Frente fria quebra onda de duas semanas de calor extremo no RS

Previsão diz que massa de ar polar deve baixar os termômetros nos próximos dias

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Porto Alegre

Nas últimas duas semanas, algumas cidades gaúchas viram com frequência os termômetros encostarem ou passarem dos 40ºC. Em outras, como Porto Alegre, ainda que o registro se mantivesse alguns graus abaixo dessa marca, a sensação térmica a ultrapassava. O calor extremo virou rotina até nas madrugadas.

A máxima de 2022 no estado, até o momento, foi registrada no último domingo, em São Luiz Gonzaga, que chegou 42,2ºC —a temperatura mais alta já registrada no Rio Grande do Sul, desde o início das medições, segue sendo a marca de 42,6ºC, em Jaguarão, na fronteira com o Uruguai, em 1943, segundo dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).

A chegada de uma massa de ar polar, porém, deve amenizar os próximos dias para os gaúchos, segundo meteorologistas, a partir desta quinta-feira (27). A previsão também aponta que a transição possa trazer temporais à região.

Onda de calor fez cidades do Rio Grande do Sul registrarem temperaturas recordes em janeiro de 2022; a capital gaúcha chegou a ser a mais quente do país - Daniel Marenco/Folhapress

"Primeiro vem a chuva, os temporais, porque vamos ter um grande contraste de temperatura, vai ter essa troca de massas de ar —sai o ar quente, escaldante, e entra em cena o ar frio. O que vai provocar queda na temperatura é a massa de ar frio que vem atrás da frente fria. Nos meses de inverno, ela traz geada, neve, no verão, traz o refresco", explica Estael Sias, da MetSul.

Ela afirma que a onda de calor que atingiu o estado, parte de Santa Catarina, além dos vizinhos, Argentina, Uruguai e Paraguai, é histórica pela extensão, longevidade (15 dias) e pelos recordes quebrados no período.

A elevação na temperatura foi resultado da combinação entre estiagem severa, segundo ano consecutivo de fenômeno La Niña e ambiente seco no solo, na vegetação e no nível dos rios. O aquecimento, por sua vez, favorece o tempo seco.

"É um fenômeno alimentando o outro, que vai culminando nesse padrão extremo de calor, de aquecimento, de desconforto. No início da onda de calor, a gente chegou a ter índices de umidade relativa do ar abaixo de 10%. Depois, entrou o ingrediente umidade, trazendo uma sequência de vários dias com tempestades em algumas regiões", diz ela.

Daniela Freitas, da empresa Climatempo, explica que o bloqueio que manteve a onda de calor neste mês no Rio Grande do Sul e em outras áreas próximas funciona como uma tampa, impedindo que frentes frias avancem na região e provoquem chuvas. Algumas avançaram pela costa, porém, não tiveram força suficiente para ultrapassar o bloqueio.

"Essa frente fria agora é bem mais forte, ela consegue empurrar, desconfigurar essa massa, quebrar a barreira do bloqueio, vai provocar chuvas nos próximos dias, de forma considerável, principalmente quarta e quinta. Pode provocar transtornos em centros urbanos e não se descarta a possibilidade de vir com granizo", afirma ela.

Os efeitos, no entanto, não devem ser duradouros, com previsão de aumento de temperatura novamente a partir do fim de semana. Algumas regiões podem chegar a ter máximas perto dos 40ºC, mas Freitas diz que fevereiro não terá nova onda de calor.

"Calor é comum para a época, estamos no verão, essas pancadas de chuva no meio de tarde, início de noite. Para o mês de fevereiro, não estamos falando em onda de calor", afirma.

A estiagem, que contribuiu para as máximas históricas no Rio Grande do Sul, atingiu mais de 253 mil propriedades rurais —nas lavouras de milho, as mais atingidas, são 93 mil produtores com prejuízos, no cultivo da soja, 82 mil devem ter redução na safra.

A falta de chuvas no estado deixou ainda cerca de 21 mil famílias com dificuldade de acesso à água, os dados são de um levantamento feito pela Emater-RS, divulgado na segunda-feira (24).

Até esta quinta, 358 municípios gaúchos decretaram situação de emergência, no período 2021/2022, de acordo com a Defesa Civil estadual.

Estael Sias afirma que as chuvas dos próximos dias podem aliviar a estiagem, especialmente no Paraná, onde os volumes de precipitação podem ser mais altos, mas explica que ela não deve ser revertida.

"Longe disso, em fevereiro e março, Santa Catarina e Rio Grande do Sul devem ter escassez de chuva ainda importante, que deve se manter nos próximos meses de verão", aponta.

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