Naufrágio deixa ao menos 11 mortos no Pará

Embarcação fugia de fiscalização, diz prefeitura; 63 pessoas foram resgatadas com vida

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Eduardo Laviano
Belém

Ao menos 11 pessoas morreram após uma embarcação naufragar na ilha de Cotijuba, em Belém, Pará, na manhã desta quinta-feira (8). Sessenta e três foram resgatadas com vida.

Durante o dia, o governo estadual chegou a anunciar que 14 pessoas teriam morrido, porém, mais tarde, retificou o número.

Ao todo, estima-se que 82 pessoas estivessem na embarcação Dona Lourdes 2, que saiu da Ilha do Marajó, também no Pará, rumo à capital do estado.

De acordo com o governo estadual, o barco pertence à empresa de Meire Ferreira de Souza e, no momento do acidente, era conduzido pelo filho dela, Marcos de Souza Oliveira, 34. A reportagem não conseguiu localizar a defesa deles.

Embarcação auxilia no resgate das vítimas de um naufrágio nas proximidades da praia da Saudade, na ilha de Cotijuba, em Belém - Cotijuba Noticias

A embarcação teria começado a naufragar por volta das 7h30, quando diversos passageiros passaram a entrar em contato com familiares para relatar que a casa de máquinas estava submergindo.

Conforme relatos coletados pela Secretaria de Segurança, a embarcação ficou cerca de uma hora sendo tomada pela água, mas a tripulação afirmou que não havia motivo para preocupação, pois outro baco sendo encaminhado para que os passageiros fossem transferidos. Além disso, teriam recebido a informação de que não precisavam colocar colete salva-vidas.

Por volta das 10h, o barco teria começado a afundar e, cerca de meia hora depois, iniciou-se o resgate. Diversos ribeirinhos da região utilizaram barcos próprios para levar os passageiros até a faixa de areia das praias da Saudade, Vai Quem Quer, Praia Funda e Praia do Amor.

Parentes dos passageiros viveram momentos de tensão.

"Primeiro recebi a mensagem de que parte do motor estava cheia de água. Depois, não recebi mais nada", disse a manicure Kelly da Conceição, cuja mãe estava na embarcação e foi resgatada com vida. "Graças a Deus ela está bem."

"Foi horrível. Aquela incerteza, um monte de foto e vídeo horrível", afirmou Antônio Meireles. O pai também estava entre os sobreviventes.

Moradores organizaram um espaço em um ginásio da ilha para acolher os passageiros resgatados, enquanto parte da população levava doações de medicamentos, de comida e de vestimentas, já que a maioria dos sobreviventes chegava apenas com roupas íntimas.

À tarde, por volta das 16h, a embarcação foi encontrada.

As equipes de resgate e mergulhadores trabalhavam com a possibilidade de corpos terem sido levados pela correnteza para a ilha de Mosqueiro, que também fica em Belém.

A força da correnteza e o nível da maré eram obstáculos na operação de buscas.

Segundo a Prefeitura de Belém, a embarcação Dona Lourdes 2 provavelmente estava fugindo da fiscalização.

A embarcação partiu de um porto clandestino em Cachoeira do Arari, no arquipélago do Marajó, e não possuía autorização para realizar transporte intermunicipal, segundo a Arcon (Agência de Regulação e Controle dos Serviços Públicos do Estado do Pará).

A agência disse que já havia notificado a empresa responsável pelo barco e que um documento foi enviado no dia 3 de agosto pela entidade a fim de solicitar apoio para coibição do serviço e fiscalização da Capitania dos Portos da Amazônia Oriental.

A Capitania dos Portos irá instaurar inquérito administrativo para apurar as possíveis causas e responsáveis pelo ocorrido, disse a Marinha.

O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), afirmou que vai apoiar as famílias no traslado dos corpos das vítimas, bem como nos atendimentos psicossociais.

Dos 11 mortos, nove corpos foram encaminhados para a polícia científica em Belém.

"Como estamos falando de uma embarcação clandestina, não podemos descartar a possibilidade de termos mais passageiros do que o limite", disse o governador.

"A punição exemplar desse episódio dramático em Cotijuba terá certamente um efeito educativo, para que aqueles que continuam atuando de forma clandestina e irresponsável, trazendo transtornos e causando tragédias, não possam mais trabalhar nos rios da Amazônia", acrescentou Barbalho.

De acordo com o governo estadual, a proprietária da empresa foi identificada como Meire Ferreira de Souza. Ela já era investigada por embarcações clandestinas e operações ilegais de transporte fluvial de passageiros.

O filho dela, Marcos de Souza Oliveira, 34, é que estava conduzindo a embarcação.

As informações foram dadas em coletiva de imprensa no fim da tarde.

O governo não disse se Oliveira estava entre os resgatados, mortos ou desaparecidos.

Mãe e filhos estavam sendo procurados para prestar esclarecimento, mas não eram considerados foragidos oficialmente. A reportagem não conseguiu localizar a defesa deles.

Outras duas embarcações da família já haviam sido apreendidas pela Marinha do Brasil antes do acidente.

Em 2017, outro naufrágio no interior do Pará deixou 23 mortos. Dois dias depois, outro acidente semelhante ocorreu na ilha de Itaparica (BA), com 18 vítimas fatais.

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