Prefeitura recebe 1 pedido de tapa-buraco a cada 3 minutos em São Paulo

Aumento foi de 8% no 1º semestre, em comparação com igual período de 2019; gestão atribui alta a maior divulgação de serviço

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São Paulo

A Prefeitura de São Paulo recebeu um pedido de tapa-buraco a cada três minutos no primeiro semestre deste ano. Foram 85.205 chamados abertos por meio do serviço 156, que acolhe reclamações e sugestões da população paulistana. Trata-se de um aumento de 8% em relação a igual período de 2019, antes da pandemia de Covid-19.

A gestão Ricardo Nunes (MDB) credita o crescimento à "maior divulgação do Portal 156".

Buraco no cruzamento entre as ruas Angelo Aparecido dos Santos Dias e Professor João de Lorenzo, na região do Jardim João 23, no Butantã na zona oeste de São Paulo - Rivaldo Gomes/Folhapress

Levantamento baseado nos dados abertos da prefeitura mostra também que a administração municipal levou, em média, dez dias para tapar buracos após a solicitação do 156. O recorte realizado pela reportagem também mostra que 45% dos pedidos feitos pela população são indeferidos pela prefeitura.

Segundo a gestão, "algumas solicitações" são indeferidas por não se tratarem de serviços de tapa buracos, mas referentes a poços de visita danificados, sarjetas, reparos em calçadas, entre outros.

Em outras ocasiões, a prefeitura disse que indeferimentos acontecem também quando a administração municipal entende que o serviço caberia às concessionárias de serviços públicos, como Comgás, Sabesp e Enel, que teriam aberto os buracos.

Há muita variação entre as 32 subprefeituras da capital. Em Perus, na zona norte, por exemplo, leva-se 14 dias para tapar o buraco, após a solicitação. Já em outro extremo, na Cidade Tiradentes, na zona leste, são seis dias.

Também há uma diferença entre o percentual de indeferimentos. Na Sé, região central, praticamente 8 em cada 10 pedidos são indeferidos. Já na Mooca, na zona leste, 1 em cada 3.

Ruas da região do Butantã, na zona oeste, são exemplo de como lugares fora do centro expandido da capital paulista ainda são afetados por pavimento irregular, cheio de buraco.

Diego Annino Araújo, 37, trabalha como a mãe uma floricultura na área da Subprefeitura do Butantã. Ele costuma fazer entregas e os inúmeros buracos atrapalham bastante. "Você sai de um e cai em outro", conta. "O bairro aqui está abandonado", afirma.

Líder comunitário, Claudio Freitas, 50, também reclama. "Infelizmente, isso está acontecendo nos cinco distritos do Butantã. Tenho moto e já mandei para o conserto umas cinco vezes por cair em buraco", diz.

Nos últimos anos, a prefeitura anunciou, por diversas vezes, investimentos em recapeamento, que é substituição do pavimento por completo e com resultado melhor do que simplesmente tapar o buraco —na prática, um remendo.

A administração chegou a explicar que faria uso de "tecnologia europeia", com pavimento que duraria até oito anos. A avenida Braz Leme foi, à época, em 2018, uma vitrine da nova forma de reparar o asfalto. Quatro anos depois, embora ainda com bom estado geral, já apresenta buracos por desgaste em alguns trechos.

Em abril deste ano, em nova investida contra os buracos, a gestão de Ricardo Nunes anunciou um edital de R$ 1 bilhão para recapeamento das ruas da capital paulista.

Professor do IFSP (Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de São Paulo), João Virgílio Merighi afirma que o pavimento é um patrimônio da sociedade e que deve proporcionar segurança, conforto e durabilidade. Segundo Merighi, um trabalho bem feito deve durar no mínimo dez anos.

Para o especialista, é preciso também que o projeto seja assegurado. "A garantia da qualidade sai da assinatura de responsabilidade técnica e deve ser feita pelas empresas de projeto e execução e pela prefeitura, através de seus engenheiros", afirma.

