Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Preso por suposto abuso em exame no Rio, radiologista é denunciado por mais 5 mulheres

À Justiça médico negou acusações e disse que usou técnica de análise corporal; prisão foi convertida em preventiva

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Rio de Janeiro

Um radiologista foi preso em flagrante na noite de quarta (1º) em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, após uma paciente de 26 anos procurar a polícia e afirmar que havia sido abusada durante um exame.

Na tarde desta sexta (3), a Justiça converteu a prisão do médico Martinho Gomes de Souza Neto em preventiva. Desde a prisão do suspeito, outras cinco mulheres procuraram a 12ª DP (Copacabana) e afirmaram que também foram abusadas pelo médico.

A reportagem não conseguiu contato com os advogados Cássio Rodrigues Barreto e Luis Alexandre Rassi, que defendem Souza Neto. Em audiência de custódia sobre o caso da paciente de 26 anos, o médico negou o suposto abuso e disse que tocou na paciente utilizando "técnicas semiológicas [de análise corporal] para acessar imagens de seu ovário".

Identificação do médico Martinho Gomes de Souza Neto, no CFM (Conselho Federal de Medicina). Ele teve a prisão convertida em preventiva - Reprodução/CFM

A jovem contou que procurou uma unidade da rede Clínica da Cidade para realizar uma mamografia no final da tarde de quarta (1º). De acordo com sua versão, durante a consulta o médico a teria convencido a realizar um exame transvaginal, que seria gratuito.

Ao realizar o procedimento, o médico teria solicitado à paciente que estimulasse o próprio clitóris para melhor visualizar o ovário. Em seguida, sob a afirmativa de que não estaria funcionando, ele mesmo passou a tocar a parte íntima da jovem. Segundo relato da vítima, o médico ainda a tocou sem luvas.

Neste momento, o radiologista teria indagado à jovem "se ela estaria gostando". A paciente, então, tentou sair da sala, mas foi segurada pelo braço e percebeu que ele também havia colocado uma cadeira contra a porta, dificultando a entrada de outro funcionário.

Duas funcionárias depuseram sobre o caso e confirmaram o comportamento atípico do médico.

Uma delas, identificada como Rosângela, disse à polícia que "tentou entrar na sala de exame por duas vezes, tendo sido impedida, procedimento incomum, já que, segundo narrado por ela, os médicos não costumam ficar sozinhos realizando exames com pacientes".

Outra funcionária, estranhando a demora no exame, também tentou entrar na sala. Nesse momento, a porta foi aberta; a funcionária relatou que a jovem estava tremendo e nervosa. A vítima, então, mostrou o celular onde havia escrito "acho que ele abusou de mim". Segundo a funcionária, após ler a mensagem, ela acionou a polícia.

"A palavra da ofendida é reforçada por outras informações dos autos, havendo indícios suficientes de autoria, extraídos a partir do depoimento da vítima e das testemunhas. Além disso, a vítima afirmou (...) que desconhecia o procedimento e que o custodiado se valeu dessa condição", escreveu a juíza Rachel Assad da Cunha, que presidiu a audiência de custódia e acatou o pedido da Promotoria ao converter em preventiva a detenção.

De acordo com a juíza, a prisão preventiva é necessária pois o médico atua em diferentes clínicas e também porque a vítima ainda não prestou depoimento à Justiça.

Em nota, a Clínica da Cidade disse que lamenta qualquer episódio de violência contra a mulher. Diz que o caso foi uma ocorrência isolada e está sob investigação.

O delegado André Leiras afirma que a narrativa dos abusos sofridos por outras mulheres que procuraram a polícia seria a mesma. Ainda segundo o investigador, o médico pode ter praticado o crime de violação sexual mediante fraude, previsto no artigo 215 do Código Penal.

"O estupro exige grave ameaça ou violência. Nesse caso, ele usou um ardil, uma fraude, enganando as mulheres que, acreditando estarem fazendo exames, estavam sendo abusadas sexualmente", disse Leiras.

O médico Martinho Gomes de Souza Neto já era investigado por importunação sexual contra uma paciente de uma clínica do centro do Rio, fato ocorrido em setembro de 2020. Essa foi uma das vítimas que voltou a procurar a polícia.

Outra mulher que foi à delegacia teria sido abusada horas antes do registro da jovem de 26 anos. Após a prisão do médico, ela procurou a polícia e afirmou que havia passado pelo mesmo procedimento, de forma abusiva.

A polícia investiga se o médico teve queixas em outros estados —ele já atuou em Goiás e Tocantins, de acordo com o CFM (Conselho Federal de Medicina). No Rio de Janeiro ele atua desde março de 2020. Não há registro de especialidade médica cadastrada para ele no site do órgão, mas Martinho se identificava como radiologista.

Outros casos

Este é o terceiro médico preso no Rio de Janeiro por suspeita de abuso sexual de pacientes em um período de oito meses.

Em janeiro, o médico anestesista Andres Eduardo Oñate Carrillo, 32, foi preso suspeito de estupro de vulnerável. De acordo com investigação da Dcav (Delegacia da Criança e Adolescente Vítima), o colombiano teria violentado sexualmente pacientes dopadas dentro de hospitais públicos. Ele não negou as denúncias.

Em julho de 2022, o médico Giovanni Quintella Bezerra, 31, foi preso em flagrante acusado de estuprar uma mulher enquanto ela era submetida a uma cesariana em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Na gravação, o anestesista aparece colocando o pênis na boca da paciente, que estava sedada. Médicos que realizavam a cirurgia não perceberam o ato —um lençol suspenso na altura do peito da paciente obstruía a visão dos demais.

O médico foi denunciado sob suspeita de estupro de vulnerável —quando a vítima não tem o necessário discernimento para a prática do ato sexual ou não é capaz de oferecer resistência. É o que acontece quando a vítima tem menos de 14 anos ou está dopada, por exemplo.

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