'Como imigrante africano, já vivi coisas piores que esse vírus', diz poeta angolano

Há cinco anos no Brasil, Ermi Panzo começava a se firmar no país quando veio a pandemia

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São Paulo

Em depoimento à Folha, o poeta, coreografo e ativista angolano Ermi Panzo, 30, fala sobre como a pandemia mudou a sua forma de trabalhar e se de conectar com outras pessoas.

Estou há cinco anos no Brasil, isso é pouco para um imigrante. Estava começando a ganhar um pouco de estabilidade na vida quando veio a pandemia. Vim para cá não só para sobreviver, mas também para fazer coisas grandes.

Esta catástrofe da Covid atropelou tudo o que estava em andamento, cortou muitas das minhas esperanças. Foram praticamente dois anos sem trabalho. Pensei em voltar ao meu país ou ir para outro lugar, mas não era possível.

Isso acabou me fazendo ir atrás das coisas de uma maneira que eu não ia antes, ter muito mais perseverança.

Eu estava em uma fase boa antes da pandemia, com planos de juntar dinheiro e mandar para minha família em Angola. Meu trabalho começou a ser conhecido internacionalmente, mas de repente não dava mais para viajar.

Aí, foram surgindo os eventos online. Para mim, foi um aprendizado. Conheci novos projetos ligados à literatura e à cultura africana e afrodiaspórica. Fui fazendo contatos, tendo novas ideias e descobrindo novas formas de realizar meus projetos.

Participei de um evento virtual da Biblioteca Mário de Andrade que conecta artistas e ativistas imigrantes com pensadores brasileiros. Também estarei em uma conversa virtual no Festival de Poesia de Lisboa. Eu já tinha sido convidado para a edição presencial desse festival, que foi cancelada.

Então, tem um lado bom, de poder participar mesmo a distância. Mas não é a mesma coisa que estar lá e conversar com as pessoas, abrindo meus horizontes e minha rede de contatos. São os impactos da pandemia na minha vida profissional.

Na vida pessoal, penso que eu, como imigrante africano, já venho de um processo histórico calamitoso, com guerra civil e grandes pandemias. Para mim, não é tão assustador esse vírus. É mais um problema, já saímos de coisas piores.

Sabemos que, nestes momentos, o autocuidado é fundamental, porque é uma forma de garantir não só a sua sobrevivência, mas também a de seus ancestrais.

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