Bandeira do Brasil encalha e frustra ambulantes na Marcha para Jesus

Com sol forte, bonés venderam bem, mas bandeira brasileira, que variava de R$ 25 a R$ 40, não

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São Paulo

A Marcha para Jesus foi uma oportunidade encontrada por ambulantes de São Paulo para faturar um dinheiro extra neste início de mês. A bandeira brasileira, porém, frustrou parte dos vendedores. A reportagem conversou com ao menos 30 deles, que relataram baixa saída do produto.

"Está muito devagar. A crise está feia para todo o mundo ", disse Alexandre Campos, 39 anos, 20 deles como ambulante. "Perguntam o preço, querem tirar foto com a bandeira, mas não levam."

Em sábado de sol forte, os bonés, R$ 20, em média, tiveram mais saída. A bandeira brasileira, com preços entre R$ 25 e R$ 40, empacou.

Fiéis balançam a bandeira do Brasil durante a Marcha para Jesus, em São Paulo - Bruno Santos/Folhapress

A prefeitura formou uma espécie de cordão, com ao menos 40 fiscais, nas esquinas das avenidas Santos Dumont com a general Pedro Leon Schneider, para tentar conter a entrada de vendedores nas áreas próximas ao palco principal do evento.

Uma ambulante com ar de cansada e de pouca conversa tentava faturar algum dinheiro extra conquistando a multidão de fiéis pelo estômago. "Custa R$ 15, moço. Macarrão com frango", respondeu à reportagem, saindo apressada com um carrinho onde levava cerca de 40 marmitas acopladas em suportes de isopor.

À frente da aglomeração, perto do palco, um verdadeiro camelódromo de ambulantes se formou nas pistas interditadas da avenida Santos Dumont, na tarde deste sábado (9).

No varal esticado em via pública, um ambulante fazia propaganda de uma bandeira metade verde e amarela e metade branca e azul, misturando as cores de Brasil e de Israel, com um leão no meio.

Perguntado, o vendedor anunciou que o preço da bandeira dupla baixara de R$ 55 para R$ 45.

Bem mais barato cobrava Jefferson Antônio, 23. Andando os quase 1 km da avenida desde as 11h, ele pedia R$ 30 pela bandeira. Mas isso até o interessado dizer "muito obrigado".

"Por R$ 20 dá para fazer", afirmou. Segundo ele, a bandeira de Israel vendeu mais que a do Brasil.

A enfermeira Cássia Regina Santos, 38, tinha as duas bandeiras amarradas no pescoço –a do Brasil à esquerda, em suas costas, e a de Israel, à direita.

Santos estava sentada em uma grama longe da muvuca. Ela estava com um grupo da zona oeste formado por fiéis da Igreja Universal. No chão, uma toalha e bolsas térmicas com lanches e refrigerantes. "A gente sempre vem", afirmou.

"Sentíamos falta", disse, sobre a mudança da Marcha durante a pandemia.

Perto dali, a desempregada Mônica Santos, 19, oferecia duas garrafinhas de água por R$ 5. "O calor está ajudando, apesar da concorrência. Tem muito ambulante aqui, não tá fácil pra ninguém", afirmou ela, que cantava a letra da música evangélica que vinha das caixas de som.

De Embu das Artes (Grande São Paulo), a dona de casa Silvana Rodrigues dos Santos, 41, da igreja Batista da Promessa, estava assustada com os preços cobrados pelos ambulantes. "Eles aproveitam um evento como esse para faturarem muito", disse. Santos montou um kit comida para a Marcha, com suco de abacaxi, salgadinho de saquinho e bolachas para ela, para a filha, Natália, 12, e para a tia, Ozana, 49. "Só tive coragem para comprar água, R$ 2,50 a garrafinha."

Segundo ela, o gasto no supermercado perto de casa foi de um pouco mais de R$ 10. "Aqui, com isso, dá para comprar só um espetinho de frango", conta. "Os bares, os restaurantes, todo o comércio está fechado aqui por perto. O que nos restam são os ambulantes. Não temos opção. O jeito vai ser voltar daqui a pouco para casa."

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