PM quebra e apreende celular usado em reportagem, dizem jornalistas do Rio

Repórteres do jornal comunitário A Voz das Comunidades registravam operação no Complexo do Alemão

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Rio de Janeiro

Um cinegrafista e uma repórter de A Voz das Comunidades, no Complexo no Alemão, afirmam que policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) agiram com truculência contra a equipe do jornal em operação no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio.

A comunidade registrou um intenso tiroteio na manhã desta quarta-feira (13), assustando moradores da região. Nas redes sociais, há relatos de tiros e explosões de granadas em diferentes pontos da comunidade.

Segundo Rene Silva, fundador e editor-chefe do jornal comunitário, o repórter cinematográfico Renato Moura e a repórter Amanda Botelho acompanhavam a operação policial.

PM quebra e apreende celular usado em reportagem, dizem jornalistas
PM quebra e apreende celular usado em reportagem, dizem jornalistas - A Voz das Comunidades / Divulgação

Os PMs teriam revistado Moura e quebrado o celular utilizado por ele para reportagens. O aparelho era um iPhone X adquirido a partir de doação.

“Enquanto um policial falava, o outro veio por trás e puxou o celular do bolso do Renato, jogou no chão repetidas vezes, pisando, destruiu tudo e levaram a carcaça”, contou Botelho. Segundo a repórter, a confusão começou quando os PMs tentavam remover mototaxistas da região. Nesse momento, Moura filmou a atuação dos policiais.

“O celular foi jogado no chão e pisoteado por um dos policiais. Eles também falaram que 'o Voz' só fala mal da polícia para ganhar fama”. Foi uma situação lamentável. Vamos processar a PM e pedir a reparação do celular que, além de quebrado, foi apreendido”, afirma Rene Silva.

O jornal Voz das Comunidades foi fundado há 15 anos. A ocorrência desta quarta-feira foi a segunda envolvendo a PM e a cobertura do jornal no Complexo do Alemão. Em 2016, Silva e Moura, que são irmãos, foram detidos por desacato e desobediência também durante uma ação da Polícia Militar. A ocorrência, porém, não teve prosseguimento jurídico.

A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) emitiu nota repudiando a abordagem violenta da PM. E destacou que egistro de uma abordagem policial por foto ou vídeo é previsto pelo ordenamento jurídico brasileiro.

“É inadmissível que as forças de segurança do Rio ainda não tenham percebido a importância do trabalho de jornalistas que estão nas favelas cariocas cobrindo a situação da população vulnerável e exposta à violência diária”, diz trecho da nota.

A Abraji informou ainda esperar que o Comando da Polícia Militar do Rio de Janeiro e o governador em exercício, Cláudio Castro (PSC), expliquem à sociedade com que base legal os PMs podem destruir o patrimônio privado de um coletivo de jornalismo independente.

Outro lado

De acordo com a Secretaria de Estado de Polícia Militar, os policiais militares faziam o policiamento na localidade conhecida como Área 5, quando encontraram homens armados que fizeram disparos de tiros.

A PM informou ainda que houve reação ao ataque criminoso. Um fuzil calibre 556 foi encontrado e apreendido no local. Segundo a PM, até o início da tarde, não houve prisões ou feridos.

Em relação às acusações de ação truculenta, a PM informa que, segundo os policiais militares, houve discussão com integrantes do jornal A Voz das Comunidades, envolvendo possível exposição da imagem dos policiais que fizeram a ocorrência.

“Isto representou uma ameaça para os agentes, que retiveram o celular que fazia a filmagem", informou a Polícia Militar. A Polícia Civil investiga o caso. A Coordenadoria de Polícia Pacificadora também irá apurar o caso em conjunto com a Corregedoria.

Ainda por meio de nota, a Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que reitera seu compromisso com a apuração dos fatos e sua consideração para com os profissionais da área de comunicação

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