Descrição de chapéu violência transporte público

Passageiros enfrentam BRTs lotados no Rio um dia após incêndio de 35 ônibus

Prefeitura afirma que linhas já foram normalizadas

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Igor Soares
Rio de Janeiro

Um dia após um trem e 35 ônibus terem sido incendiados no Rio de Janeiro, passageiros do transporte público ainda sofriam nesta terça-feira (24) com coletivos lotados. Os veículos foram queimados na zona oeste da cidade após a morte do miliciano Matheus da Silva Rezende, também conhecido como Faustão ou Teteu.

Havia BRTs (ônibus articulados) lotados e filas para embarque no Terminal Alvorada, o mais importante da zona oeste, nesta manhã. Passageiros cruzaram no caminho com carcaças de ônibus queimados no dia anterior.

A cúpula do governo fluminense disse que a reação dos criminosos foi tão grande porque a operação que na qual matou Faustão ocorreu próximo ao local onde estava Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, considerado o líder da maior milícia do Rio. Ele também é tio de Faustão.

homem com camisa do flamengo passa duas carcaças de onibus incendiada em rua à noite
Carcaças de ônibus queimados entre as comunidades Antares e Cesarão, na zona oeste do Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli/Folhapress

Os ataques ao transporte público resultaram em prejuízo financeiro de cerca de R$ 35 milhões para as empresas, além de dificultar a mobilidade da população. Cada ônibus demora seis meses para ser reposto.

Usuária do transporte público, Sara Ferreira, 26, conta que na noite de segunda-feira (23) estranhou ao ver estações de BRT fechadas ao sair da Tijuca (na zona norte).

A recepcionista conta que a mãe levou horas para retornar para casa. "Minha mãe trabalha no Recreio dos Bandeirantes. Normalmente, ela volta às 18h. Ontem, ela chegou quase 22h porque estava tudo parado e um caos", relata.

Renata Laudadio, 37, teve de ir nesta terça ao centro de Santa Cruz, bairro que mais teve ônibus incendiados, para pegar a condução para o trabalho em Copacabana.

"Quando eu vim, vi um monte de carcaça de ônibus queimado e também tinha muita polícia nas ruas", diz.

Conceição da Silva, 41, mora em Queimados, cidade na região metropolitana do Rio. A cozinheira conta que a volta para casa na segunda foi caótica. "O trânsito estava confuso e muito congestionado. Na Barra, o metrô estava lotado. Mas hoje foi mais tranquilo."

Iago Nery, 24, não conseguiu retornar para casa como de costume. Ele mora na Cidade de Deus, uma comunidade também na zona oeste e trabalha no Vidigal, na zona sul.

"Estava tudo fechado e tive de pegar uma condução que vai pela praia. Estava muito complicado voltar, mas, graças a Deus, consegui", diz o auxiliar de serviços gerais.

Para Beatriz Nóbrega, 28, que já enfrenta horas no trânsito para chegar ao trabalho na Lapa (na região central), o dia foi mais extenso. A atriz não conseguiu voltar para casa, em Campo Grande (também na zona oeste), e teve de ir dormir na casa da mãe.

"O trem, no ramal Santa Cruz, estava com intervalo irregular. Decidi ir de ônibus, que também fiquei esperando uns 40 minutos. Geralmente, tem ônibus de 10 em 10 minutos. Fiquei com medo e fui dormir na casa da minha mãe, em Duque de Caxias [na região metropolitana]."

O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), usou uma rede social para afirmar que as linhas de BRT estão sendo normalizadas. "A gente já está com a Transoeste [corredor do BRT] funcionando bem desde as primeiras horas do dia, com algumas deficiências. A operação dos ‘diretões’ atrasou hoje", afirmou.

O Centro de Operações informou, por meio de uma rede social, que o "Rio retornou ao estágio de normalidade às 08h45 desta terça-feira, dia 24 de outubro, em função da regularização do serviço do BRT Transoeste".

"A MobiRio informa que os serviços da Transoeste já estão operando com os intervalos normalizados. Os serviços das linhas eventuais Santa Cruz, Pingo D'água, Magarça e Mato Alto, os ‘diretões’, já estão em funcionamento", publicou a responsável pelo BRT.

O caos

Na tarde de segunda-feira, 35 ônibus foram incendiados no Rio, principalmente na região de Santa Cruz, na zona oeste da cidade. Os incêndios foram uma represália à morte de Matheus da Silva Rezende, o Faustão ou Teteu.

Ele foi morto em uma operação da Polícia Civil na comunidade Três Pontes. Faustão era o segundo na hierarquia da milícia que disputa territórios na zona oeste —o chefe é seu tio, Zinho. Ainda na segunda-feira, 12 pessoas foram presas por envolvimento nos incêndios. Este foi o maior número de ônibus queimados em um dia na história da cidade.

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