A combinação entre a presença de uma massa de ar polar com uma tempestade relativamente "empacada" no Sul do país é responsável pela onda de frio em boa parte do Brasil, afirmam meteorologistas.
Não é novidade que no outono a chegada de massas de ar polar vindas da região da Antártida derruba temperaturas no Brasil. Mas, neste ano, a presença da tempestade Yakecan criou uma espécie de barreira para o ar frio, deixando-o de certa forma aprisionado dentro do país, afirma a meteorologista Josélia Pegorim, da Climatempo.
Inicialmente chamada de ciclone, Yakecan foi reclassificada como tempestade subtropical pela Marinha na segunda-feira (16), quando a Defesa Civil Nacional emitiu alerta sobre o fenômeno.
Ambos —tempestade subtropical e ciclone— são sistemas de baixa pressão atmosférica que se movimentam em sentido horário no Hemisfério Sul, mas a magnitude das tempestades é maior. A denominação subtropical se refere à temperatura, que é maior no núcleo do que na atmosfera ao redor dele.
O comportamento pouco usual de Yakecan, ao se mover muito lentamente, intensifica e prolonga os efeitos especialmente no Sul e no Sudeste, acrescenta o professor Ricardo de Camargo, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosférias (IAG-USP).
Ele explica que a Yakecan está, de certa forma, "estacionada" ao sul do país devido a características da configuração atmosférica. É claro que a palavra "estacionada" é quase uma espécie de licença, porque uma massa de vento obviamente não fica parada.
O que ocorre com a Yakecan, de fato, é que ela está se movendo mais lentamente que o padrão. Com isso, diz Camargo, acaba por interagir bastante com o oceano, que fornece vapor de água que, por sua vez, se transforma em nuvens.
Os efeitos dessa configuração meteorológica peculiar no país vão desde a chuva de granizo que aconteceu no começo da semana no Rio de Janeiro até os ventos mais intensos no Sul, mas sentidos também, por exemplo, em São Paulo, e o frio acima da média em Brasília, por exemplo.
No Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), meteorologistas ressaltam que o frio em si não é atípico, já que uma característica do outono é justamente a presença de temperaturas mais baixas.
Para Andrea Ramos, do instituto, a situação é atípica pela duração: massas de ar frio costumam permanecer por cerca de três dias, mas o vento gelado não deve se dissipar antes do final de semana.
Ela e Mamedes Luiz Melo apontam também a influência do fenômeno La Niña, que esfria as águas do Oceano Pacífico e muda o padrão de ventos na região, antecipando as frentes frias.
A situação se traduz em frio, chuva e geadas.
A boa notícia para quem não suporta o clima congelante é que o ciclone se afasta cada vez mais na direção do oceano, o que facilitará a dissipação da frente fria —até que venha a próxima.
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