Descrição de chapéu cracolândia

Difícil acrescentar alguma coisa, diz padre Júlio Lancellotti sobre prêmio de direitos humanos

Conhecido por seu trabalho junto à população de rua, Júlio Lancelotti critica ações do poder público na Cracolândia, em SP

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São Paulo

Padre Júlio Lancellotti, 71, demonstrou sentimentos contraditórios sobre ter recebido o 7º Prêmio Dom Paulo Evaristo Arns, homenagem promovida pela Prefeitura de São Paulo desde 2014.

A contradição que ele aponta é que não existe paridade entre o reconhecimento de seu trabalho junto à população de rua e a importância que o poder público dá a esse mesmo tema.

O padre Julio Lancellotti durante partilha para necessitados na paróquia São Miguel Arcanjo, na Mooca
O padre Julio Lancellotti durante partilha para necessitados na paróquia São Miguel Arcanjo, na Mooca, em junho - @padrejulio.lancelotti no Instagram

"É difícil imaginar que esse prêmio possa trazer alguma coisa. Vou recebê-lo, e me toca recebê-lo em um momento em que o poder público está tendo ações tão violentas contra a população de rua", diz citando as operações policiais que atingem os dependentes químicos da Cracolândia, em ações coordenadas pela prefeitura e pelo estado.

Lancellotti diz que o que está em jogo na região é uma política de valorização imobiliária. "É difícil imaginar que esse prêmio possa trazer alguma coisa. Mas espero que ele represente também o compromisso do poder público e da população [com a situação dos moradores de rua]".

​Nesta edição, Lancellotti recebeu um número recorde de indicações, 15.598 de um total de 16.643, em um processo feito por meio de um edital de chamamento público, com um formulário online aberto à sociedade civil. Com base nas indicações, o Comitê Municipal de Educação em Direitos Humanos elege uma lista tríplice, que é enviada ao prefeito para a escolha final.

Em outubro, Lancellotti recebeu uma ligação do Papa Francisco, que pediu para que ele não desanime e continue ao lado dos pobres. O design do troféu que ele recebe foi criado pela artista plástica Tomie Ohtake (1913-2015). A homenagem acontece nesta sexta-feira (11) como parte do Festival de Direitos Humanos, no auditório da Secretaria de Justiça do Estado, às 15h.

Em entrevista à Folha, Lancellotti chorou, principalmente ao relembrar da figura de Dom Paulo Evaristo Arns. Ele conta que foi uma das últimas pessoas a visitar o arcebispo de São Paulo e cardeal nomeado pelo Papa Paulo VI, que ficou conhecido por denunciar os abusos do regime militar. Na ocasião, já sabendo da iminência de sua morte, Lancellotti beijou a mão do cardeal e disse "Dom Paulo, o povo da rua agradece a você". Dom Paulo Evaristo morreu no dia seguinte, em 14 de dezembro de 2016.

Segundo Lancellotti, desde o início da pandemia do novo coronavírus no país, a população de rua cresceu.

Ele conta que no Centro Comunitário São Martinho de Lima, onde trabalha para na distribuição gratuita de café da manhã para a população carente, viu o número de pessoas atendidas dobrar de 4.000 (antes da pandemia) para 8.0000 (já nos primeiros meses do início do isolamento social determinado por decreto de calamidade pública pelo estado e as restrições ao comércio de rua).

Veja outros vencedores do Prêmio Dom Paulo Evaristo Arns

2014: Frei Betto
2015: Luiza Erundina
2016: Padre Jaime Crowe
2017: Mara Gabrilli
2018: Paulo Pedrini
2019: Margarida Bulhões Pedreira Genevois
2020: Padre Júlio Lancellotti

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