Em setembro de 1995, Luciana Voss, nascida em Santos (a 72 km de São Paulo), tomou o primeiro voo internacional de sua vida e desembarcou sozinha em Orlando, nos EUA. Completaria 27 anos alguns dias depois.
Como tantos outros imigrantes, ela sentiu as dificuldades do idioma e da distância, em uma época na qual a comunicação entre Brasil e EUA era mais difícil que hoje.
Ainda assim, nunca perdeu o contato com os muitos familiares que deixou no seu país natal —cartões festivos, presentes e telefonemas integravam o arsenal de gentilezas de Luciana.
Aniversários eram a sua especialidade. De memória, sabia telefone e data de cada familiar e sempre ligava na data para desejar parabéns.
Nos anos seguintes, e de emprego em emprego, cruzaria os EUA dezenas de vezes, à medida que construía uma exitosa carreira no setor financeiro de diferentes empresas.
Fiel da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (nome oficial da igreja mórmom), adotou uma rígida ética de trabalho, com longas jornadas e pouco espaço para o lazer. Nunca reclamou da correria —parecia encontrar satisfação e energia na ocupação constante.
No fim dos anos 1990, estabeleceu-se em Utah. O período coincidiu com a retomada do contato presencial com os familiares, que passaram a visitá-la com frequência, sobretudo a mãe, que já tinha morado no estado.
Também recebeu de braços abertos o irmão caçula, que formou família no país, e a sobrinha, que concluiu o ensino médio sob os seus cuidados e hoje lá cursa universidade.
Casou-se pela segunda vez em 2012, com o médico David Voss, de quem incorporou o sobrenome e a quem acompanharia pelos próximos dez anos, como esposa e diretora-financeira das clínicas da família.
Foi a Dr. Voss que Luciana recorreu quando, em 2022, seu fígado sucumbiu à doença autoimune que a consumia há mais de 20 anos, e sua irmã mais nova foi descartada como doadora.
Em 2 de novembro, recebeu parte do fígado do companheiro. Mas complicações pós-cirúrgicas impediram que Luciana cumprisse a promessa de visitar a família no Brasil assim que deixasse o hospital.
Morreu em 5 de março, aos 54 anos, em Chicago. Deixou o marido, a mãe, irmãos, sobrinhos, tias, cunhados, além de saudades.
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