O professor Newton Silveira não era um homem que poupava palavras, especialmente ao discutir a Justiça brasileira.
Seu vocabulário robusto, voz marcante e pronúncia cuidadosa de cada sílaba, como se fosse um narrador esportivo no momento do gol, prendiam a atenção de todos ao seu redor.
Silveira nasceu na cidade de São Paulo em 1939, durante o ditatorial Estado Novo de Getúlio Vargas. Graduou-se em direito pela USP (Universidade de São Paulo) em 1963 e, pela mesma instituição, tornou-se mestre em direito civil em 1980 e doutor em direito comercial em 1982.
Dizia que a partir do momento em que pisara na universidade paulista nunca mais pensou em deixá-la. E a vontade foi realizada.
Professor titular por décadas da disciplina de direito comercial para graduandos da instituição, também lecionou propriedade intelectual, sua grande paixão, na pós-graduação.
Ele foi a grande referência brasileira na área de propriedade intelectual, conjunto de diretrizes elaboradas para dar proteção legal às criações humanas.
Suas obras sobre o tema são as mais discutidas nacionalmente e influenciaram importantes figuras do Judiciário, como o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Dias Toffoli.
Após a morte do professor por causas naturais, no último dia 22 de dezembro, aos 83 anos, Toffoli emitiu nota agradecendo Silveira pelo trabalho e dizendo que seu legado servirá de inspiração para todos.
Silveira foi um dos fundadores do Instituto Brasileiro de Propriedade Intelectual, no qual manteve o cargo de diretor até a sua morte, e o responsável pela criação da ATRIP (Associação Internacional Para o Ensino Avançado e Pesquisa em Propriedade Intelectual, em português).
Como escritor, lançou importantes obras, também traduzidas para outros países, e publicou mais de 400 artigos em plataformas especializadas.
Sempre sorridente e com piadas prontas para todas as situações, o jurista era simultaneamente leve e imponente. Direto e apaziguador. Erudito e popular.
Aos alunos, deixou, além de todo o conhecimento, humor e gentileza. "Era uma pessoa muito especial", diz o professor da Faculdade de Direito da USP Antonio Carlos Morato, aluno de Silveira na pós-graduação.
Para a família, era conforto e abrigo. Não media esforços para passar seus dias compartilhando histórias, carinhos e jantares com seus descendentes.
Newton Silveira deixa filhos, netos e bisnetos.
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