Incêndio na Unesp em Rio Claro (SP) destruiu amostra de sapo ameaçado de extinção

Direção de Instituto de Biociências afirma que reforma da rede elétrica estava prevista para 2023; causas são investigadas

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Belo Horizonte

O incêndio desta quarta (31) no prédio central do Instituto de Biociências da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Rio Claro, no interior de São Paulo, destruiu equipamentos e um acervo científico utilizado desde os anos 50 para pesquisa e ensino.

Entre as principais perdas está um exemplar conservado em etanol do anfíbio Holoaden bradei, cujo nome popular é sapinho-manicure.

A espécie era abundante na natureza até a década de 1970, mas desapareceu por razões desconhecidas, segundo o professor de zoologia dos vertebrados da Unesp em Rio Claro, Célio Haddad. "Aparentemente foi vitimada por alguma doença involuntariamente propagada pelo ser humano", diz o especialista.

A foto mostra fumaça negra saindo do prédio do Instituto de Biociências da Unesp em São Carlos que pegou fogo nesta quarta (31)
Chamas no prédio central do Instituto de Biociências da Unesp em Rio Claro, nesta quarta (31) - Jornal Cidade de Rio Claro

Ainda não há confirmação de que a espécie tenha sido extinta. O sapinho-manicure, porém, foi visto pela última vez na natureza em 1979, segundo o portal Invivo, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

Outra perda foi uma coleção de obras importadas de Nápoles, na Itália, com fotos e informações sobre animais marinhos. "Era uma coleção zoológica primorosa, envolvendo principalmente animais marinhos mediterrâneos, desde invertebrados, como esponjas, águas vivas e moluscos, a peixes", conta Haddad.

"Os estudantes conseguiam visualizar com facilidade as características dos seres vivos. A perda foi imensa e não conseguiremos repor um material similar nem no médio prazo", lamenta o professor, que deu aula no prédio na noite anterior à do incêndio.

Haddad diz que foram destruídos também esqueletos, conchas, insetos, exemplares empalhados de aves e mamíferos, espécimes de peixes, anfíbios e répteis conservados em etanol reunidos ao longo dos últimos 40 anos.

Ao menos parte do material já pertencia ao Instituto de Geociências da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, criado em Rio Claro em 1958. Transformado em Instituto de Biociências, a escola passou a integrar a Unesp em 1976, ano em que a universidade foi criada.

Entre equipamentos, dezenas de microscópios foram destruídos, segundo o professor, que dá aulas na escola há 34 anos. "Estou desolado e nem sequer sei como farei para continuar ensinando a parte prática. É possível que eu me aposente depois desse episódio. É muito desestimulante ser professor e pesquisador num país que não valoriza o conhecimento", diz Haddad.

O professor afirma acreditar que o incêndio teve início nas instalações elétricas do prédio.

A direção da unidade universitária tinha conhecimento da necessidade de reformas nas instalações da escola em Rio Claro, segundo nota divulgada pela instituição. O texto diz que o processo licitatório para as obras estava sendo preparado.

"A reforma no prédio central do IB (Instituto de Biociências) de Rio Claro, com troca das redes elétrica e hidráulica, estava prevista para ocorrer em 2023 e era uma das principais metas da unidade universitária", afirma a nota.

A Unesp diz ainda que os prejuízos materiais e científicos estão sendo dimensionados e que as causas do incêndio estão sendo apuradas. As aulas no prédio estão suspensas.

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