A avenida Paulista fechada aos domingos, na região central de São Paulo, foi o maior palco do músico inglês Peter Hossell.
Com sua gaita e voz potente, ele parava o trânsito —de pedestres, que logo se achegavam para escutar um blues raiz.
Com a formação brasileira, que durou dez anos, o cantor se apresentou ao lado da Pete Hassle & Screw’d Blues Band em bares paulistas e, mesmo sem falar português, fez muitos amigos. Um deles, o guitarrista Guilherme Mendonça, conhecido como Ziggy.
“Tocar na Paulista foi uma das melhores coisas que fizemos. A primeira vez que contei ao Peter que iríamos tocar na rua, ele torceu o nariz”, conta Ziggy rindo.
“Porém, no momento em que ele abriu a boca na rua, e o povo passou a se aglomerar para ouvir aquela voz, passamos a estar lá praticamente todo domingo. E o público cada vez maior.”
Mas Peter também participou da história do rock inglês ao abrir o histórico show dos Rolling Stones do Hyde Park, em Londres, em 1969, em homenagem ao criador da banda, Brian Jones, que morrera dias antes. O público: 500 mil pessoas.
Anos depois, Peter conheceu e se apaixonou por Sueli Vieira Marçal, uma brasileira que encontrou em Londres, onde nasceu. E em 1998 eles se casaram e, no ano seguinte, Peter se mudou para São Paulo.
“Ele sempre foi apaixonado por blues. Divertido e supercarismático, tinha um coração bom. Foi parte da minha vida por 12 anos. A última vez que o vi foi em 2017, no casamento do meu filho, que ele ajudou a criar e deu até seu nome”, afirma Sueli, que hoje vive na Austrália.
Diego Marçal Hossell fala com carinho daquele que ele chama de pai.
“Eu não tinha registro de pai. A primeira vez que tive uma figura paterna foi aos 12 anos, quando conheci o Peter. Só boas lembranças. Ele cantou ‘Mercedes Benz’, da Janis Joplin, no meu casamento. Foi lindo.”
Sobrinho de Peter, Martin Hossell lembra a paixão do tio pelo blues. “Era um cara engraçado que gostava de tocar gaita”, escreveu em inglês, por mensagem.
Segundo o Diego, Peter cursou paleontologia em Londres, mas não concluiu a faculdade. Apesar disso, descobriu um fóssil que está no Museu de História Natural de Londres, exposto com seu nome.
Ele estava internado desde outubro por complicações de uma infecção bacteriana e um diabetes recém-descoberto.
Peter morreu no domingo (6), seu dia favorito para a música, aos 69 anos, e seu corpo foi cremado. Deixa amigos, os sobrinhos ingleses Martin e Vicki Carr, a ex-mulher, o filho e o neto, além de uma legião de fãs.
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