Descrição de chapéu Folhajus

Um ano após chacina em creche de SC, acusado não foi a julgamento

Três crianças e duas professoras foram mortos a golpes de facão; defesa quer exame de sanidade mental

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Curitiba

Cinco balões brancos subiram para o céu de Saudades, cidade no oeste de Santa Catarina, na manhã desta quarta-feira (4). O gesto buscava lembrar das três crianças, uma professora e uma funcionária mortas há um ano a golpes de facão —o homem acusado pelo crime está preso desde a tragédia, mas ainda não foi a julgamento.

"Fizemos uma reza na escola, soltamos cinco balões, simbolizando as vítimas, mas ninguém falou muito", conta Alfeu Schuh, tio de uma das três crianças.

Um ato ecumênico em lembrança às vítimas foi realizado no Centro de Educação Infantil Aquarela, onde aconteceu o crime. Velas, orações e lágrimas marcaram o encontro.

Um grupo de pessoas com balões brancs nas mãos, na frente de uma creche
Cerimônia em memória das vítimas do ataque a Creche Pró Infância Aquarela, em Saudades (SC) - Rádio Nova FM

No dia 4 de maio de 2021, um jovem de 18 anos invadiu a creche e matou as cinco vítimas a golpes de facão. Um outro bebê foi ferido, mas sobreviveu.

Desde a chacina, a cidade tenta voltar ao normal, mas as marcas do crime ainda estão presentes.

"Vieram algumas famílias, professores, mas ninguém consegue falar sobre o assunto. É muito difícil quando mexe nesta história. Sabemos a dor delas, pois foi uma tragédia que nunca será esquecida por nenhum de nós", diz Schuh, que também é vereador na cidade.

Ele conta que sua sobrinha, mãe de uma das crianças mortas, não conseguiu mais trabalhar fora e agora tem um salão de beleza na cidade. O pai continua trabalhando como pintor. O casal tem outro filho de dez anos.

O vereador diz que a família do acusado pelo crime era conhecida de todos na cidade e nunca teve problemas com ninguém. "É uma família humilde e tranquila. Foi bem difícil pra eles também, mas voltaram a conviver na sociedade, que não os julgou e os acolheu".

Para tentar amenizar as lembranças, a prefeitura e um grupo de voluntários realizaram reformas em toda a creche.

"Mudamos todo o ambiente, estrutura física interna, criamos um espaço de livre circulação no lugar das salas invadidas, usamos cores mais leves para um ambiente mais acolhedor e para evitar as lembranças terríveis", explica o prefeito da cidade, Maciel Schneider.

Segundo ele, aos poucos a cidade vai voltando a sua rotina, mas medidas de segurança precisaram ser implantadas. "Colocamos sistemas de segurança nas escolas, com catraca eletrônica, vigias, botão do pânico e 24 novos profissionais. Criamos um espaço psicossocial para todos que buscam atendimento psicológico e de assistência social.

Crimes são raros em Saudades, cidade de 10 mil habitantes. "A gente nunca espera uma coisa dessas, ainda mais aqui. É uma situação muito difícil. Estamos todos muito abalados ainda", diz o prefeito.

Saudades tem hoje oito escolas municipais, com 1.132 crianças. Na creche atacada, os alunos têm entre 6 meses e 2 anos. "Esquecer a gente nunca esquece, mas começa a aprender a conviver com a tristeza", afirma Schneider.

O homem acusado pelo crime, Fabiano Kipper Mai, hoje com 19 anos, continua preso. A defesa dele solicitou novos exames de sanidade mental, negados pelo Judiciário. Com isso, ele pode ir a júri popular.

De acordo com o Ministério Público de Santa Catarina, o rapaz, que chegou de bicicleta à escola, entendia perfeitamente o que estava fazendo. "O denunciado era mentalmente capaz, agiu de forma consciente e premeditada e era plenamente imputável, devendo ser devidamente responsabilizado pelo massacre praticado", declara o MP, em nota.

Segundo as investigações da polícia, Kipper planejou o crime por meses e agiu sozinho. Era funcionário de uma empresa local, nunca estudou na creche Aquarela e enfrentava bullying em seu colégio. Na casa dele, a polícia encontrou facas e R$ 11 mil.

O acusado responde processo por cinco homicídios qualificados e 14 tentativas de homicídio por motivo torpe e meio cruel, sem possibilidade de defesa das vítimas. A Promotoria e o Tribunal de Justiça não informaram à reportagem o nome dos advogados do acusado —o processo corre sob segredo de justiça. A reportagem não conseguiu contato com sua defesa.

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