Descrição de chapéu Obituário José Roberto Barreto Filho (1958 - 2021)

Mortes: Referência na cardiologia, levou jiu-jítsu a Brasília

José Roberto Barreto Filho liderou implante de válvula aórtica pioneiro no DF

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Rio de Janeiro

Parar nunca foi uma opção para José Roberto Barreto Filho. Prova disso é que, mesmo sabendo que o câncer no pâncreas já havia se espalhado para o fígado, passou 12 dias passeando por Portugal e França poucas semanas antes de a doença se agravar, no último dia 23.

A viagem foi a despedida de uma vida que ele levou também nesse ritmo. Aos 63 anos, saía todos os dias para correr, atender seus pacientes e cuidar da mãe acamada em Brasília, onde morou a maior parte do tempo.

Nasceu no Rio de Janeiro de São Cosme e Damião, os santos protetores das crianças que o salvaram, segundo a crença de sua avó, quando era bebê e chegou próximo à morte pela primeira vez por uma fortíssima intolerância a lactose.

Homem branco e forte sorri, de camiseta branca
José Roberto Barreto Filho (1958-2021) - Arquivo pessoal

Daí herdou a tradição de distribuir doces a meninas e meninos todo 26 ou 27 de setembro. O costume era um exemplo de como se doava aos outros, diz a irmã mais velha, Tereza Cristina Barreto, 65. "Sempre achei o Zé Roberto um ser humano melhor do que eu", se emociona.

Depois deles vieram mais dois caçulas, com os quais passou parte da adolescência em Fortaleza porque o pai educador foi convidado para dirigir a escola técnica do Ceará. Mais tarde, os quatro filhos se formariam na Universidade de Brasília.

Já cardiologista, José Roberto somou ao currículo uma especialidade em arritmia cardíaca em Barcelona, entre diversos cursos, e em 1989 recebeu uma medalha de Honra ao Mérito da Presidência da República por sua excelência profissional.

Atualmente presidia o CTCV (Centro de Tratamento Cardiovascular) do Hospital Brasília, além do consultório particular. Comandou o primeiro implante por cateter da válvula aórtica (que controla a saída de sangue do coração) no DF, permitindo tratamentos menos invasivos.

Também foi pioneiro em outra área: o jiu-jítsu. Junto com o tio, o mestre Sérgio Barreto, foi responsável por difundir a arte marcial na região na década de 1980. Ensinaram a luta para a guarda presidencial, membros da Polícia Federal e, depois, criaram o Centro de Treinamento Barreto.

Do primeiro casamento deixou uma filha, hoje com 27 anos, e recentemente vivia uma história de amor improvável. Há quatro anos, reencontrou uma antiga namorada da infância no Rio, o que o fazia ir e vir entre a capital fluminense e o planalto central.

Outra fonte de animação vinha sendo a construção de alguns chalés em Alto Paraíso de Goiás, cidade na qual costumava passar nas trilhas pela Chapada dos Veadeiros. Encontrava paixão ainda na sua biblioteca e na cozinha, na qual a especialidade era o bacalhau.

Uma inflamação no pâncreas o fez ser internado um dia depois de voltar da Europa. Consciente e sereno, já havia resolvido todas as burocracias em vida e pediu para ir para casa. Ensinou até os últimos momentos: "Estou pronto, Tininha", disse à irmã na última conversa.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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