Descrição de chapéu Obituário Emair Nunes de Mattos (1933 - 2022)

Mortes: Educadora, entregou-se com amor e afinco ao ensino público

Emair lecionou no ensino fundamental da rede pública de ensino em São Paulo

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São Paulo

A professora Emair Nunes de Mattos foi vítima do machismo desde pequena. Rejeitada pelo pai por ter nascido mulher, morou até 13 anos de idade com o avô materno, Francisco Antunes Garcia.

Ele tinha uma fazenda no limite entre Espírito Santo do Pinhal e Itapira (a 189 e a 164 km da capital paulista, respectivamente), cidade natal de Emair.

Após perder o avô, de volta ao sítio onde morava a família, o pai a pôs para trabalhar em seu armazém por causa de sua habilidade com contas. Lá, voluntariamente, começou a utilizar um outro talento que já aflorava: o de alfabetizar as pessoas.

O pai não permitiu que continuasse a estudar por ser mulher.

Emair Nunes de Mattos (1933-2022) e o filho César Augusto Sartorelli
Emair Nunes de Mattos (1933-2022) e o filho César Augusto Sartorelli - Arquivo pessoal

Emair só terminou os estudos como normalista (mulheres que cursavam o Normal com habilitação para o magistério nas séries iniciais do ensino fundamental) em 1961, já casada com João Sartorelli (1933-2005).

No ano seguinte, mudou-se para a capital paulista e tornou-se professora da rede pública. Começou em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, e depois passou por escolas de São Miguel Paulista, Penha e Cangaíba, na zona leste da capital.

Formada em letras, chegou a lecionar no Liceu Coração de Jesus por curto período. "Eles não precisam tanto de mim", afirmou ao justificar o motivo de sua saída da rede privada de ensino. Apaixonada pela profissão, Emair era uma educadora dedicada e disciplinada.

Dona de personalidade marcante, gênio forte e muito determinada, a professora viveu à frente do seu tempo.

"Sempre muito atuante, questionava os padrões da feminilidade. Por exemplo, ela andava de calça comprida quando não era bem visto. Ela dizia que era muito pior andar a cavalo de saia. Foi a primeira mulher a trabalhar na família. Minhas tias começaram a trabalhar nos anos 1970. Quando tinha greve dos professores, ela entrava e brigava por salário. Não era politizada, mas defendia seus direitos", conta o professor universitário César Augusto Sartorelli, 60, seu filho.

Emair Mattos Sartorelli morreu dia 22 de fevereiro por complicações de pneumonia bacteriana. Deixa seis filhos, três genros, duas noras, quatro netos e quatro irmãos.

"Ela ensinou a todos que o mais importante é quem você beneficia pelo caminho da vida", diz César.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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