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Estudante relata assédio na USP durante apagão de quase 24 horas

Jovem teve de caminhar no escuro por 1,5 km após queda de energia; universidade nega que falta de luz seja comum

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São Paulo

Uma estudante da USP relatou ter sido assediada no campus durante um apagão que atingiu parte da universidade no último domingo (8) e durou quase 24 horas. Halley Becegato, 25, conta ter sido abordada por um homem próximo ao prédio da FEA (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária).

"Ele disse para a gente aproveitar que estava escuro, que ninguém veria, disse para sentir ele. Quando ele falou sobre o órgão sexual dele eu comecei a correr", relata a estudante de ciências moleculares.

Jovem caminha no campus da USP, na zona oeste de São Paulo.
Jovem caminha no campus da USP, na zona oeste de São Paulo. - Bruno Santos/Folhapress

Becegato diz que problemas de falta de energia são comuns no Crusp, moradia universitária onde ela vive, e se repetiram nesse fim de semana. Precisando trabalhar e estudar para uma prova, ela relata ter ido ao IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) para usar o laboratório de informática. "O prédio tem equipamentos que não podem ficar desligados, por isso tem gerador e sempre tem energia", diz.

O trajeto entre o Crusp e o IAG é de cerca de 1,5 km pelo caminho mais rápido e passa pela FEA.

Ao terminar os estudos e trabalho, a estudante deixou o IAG e fez o trajeto de volta ao Crusp. Àquela altura, passava das 18h20 e ela percebeu que a parte do campus que podia ver estava sem energia elétrica.

"Eu já não conseguia enxergar quase nada na minha frente. Mal podia ver onde estava pisando", conta. Foi nesse momento que a estudante percebeu que um homem deixava uma travessa e ia em sua direção. "Ele me chamou e eu comecei a andar mais rápido." Ao correr por medo de que o homem tentasse estuprá-la, só parou ao chegar ao Crusp.

Becegato compartilhou seu relato em uma série de publicações no Twitter. A estudante divulgou ainda dois vídeos nos quais mostra parte da sua caminhada no campus durante o apagão.

Ao procurar a base da Polícia Militar mais próxima, foi orientada a registrar um boletim de ocorrência, mas ouviu dos agentes que sem descrição física do homem não seria possível fazer muita coisa. "Eu desisti, porque não dá vontade [de denunciar]. A polícia não liga muito para assédio contra mulheres", afirma.

"Sinceramente, nunca adianta, você nunca sabe que retorno vai ter, não vão se movimentar para tentar te fazer sentir mais segura", diz a estudante.

Procurada pela Folha, a USP disse que não há registro na Guarda Universitária sobre o ocorrido, mas que entrou em contato com a estudante através da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento e a Superintendência de Prevenção e Proteção Universitária. Becegato, porém, afirma o registro foi feito.

Em nota, a universidade afirmou ainda que a falta de energia foi causada por um curto-circuito na rede de média tensão, afetando um dos quatro circuitos que atendem o campus das 11h de domingo até a manhã de segunda —no Crusp, a luz voltou apenas às 10h30. A USP nega que a falta de energia no campus seja recorrente.

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