Descrição de chapéu Cracolândia drogas

Vizinhos da cracolândia fazem rateio e pagam R$ 40 por segurança privada

Serviço inclui a instalação de grades na calçada para impedir a permanência de usuários de drogas na frente dos prédios

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São Paulo

Moradores de ruas no bairro Santa Ifigênia, no centro de São Paulo, organizam rateio mensal e pagam R$ 40 para contratar segurança particular desde quando a cracolândia passou a ocupar o local há cerca de três meses. Por volta de 80 vizinhos e comerciantes participam do acordo.

O serviço inclui a contratação de dois vigilantes durante o dia e três a noite que se posicionam nas esquinas das ruas dos Andradas e dos Gusmões, onde a concentração de usuários de drogas é maior, principalmente, durante a madrugada. Eles usam grades de ferro para isolar a calçada em frente de prédios e lojas para impedir a ocupação.

Moradores e comerciantes da Santa Ifigênia fazem rateio para pagar segurança privada que usa grades de ferro para isolar a calçada durante a madrugada
Moradores e comerciantes da Santa Ifigênia fazem rateio para pagar segurança privada que usa grades de ferro para isolar a calçada durante a madrugada - Danilo Verpa/Folhapress

As duas ruas chegam a ter o trânsito interrompido durante a madrugada quando são tomadas pelos dependentes químicos. A concentração é maior durante a noite quando o comércio fecha as portas. Segundo levantamento diário da Secretaria de Segurança Pública (SSP), a cracolândia reúne, em média, 1.320 pessoas por dia, com pico de 1.422 no período noturno.

De acordo com a moradora Adriana Souza, 37, o rateio foi iniciativa da síndica de um dos prédios diante da dificuldade dos vizinhos em entrar e sair. "Tínhamos que pedir licença para entrar em casa e ainda alguns ficavam irritados e nos ameaçavam", diz a moradora, que mantém um comércio de comidas e bebidas na mesma rua onde mora.

"Aqui era uma rua tranquila, eu deixava meus netos brincar na rua. Agora, não podemos nem ficar na janela por causa do cheiro da droga e do lixo."

Na noite do último dia 5, a Folha acompanhou ação da Polícia Militar deflagrada para desobstruir as ruas ocupadas pelos usuários de drogas. Os policiais tentaram delimitar o quarteirão da rua dos Gusmões, entre a avenida Rio Branco e a rua Santa Ifigênia, como ponto de concentração da cracolândia. No local, há dois estacionamentos que ficam fechados durante a noite.

Apesar das tentativas, grupos se dispersaram pelas ruas adjacentes e, quando as equipes de policiais encerraram a operação, as vias voltaram a ser tomadas pelos usuários.

Além de garantir a segurança das lojas, os vigilantes têm a função de abordar usuários que tentem usar a calçada em frente aos prédios como banheiro, como é recorrente, segundo moradores. Um segurança que não quis se identificar afirmou que a tarefa é uma das prioridades exigidas pelos contratantes.

A administração regional da Sé informou que não foi feita solicitação e nem autorização para instalação de grades nas ruas citadas.

Ao longo do último ano, quando a cracolândia dispersou pelas ruas dos bairros Campos Elíseos e Santa Ifigênia, o fluxo de dependentes químicos ocupou ao menos oito ruas na tentativa de se fixar em um novo ponto. Atualmente, a cracolândia ocupa três ou quatro ruas da Santa Ifigênia.

A dispersão ocorreu após ação policial que esvaziou a praça Princesa Isabel, em maio do ano passado, após ter se tornado o endereço oficial da cracolândia. Antes, o fluxo de dependentes químicos ocupou por mais de 20 anos o entorno da praça Júlio Prestes.

A nova realidade na porta de casa e o aumento da criminalidade afetaram a rotina de pessoas que habitam as ruas ocupadas. Moradores desenvolveram estratégias, como deixar de sair à noite, para tentar evitar ser alvo de violência.

Nos primeiros três meses deste ano, houve 54% mais furtos na região da delegacia que atende o bairro de Campos Elíseos, que abriga parte da cracolândia, em comparação ao mesmo período de 2022. Em relação aos roubos, o aumento foi de 26,5%.

Em nota, a SSP disse que a Polícia Civil realiza desde janeiro operação para sufocar o tráfico de drogas e crimes patrimoniais nas chamadas "cenas de uso aberto".

Ainda segundo a pasta, houve reforço no policiamento na região central e aumento de 53% de criminosos presos nos três primeiros meses deste ano em comparação com o mesmo período no ano anterior.

Segundo a prefeitura, o número de novos frequentadores vem caindo nos últimos anos na cracolândia aumentou a busca por tratamento.

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