Tarcísio é aplaudido em Marcha para Jesus, mas fiéis reclamam da presença de políticos

Governador discursou e ajoelhou na tarde desta quinta (8) no palco do evento que acontece na zona norte de São Paulo

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São Paulo

Diante da multidão de evangélicos, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) fez discurso e "profecia" na tarde desta quinta-feira (8), na Marcha para Jesus, que acontece em São Paulo.

Ao contrário das vaias no momento em que o ministro da AGU, Jorge Messias, citou o presidente Lula (PT), o governador foi bastante aplaudido pelos evangélicos. Ele chegou a se ajoelhar no palco com as mãos para o alto em sinal de oração.

O governador Tarcísio de Freitas ajoelha com as mãos para o alto, no palco da Marcha para Jesus, que acontece nesta quinta-feira (8), em São Paulo - Eduardo Knapp/Folhapress

Os aplausos ocorreram conforme pastores e apresentadores pediam à multidão que, em geral, se comportou de forma respeitosa enquanto o governador falava —ou orava.

Ao contrário do ano passado, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) viajou para a França e não foi ao evento —o filho Ricardinho subiu ao palco, onde esteve o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD).

O apóstolo Estevam Hermandes, organizador do evento, disse "Tarcísio, eu te amo" em cima do palco na praça Heróis da Força Expedicionária Brasileira, em Santana, zona norte de São Paulo.

Tarcísio abriu breve participação citando trechos creditadas aos Coríntios. Depois citou outro trecho de Romanos.

"Se o povo se humilhar, orar, daqui em diante, estará com olhos abertos, ouvidos atentos, escutarão a Deus", disse o governador.

"O caminho para Deus é se afastar do pecado. Muitas vezes a gente quer intimidade com Deus e não faz por onde. A oração nos leva a intimidade com Deus."

No final, Tarcísio "anunciou uma profecia" para o público. "Essa é a grande palavra profética de hoje, que Deus vai abençoar a casa de vocês, o projeto de vocês, e São Paulo", afirmou o governador.

A cerca de 50 metros do palco, parte do público aproveitou o intervalo nos shows musicais para ir ao banheiro ou se alimentar, enquanto o governador falava.

Único a vaiar, no trecho de onde a Folha acompanhou, o motorista Thiago Costa, 36, fez um L com os dedos quando Tarcísio foi anunciado.

"A marcha não é para Jesus? Acho que esses políticos não deveriam estar aqui. Eu sou Lula, não vim aqui para ver esses caras que não estão nem ligando para os pobres", disse Costa, que pela primeira vez estava no evento.

Com uma das mãos timidamente erguida durante a oração feita para o governador, a analista de programas de computador Michele Souza, 26, também relatou desconforto com a presença do político.

"Estou aqui pela adoração, que é a parte boa. Acho que não deveria abrir esses espaços para políticos, até porque Deus não divide a sua glória."

Já o analista de obras Maurício Marinho, 41, considerou positiva a presença de Tarcísio, acompanhado até mesmo a leitura de um trecho da Bíblia que o governador fez.

"Acho muito importante demonstrar que a fé está em todos os segmentos da sociedade", disse. "A política não é o principal, estamos aqui pela fé", disse.

Dois evangélicos esticam faixa a frase igrejasempolítica
Evangélicos esticam faixa de protesto contra politização na religião, em cruzamento próximo de onde está o público na Marcha para Jesus, na zona norte de São Paulo - Carlos Petrocilo/Folhapress

Perto do evento, um grupo de evangélicos protestou contra a política na religião. Eles se posicionaram com faixa e distribuíram panfletos na praça Heróis da FEB (Força Expedicionária Brasileira).

A faixa continha o endereço do site do movimento Igreja Sem Política. No panfleto também havia a frase "A igreja é de Cristo".

"Na Bíblia Sagrada e em toda existência de Jesus Cristo não há menção e nem exemplos de qualquer vínculo político. Não teve política na escolha dos apóstolos, por exemplo. Quando vemos essa quebra, o nosso grupo alerta os cristãos", disse José Luiz Barboza Filho, vice-presidente do movimento.

A Igreja sem Política foi constituída em 2020 e reúne pelo menos 80 evangélicos, entre diretoria e voluntários. O grupo utiliza a internet para divulgar suas ideias.

"A igreja não deve estar atrelada ao Estado, uma hora o evangélico é de direita, no outro ano é de esquerda. Somos cidadãos livres e a nossa ideologia é cristã", afirmou Barboza Filho.

Ele também fez críticas diretas ao organizador da Marcha para Cristo, o apóstolo Estevam Hernandes.

"A Marcha para Cristo se tornou um movimento cultural, palanque para o governador, e não de celebração a Cristo. É organizada por uma pessoa que tem dívidas milionárias", falou.

A Folha procurou a assessoria da Marcha para Jesus, mas a organização e Hernandes não se manifestaram até a publicação desta reportagem.

Neste ano, a Justiça de São Paulo bloqueou as contas bancárias e decidiu leiloar quatro imóveis da Igreja Renascer em razão de dívidas, respectivamente, de aluguel de um templo na Vila Andrade, zona sul de São Paulo, e com uma locadora de carros, no total de R$ 1,6 milhão.

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