Descrição de chapéu Natal

Mulher é agredida por vizinhas no elevador e as acusa de injúria racial no RN

OUTRO LADO: defesa nega ter havido ofensas raciais e diz que cena foi uma reação a ameaças contra idosa

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Natal

Uma mulher foi agredida por duas vizinhas perto do elevador no prédio onde moravam na zona sul de Natal, no Rio Grande do Norte. Câmeras internas flagraram a cena, ocorrida em 7 de dezembro. A gerente de vendas Flávia Carvalho, 36, que é negra, diz ter sido xingada de "negra nojenta" e "preta safada" e registrou boletim de ocorrência na polícia contra mãe e filha, brancas, por lesão corporal e injúria racial.

O advogado Fernandes Braga, que representa a pensionista Regina Araújo, 63, e a médica Suedja Araújo, 42, diz que as clientes negam terem usado palavras de injúria racial e que as imagens captadas pelas câmeras foram uma reação a "ofensas e ameaças de agressão" por parte de Carvalho.

cena preto e branco de agressão de mulher contra outra em elevador
Trecho da câmera do elevador mostra agressão de mãe e filha contra vizinha - Reprodução

Imagens da câmera do elevador, sem áudio, mostram mãe e filha batendo na vítima. "Elas diziam que eu ia ter que sair dali, que uma preta safada como eu não merecia morar naquele lugar", diz Carvalho.

Entre as manifestações contra a agressão, governadora Fátima Bezerra (PT) fez uma postagem nas redes sociais dizendo que o caso é "abominável'', que providências estão em curso e "racistas não passarão". Alguns grupos convocaram um ato antirracismo para sexta-feira (16) em frente ao prédio.

Laudo de exame de corpo de delito concluiu que as lesões foram leves. Fotos tiradas pelo empresário Adriano Caetano, seu namorado, mostram machucados e sangue no rosto.

Para Carvalho, o ferimento mais profundo não se vê nas imagens. "Está na alma. De todo mundo que tem a cor da minha pele, que normalmente não tem voz nesse tipo de situação, ou que é visto como o bandido. Mas, dessa vez, não. Vamos fazer o que estiver ao alcance legalmente para que não fiquem impunes."

Segundo ela, os conflitos com a pensionista ocorrem há dois anos e foram agravados após ela ter queixado ao condomínio de barulho no apartamento da idosa —a defesa da pensionista, porém, alega que Flávia é quem fazia barulho.

Um vídeo gravado através do olho mágico do apartamento pela gerente de vendas mostra a pensionista gritando: "Você não é bem vista por nós aqui. Você ultrapassou os limites. Mas se deu mal. [...] Se você chamar para briga vai ter briga, se você chamar para pau, vai ter pau".

Imagem cedida por Flávia Carvalho, 36, após agressão no elevador, em prédio na zona sul de Natal, capital de Rio Grande do Norte
Imagem cedida por Flávia Carvalho, 36, que foi agredida perto de elevador em prédio na zona sul de Natal, capital de Rio Grande do Norte, por mãe e filha - Arquivo pessoal

De acordo com a Polícia Civil, a investigação está em andamento, com testemunhas e investigadas intimadas para serem ouvidas.

O advogado de mãe e filha disse que elas prestarão depoimento nesta semana e negam terem dito palavras apontadas como injúria racial.

"A discussão entre as vizinhas dura dois anos, por causa de barulho provocado pela Flávia, e por esta usar a vaga de garagem sem autorização das minhas constituintes. Nunca houve injúria racial", diz Fernandes Braga.

O advogado afirma que vai exigir que a gerente de vendas apresente provas de injúria, a acusando de "se utilizar da importante bandeira de combate ao racismo para mobilizar a sociedade em prol de satisfação pessoal".

Segundo o advogado, as agressões físicas foram uma reação a "ofensas e ameaças de agressão" que Carvalho teria promovido contra a idosa, e a médica "tomou as dores" da mãe.

O boletim de ocorrência que as duas registraram contra Carvalho, dois dias depois da agressão, cita perturbação de sossego e injúria contra pessoa maior de 60 anos.

O advogado da vítima, Abaeté Mesquita, rebate as afirmações de Braga e declara que, "sob nenhum aspecto, há possibilidade de reduzir o caso a uma simples briga de vizinhas".

"Ao longo dos últimos dois anos o que ficou claro é que as agressoras, incomodadas com a Flávia ocupando um espaço social que, na visão delas, não deveria ser franqueado a pessoas negras, passaram a buscar motivos inexistentes para acusá-la de perturbações, barulhos e uso indevido do imóvel", disse.

Mesquita afirma que o objetivo de mãe e filha "é criar uma cortina de fumaça sobre o que realmente tem relevância jurídica —a injúria racial e a lesão corporal dolosa praticada por duas mulheres brancas contra uma mulher negra".

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