Merighi também diz que o uso de tecnologia europeia, como ressaltado pelo programa Asfalto Novo, não é garantia de qualidade, porque o Brasil é um país de clima tropical. "Esse tema tem sido uma batalha que venho travando no meio técnico e científico desde os anos 2000. Portanto, devemos utilizar tecnologias apropriadas para regiões tropicais. Muitas concessionárias já estão mudando suas rotinas", afirma.

Professor do Departamento de Engenharia de Transportes da USP de São Carlos e especialista em pavimentação, José Leomar Fernandes Júnior afirma que a prefeitura deve exigir serviços de qualidade por parte das concessionárias. "Além de executar corretamente, é preciso ter uma integração entre os setores responsáveis pela pavimentação e pelas redes de água, esgoto, entre outros."

Serviço leva até 48 horas nas principais vias, diz prefeitura

Segundo a administração municipal, foram tapados 94.552 buracos neste ano, totalizando 1.537.798,04 de metros quadrados.

A gestão Nunes diz que as subprefeituras são distintas com relação à circulação e ao fluxo de veículos. Diz também que o tempo médio de atendimento caiu de 121 dias, em 2017, para 8, em setembro deste ano. "Nas principais vias da capital, a operação tapa-buraco é executada em até 48 horas. Estes são os menores números registrados para o serviço na série histórica", diz, em nota.

A Secretaria Municipal das Subprefeituras diz que dispõe de contratos de controle tecnológico, com relatórios sobre matérias-primas e usinagem, funcionalidade do reparo, acompanhamento e extração da estrutura do pavimento já executado. "O asfalto usado na Operação Tapa Buraco é o mesmo das rodovias de São Paulo, eleitas as melhores do país", afirma.

Segundo a prefeitura, as concessionárias também fazem recomposição asfáltica em vias onde executaram serviços. Há um manual com as determinações técnicas para que a execução cumpra o que exige o manual. Em casos de descumprimento, as empresas são notificadas e podem ser multadas.

A prefeitura diz também que as equipes de tapa-buraco foram acionadas para vistoriar os endereços mencionados na região do Butantã e, havendo necessidade, os serviços serão executados. Também fará vistoria na avenida Braz Leme.

A administração municipal cita o sistema Gaia, que faz o mapeamento das condições do pavimento da cidade e analisa a qualidade e conforto das vias em tempo real.

A prefeitura também diz que o sistema Geoinfra detecta falta de nivelamento, entre outros, em serviços executados por concessionárias. "De outubro de 2021 a setembro de 2022 foram 3.650 notificações para a Sabesp, 107 para a Comgás, 37 para Enel e 66 para Telecom", diz.

A administração municipal também afirma que faz o maior programa de recapeamento da história da cidade, com cerca de 1,7 milhão de metros quadrados de vias envolvidas. Diz que usa asfalto de "qualidade superior como o SMA (Stone Matrix Asphalt, composto por polímero e fibra)". "Essa mistura é utilizada na Europa em países como a Alemanha, Suécia e Inglaterra, sendo mais resistente à fadiga", afirma.

A prefeitura diz que faz estudo de avaliação do pavimento e cita a garantia de cinco anos para o serviço executado.

A Enel, concessionária de energia, afirma que realizou 47 obras que necessitaram de abertura e fechamento de valas no primeiro semestre e que segue as diretrizes estabelecidas pela prefeitura.

A Comgás diz que faz a recomposição de todas as intervenções causadas por obras nas vias e passeios e que investe na qualidade do asfalto.

A Sabesp, companhia de saneamento básico, diz que, entre as mais de cem empresas que atuam no subsolo da capital e realizam serviços com aberturas no pavimento, é a com maior estrutura subterrânea. Sobre seu serviço de tapa-buraco, diz que adota as normas da ABNT, aplica asfalto mais moderno e flexível, investe em tecnologia e em fiscalização própria e trabalha em conjunto com a prefeitura em busca de soluções.

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