acredita que será bem recebida já que ele era muito querido dentro da instituição.

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