Descrição de chapéu forças armadas

Polícia do Rio encontra 8 de 21 armas do Exército furtadas em SP

Metralhadoras e fuzis estavam na Gardênia Azul, na zona oeste da cidade; diretor do Arsenal de Guerra será exonerado, segundo general

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Rio de Janeiro e São Paulo

A Polícia Civil do Rio de Janeiro encontrou nesta quinta-feira (19) 8 das 21 armas que haviam sido desviadas do Arsenal de Guerra do Exército em Barueri, na Grande São Paulo. O armamento estava no bairro da Gardênia Azul, na zona oeste do Rio, área de atuação uma narcomilícia ligada ao Comando Vermelho.

Foram recolhidas quatro metralhadoras de calibre .50 e quatro fuzis de calibre 7.62 por agentes da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes).

A apreensão foi confirmada também pelo Comando Militar Sudeste em entrevista coletiva nesta quinta.

Segundo o órgão, o diretor do Arsenal de Guerra, tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista, será exonerado do cargo, por determinação do comandante do Exército, general Tomás Paiva. O responsável pela unidade de Barueri estava na função desde março.

"É um episódio inaceitável", declarou o general de Brigada Maurício Vieira Gama, chefe do Estado-Maior do comando na entrevista desta quinta.

Metralhadoras apreendidas pela Polícia Civil do Rio nesta quinta (19); parte das armas tinha sido desviada do Exército de São Paulo - Divulgação Polícia Civil do RJ

Segundo a Folha mostrou, o Exército havia identificado três militares suspeitos de participar do do furto das armas e a Força investiga se o trio foi cooptado por facções criminosas para o extravio do armamento.

Na entrevista desta quinta, o general afirmou, sem especificar números, que dezenas de militares, entre novatos e oficiais, estão sendo investigados, ao menos por falha administrativa, e que todos os processos da organização militar do local estão sendo revistos.

De acordo com o oficial, militares que tinham encargos de fiscalização e controle poderão ser responsabilizados na esfera administrativa e disciplinar por eventuais irregularidades. Eles receberam um formulário de apuração de transgressão disciplinar e têm até 72 horas para apresentarem defesa.

Os militares temporários serão expulsos, e os de carreira, submetidos a conselhos de justificação ou disciplina. Possíveis civis envolvidos também poderão ser julgados pela Justiça Militar, por se tratar de um crime dessa competência.

"O que podemos dizer até agora é que há militares envolvidos nesse desvio e isso está sendo investigado no curso do inquérito civil militar", disse.

Segundo o Exército, as armas que foram levadas estavam em uma reserva de armamento por serem inservíveis. O local é lacrado e suspeita é que o lacre tenha sido trocado.

No dia 10 de outubro houve a verificação de que ocorreu a troca de cadeado e a porta possivelmente havia sido forçada.

Na entrevista desta quinta, o general leu uma nota, na qual diz há a possibilidade de extravio ter ocorrido no lapso temporal de 5 a 8 de setembro. Depois, entretanto, ao responder uma pergunta, ele afirmou que a última vez que a última conferência oficial no local onde ficam as armas, antes do furto, ocorreu em 6 de setembro.

"No dia 5 foram retirados armamentos e no dia 6 eles voltaram para essa reserva", afirmou. "Descobriu-se a subtração do armamento em 10 de outubro. Então é nesse lapso temporal, entre o dia 6 de setembro e 10 de outubro, que estamos investigando em que momento ocorreu esse ilícito."

Segundo relato à Folha de oficiais que acompanham a investigação, a principal suspeita é que as armas tenham sido roubadas no feriado do Dia da Independência, em 7 de setembro, quando o quartel estava esvaziado.

O novo secretário de Polícia Civil do Rio, Marcus Vinícius Amim, disse que o armamento estava sendo monitorado desde o dia 7 de setembro e que eles passaram por várias favelas na cidade antes de ser apreendido nesta quinta.

Questionado se houve falha nas câmeras de segurança do quartel, como os armamentos foram levados ao estacionamento e retirados do local, o general não deu detalhes, dizendo que são informações sigilosas que fazem parte do inquérito civil militar.

"Toda a dinâmica de como foi retirado o armamento está sendo investigada", disse. "Imagens de câmeras e croquis do local estão sendo analisados."

A principal linha de investigação é que as metralhadoras tenham sido furtadas com participação de militares do Arsenal, mas nenhuma hipótese está descartada, explicou o Comando Militar Sudeste em nota.

