Descrição de chapéu Obituário Alberto de Souza (1929 - 2022)

Mortes: Massagista do Medeiros fez fama no interior de São Paulo

Alberto de Souza só foi aprender a ler e a escrever já adulto, mas desde jovem teve o dom de tirar a dor das pessoas

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São Paulo

Alberto de Souza sempre foi bom de bola. Não era raro, quando o jogo precisava ser paralisado para o atendimento a alguém que se machucava, numa época em que "valia tudo da cintura para baixo", de tão duro que os jogadores chegavam nos adversários. Como a presença de médico em rachão de fazenda era impensável, o craque do time entrava em ação, mas com as mãos.

"Ele tinha o dom da massagem e endireitava a turma", afirma o filho Mauro de Souza, 68, sobre a habilidade desenvolvida sem estudo algum pelo pai, que só aprendeu a ler e a escrever já depois de casado, e que lhe deu fama.

O massagista Alberto Souza, o Alberto do Medeiros, que morreu no último dia 25 de setembro, em Jundiaí (SP) mostra o cartão de vacina contra a Covid-19 - Arquivo pessoal

Com seu jeitão humilde, Alberto do Medeiros, como ficou conhecido, dava um jeito em dores nas costas de quem tinha ou não dinheiro para pagar.

As longas filas em sua casa no Medeiros, bairro afastado do centro em Jundiaí (a 58 km de São Paulo), se formavam logo cedo. Segundo a família, no auge de seu trabalho como massagista, Souza atendia entre 60 e 70 pessoas por dia.

Nascido na cidade vizinha Cabreúva, a fama percorreu a zona rural da região, onde ele trabalhou como lavrador durante cerca de 20 anos.

E foi para a cidade também, quando fazia passar as dores do diretor de uma metalúrgica, dono da casa em que cuidava do jardim para ganhar um dinheiro extra.

"Ele convidou meu pai para trabalhar na fábrica para cuidar da jardinagem. E construiu dois quartinhos, um para guardar suas ferramentas e outro para fazer massagens", lembra o filho.

Foi a partir daí que começou a atender em casa, quando saía do trabalho. Era comum alguém mais desesperado esperar Souza na porta da metalúrgica e lhe dar uma carona como forma de ser o primeiro da fila.

Com a aposentadoria, passou a se dedicar apenas às massagens, do início da manhã ao escurecer.

No bairro não há que não tenha ouvido falar do dia em que a apresentadora Xuxa Meneghel e três seguranças apareceram na casa do massagista, no fim da década de 1980.

O cantor Jair Rodrigues foi lá três vezes, diz Mauro de Souza, por causa de problemas no nervo ciático. E numa delas saiu rindo com o colar cervical, que tinha no pescoço quando chegou, nas mãos.

Dona Maria Salvador ainda tem guardado os CDs e DVDs que ganhava de Teodoro, da dupla sertaneja com Sampaio, quando o cantor famoso ia lá tratar das dores com seu marido.

Apesar da paixão pelo futebol, Alberto do Medeiros recusou convites para ser massagista de clubes profissionais, até mesmo quando o filho diz que foi sondado pelo São Paulo, seu time do coração.

Religioso, viajava todo ano de excursão para Aparecida. E ajudava os peregrinos do bairro que iam à pé, com dinheiro, antes da caminhada, e com massagens quando "voltavam quebrados" de suas romarias.

Alberto do Medeiros trabalhou até março de 2020, quando a pandemia o forçou a fechar as portas de sua casa. Nos últimos dois meses teve complicações por causa de mal de Alzheimer e morreu no último dia 25 de setembro, aos 93 anos.

Deixou a mulher, o filho, quatro netos, oito bisnetos e o dom para o sobrinho Daniel Paulo de Souza, 50, que estudou, se formou massagista e hoje tem uma movimentada clínica.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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