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Procon de SP quer central de emergência de bancos para combater quadrilha do 'limpa-conta'

Telefone possibilitará bloqueio imediato de contas bancárias após extravio de celular; definição pode ocorrer nesta quarta

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São Paulo

Para tentar conter o aumento de casos de fraude bancárias após o furto de celulares, crimes praticados pelas chamadas quadrilhas “limpa-conta”, o Procon SP vai exigir de bancos e empresas de telefonia a criação de centrais de emergência para o bloqueio imediato de contas após o extravio de aparelhos.

A ideia, segundo a Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor, é a criação de serviço gratuito, com números de telefones de fácil memorização (111, por exemplo) e que o atendimento seja feito quase instantaneamente, para evitar que os criminosos consigam limpar a contas bancárias antes que as vítimas comuniquem o crime.

Conforme série de reportagens publicadas pela Folha, grupos de criminosos têm furtado celulares em São Paulo com o objetivo de fraudar contas bancárias. Em dois casos localizados pela Folha, os criminosos conseguiram invadir os aplicativos e limpar as contas em menos de uma hora, segundo as vítimas.

Caso do músico Jorge de Godoy Monteiro, 30, que teve duas contas bancárias invadidas antes mesmo de conseguir falar com o banco para solicitar o bloqueio delas. “Limparam minha conta antes mesmo de eu conseguir falar na central de atendimento”, diz músico, cliente do Santander e do Inter.

A definição do modelo a ser adotado deve ocorrer nesta quarta-feira (23) em reunião de emergência marcada pelo Procon com representantes de bancos, empresas de telefonia e fabricantes de aparelhos celulares (como Apple).

“Nós exigimos que a instituição bancária, o banco, que a operadora de telefonia [celular], e plataformas Google ou Apple, instalem um centro de operações de atendimento que imediatamente bloqueie a conta bancária, a linha telefônica e apague todas as mensagens das plataformas”, disse o diretor-executivo do órgão, Fernando Capez.

mesas cheias de celulares roubados
Celulares apreendidos pela polícia de SP na região central da capital com suspeito de receptação - Divulgação/Polícia Civil

Ainda segundo o diretor, além da central de emergência, os bancos e empresas terão de fazer campanhas ostensivas informando os seus clientes sobre os riscos de fraudes após o furto do celular.

“Vamos exigir que elas façam informações ostensivas das cautelas que precisam ser tomadas. Porque o sujeito que não coloca senhas está sofrendo fraudes bancárias em cinco minutos. Se colocar senha [de dupla verificação], vai dar mais trabalho para o criminoso", disse Capez.

O Procon deve responsabilizar as empresas e bancos caso haja recusa de implementação dessas medidas apresentadas na reunião.

Procurada, a Febraban informou que “está mantendo contato com o Procon-SP para fornecer todos os esclarecimentos necessários”.

Além dos números de telefones –cada banco e empresa de telefone terá seu próprio número–, o Procon quer criar um dispositivo no próprio site da fundação para que, por ali mesmo, a vítima consiga fazer o bloqueio de todos os bancos e empresas de uma só vez, com a garantia do órgão.

Para evitar que esse bloqueio seja feito por terceiros de maneira indevida, o operador do banco ou empresa de telefonia fará perguntas que, em tese, são de domínio apenas do cliente. “O único inconveniente será a pessoa ter que desbloquear depois”, afirmou o diretor.

Capez afirmou ainda que, em reunião com a Febraban, recebeu informações de que essas quadrilhas que atuam na invasão de celulares e aplicativos bancários não são, ao contrário do que se imaginava, um exército de hackers, mas, sim, de criminosos que atuam para desvendar senhas frágeis –muitas vezes combinações numéricas que utilizam datas de aniversário do próprio usuário.

“Se não for a data de nascimento, ele vai entrar em outros aplicativos que você tem, como Instagram, Facebook e Twitter."

Muitas vezes, segundo ele, essas informações estão em telefones da Apple em um espaço reservado para informações médicas. Por isso, ele afirma que fazer uso de senhas mais elaboradas e, também, de dupla verificação é importante.

“Sem senha de desbloqueio, sem um desbloqueio em duas etapas, a pessoa corre o risco de ter sua vida financeira devassada”, afirma.

furto de celular
O músico Jorge de Godoy Monteira, 30, tem o celular furtado por ciclista; criminosos invadiram contas bancárias e levaram dele R$ 15 mil - Reprodução Câmera de Segurança

Em reportagens anteriores, os bancos envolvidos em fraudes afirmam que seus aplicativos são seguros e que não há registro de invasão. Afirmam ainda que o acesso aos aplicativos só é possível com a senha, que é de responsabilidade do cliente de banco. Esse é um argumento utilizado por alguns bancos para não restituírem os valores desviados por criminosos.

Policiais civis ouvidos pela Folha afirmam, porém, que nem todos os casos são feitos dessa forma e que as fragilidades do sistema ainda estão sendo analisadas.

Segundo Gustavo Monteiro, diretor da AllowMe, empresa especializada em proteção de identidades digitais, ainda há dúvidas sobre onde está o problema nos casos de fraudes mais sofisticadas, realizadas com aparelhos travados e com senhas robustas.

“É difícil afirmar de maneira categórica. Os aplicativos, de maneira geral, são sistemas vivos e você está sempre fazendo atualizações e, consequentemente, pode, em alguma dessas atualizações, vir junto alguma vulnerabilidade.”

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