Cerca de 160 militares continuam aquartelados em Barueri. Segundo o porta-voz, eles não estão presos, mas que seguem nessa situação porque podem ser requisitados para ações ou nas investigações. O oficial não disse até quando vai o aquartelamento. Um grupo de 480 militares chegou a ficar retido na unidade por uma semana, após a descoberta do sumiço das armas no último dia 10.

Descoberta das metralhadoras

Segundo a polícia do Rio, primeiro as armas foram localizadas no Complexo da Penha e na comunidade Nova Holanda, no Complexo da Maré, ambas na zona norte do Rio. Antes de chegarem na Gardênia Azul, onde foram apreendidas, elas passaram pela Rocinha, na zona sul. Ninguém foi preso na apreensão.

Os investigadores decidiram não tentar aprender o material no trajeto, porque poderia haver um tiroteio durante horário de congestionamento na cidade.

O setor de inteligência recebeu a informação de que um carro com as armas havia se deslocado para a comunidade da Gardênia, quando cerca de 20 policiais da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes) e da Polinter (Divisão de Capitutas e Polícia Interestadual) entraram na comunidade e encontraram o veículo parado sem ninguém no entorno.

De acordo com os agentes, os criminosos notaram a presença dos policiais e abandonaram o carro, deixando o armamento para trás. As metralhadoras estavam dentro da mala do veículo, embaladas em sacos de plásticos pretos.

Imagens divulgadas pela polícia mostram policiais retirando o armamento da mala de um carro. Segundo o governador Cláudio Castro (PL), o veículo era roubado.

Nas gravações, os agentes retiram o armamento do veículo sem a presença da perícia. Ainda não se sabe se a ação irá atrapalhar a possível identificação de digitais.

O secretário de Polícia Civil confirmou que as metralhadoras foram encomendadas por traficantes do Comando Vermelho. "As armas foram adquiridas pela cúpula da facção criminosa para usar na disputa territorial que estão fazendo para expansão na zona oeste", afirmou Amim, que completou que os suspeitos já foram identificados.

O delegado André Neves, titular do Departamento-Geral de Polícia Especializada, afirmou que, a princípio, todas as armas estão em pleno funcionamento, mas que ainda aguarda laudo pericial. Na entrevista desta quinta, o general Gama repetiu várias vezes que elas não serviam mais e que não valia a pena, economicamente, reformá-las.

Ainda segundo Neves, as armas teriam sido vendidas em valor aproximado entre R$ 180 mil e R$ 200 mil.

O governador do RJ, Cláudio Castro (PL), parabenizou a polícia pela apreensão. "Quero parabenizar os policiais da nossa Delegacia de Repressão a Entorpecentes que, na tarde de hoje, encontraram 8 das 21 metralhadoras furtadas do Exército em Barueri, São Paulo. Quatro metralhadoras ponto 50 e outras 4 MAGs, calibre 7,62 foram interceptadas", declarou.

A Gardênia Azul faz parte de uma narcomilícia, após união de milicianos dissidentes e de traficantes do Comando Vermelho.

Segundo a Polícia Civil, integrantes do crime organizado da comunidade foram os responsáveis pela morte de três médicos, na Barra da Tijuca. Eles teriam confundido um dos ortopedistas com um miliciano rival.

A narcomilícia surgiu a partir de 2021, quando houve uma ruptura interna na milícia da região. Enfraquecido, o miliciano procurou apoio com traficantes da Cidade de Deus, na zona oeste, área de domínio do Comando Vermelho.

Uma aliança foi firmada, então, entre os ex-integrantes da milícia e o tráfico, gerando o que a polícia chama de narcomilícia na Gardênia, com a liderança tanto de milicianos locais quanto de traficantes do Comando Vermelho. Os traficantes têm os complexos da Penha e do Alemão como base principal.

Ao todo, 13 metralhadoras de calibre .50 e oito fuzis de calibre 7,62 foram furtados do quartel em Barueri.

Em pleno funcionamento, as metralhadoras .50 são capazes de derrubar helicópteros e até furar a blindagem de tanques. Elas atiram até 550 projéteis por minutos e têm alcance de dois quilômetros.

Já os fuzis são visados para roubos a carro-forte, em ações diretas de combate terrestre. Possui um carregador com 20 cartuchos e pode ser disparado com tiro único ou como uma rajada de metralhadora.

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