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Garçom negro é vítima de injúria racial no interior do Rio Grande do Sul

Mulher de 57 anos chegou a ser presa, mas acabou liberada; ela também será investigada por ameaça de morte

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Santa Cruz do Sul (RS)

Uma mulher de 57 anos foi presa em flagrante pelo crime de injúria racial contra um garçom negro na última sexta-feira (2), na cidade de Santa Cruz do Sul, a 154 km de Porto Alegre.

Rejane Maus foi liberada por decisão da Justiça do Rio Grande do Sul. Por telefone, a suspeita não quis comentar o caso. "Eu não tenho nada a falar. Vai trabalhar", disse ela à reportagem. Segundo a Polícia Civil, ela ainda não havia constituído advogado até esta quarta (7).

imagem de câmera de segurança no interior de um bar com uma mulher e dois homens, um deles negro
Rejane Maus (de azul), 57, foi presa após injúria racial contra garçom em bar no centro de Santa Cruz do Sul (RS) - Reprodução

O crime é inafiançável e a pena pode variar de 1 a 3 anos de reclusão para a injúria com elementos referentes a raça, cor, etnia, religião e origem.

O episódio foi registrado no dia do aniversário do garçom Paulo Renato dos Santos, 35.

Segundo Santos, antes do início da partida da seleção brasileira na Copa do Mundo, Maus entrou no bar em que ele trabalha, no centro da cidade, e começou a proferir ofensas racistas contra ele, que é negro.

A suspeita chegou a encostar no garçom, que não reagiu e se afastou dela. "Pode chamar a polícia. Esse negão aqui? Eu sou racista? Meu Deus, ele é negão e eu sou branca. Isso é racismo?", disse Maus.

O proprietário do bar e frequentadores acionaram a Brigada Militar, que prendeu Maus em flagrante.

Mesmo dentro da viatura, ela continuou ofendendo o garçom e foi filmada por ele.

"Alguém vai mudar tua cor? Não vai mudar nem a tua nem a minha, diabo", afirmou ela. "Tu vai ver se eu não te mato, desgraça. Tu me acusou de ser racista, é? Tá bom. Tu acha que ser preto é bom, que ser branco é bom? Diabo dos infernos."

Em outro momento, ainda sendo filmada, ela voltou a se dirigir ao garçom: "Tu vai mudar de cor? Tu vai fazer uma plástica?".

Santos foi à delegacia para registrar o boletim de ocorrência contra a mulher. "Tem gente que diz que é mimimi, mas não é. Vou até o final por essa causa."

O dono do bar, Kleber Grutzmann, disse que Maus almoçou no local e começou a xingar Santos por volta das 11 horas.

"Ela já veio um pouco alterada e continuou bebendo. Ela estava sentada quando chamou ele e disse 'negão, vem limpar minha mesa aqui', mas ele engoliu a seco", afirmou Grutzmann. Segundo ele, a mulher ainda importunou um cadeirante.

O garçom afirmou que chegou a ir para um local mais afastado para chorar devido aos insultos. "É surreal, racista ao extremo. Independentemente se ela é doente ou não, isso não se faz."

mulher presa por policial
Rejane Maus, 57, é levada pela Brigada Militar após ofender garçom com termos racistas na cidade gaúcha de Santa Cruz do Sul - Reprodução

Segundo a delegada titular da 1° Delegacia de Polícia de Santa Cruz do Sul, Ana Luísa Aita Pippi, além do crime de injúria racial, Maus também poderá ser investigada por ameaça de morte.

"Ela responderá ao processo em liberdade conforme decisão judicial que homologou o flagrante", afirmou a delegada. O inquérito policial tem 30 dias para ser concluído.

A Defensoria Pública representou a mulher na audiência de custódia. "Embora tenha destacado a total reprovação do ato cometido, o Ministério Público não viu presentes elementos para a prisão preventiva, já que a mulher não representa risco de violência física e não possui antecedentes. Sendo assim, solicitou a liberdade provisória. A Defensoria, que também foi acionada para se manifestar, acompanhou o pedido do Ministério Público", declarou o órgão, via assessoria de imprensa.

Nesta quarta (7), o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (Compir) de Santa Cruz do Sul promoveu um ato público antirracista na Praça Getúlio Vargas, no centro. De acordo com a presidente do Conselho, Vera Lúcia da Silveira, o Compir já recebeu 21 queixas de racismo neste ano.

"Mas não temos poder de polícia, nossa parte é receber essas notificações, orientar as pessoas e dizer que a decisão de judicializar ou não, é da vítima. As pessoas têm medo de ficarem marcadas", disse Silveira.

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