Policial que investigava milícias do Rio é morta a tiros na frente de casa

Governador do estado diz haver indícios de envolvimento de milicianos; Dino manda PF auxiliar na investigação

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São Paulo e Rio de Janeiro

Uma policial militar de 31 anos foi morta na porta de sua casa, em Santa Cruz, zona oeste do Rio de Janeiro, durante a noite desta sexta-feira (24).

Vaneza Lobão recebeu tiros de fuzil disparados por criminosos encapuzados em um carro preto, segundo a Delegacia de Homicídios, que assumiu o caso. A Polícia Federal deve ajudar na investigação, a pedido do Ministério da Justiça.

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Vaneza Lobão, 31, PM morta na zona oeste do Rio - Vaneza Lobão no Facebook

A policial foi morta enquanto abria a garagem para entrar com o carro, por volta das 21h30. De acordo com os primeiros relatos de testemunhas, os criminosos estavam no aguardo de Lobão para matá-la.

O crime aconteceu quando a policial estava chegando em casa da academia junto com sua mulher.

Lobão trabalhava desde 2013 em um setor dedicado a investigar policiais envolvidos com a milícia e com o jogo do bicho. Ela atuava na 8ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar, subordinada à corregedoria da corporação.

Em vídeo publicado no X, ex-Twitter, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), afirmou haver indícios da participação de "milicianos que ela investigava" no homicídio e pediu celeridade nas investigações.

"Há indícios que sejam milicianos do qual ela investigava. Ela fazia parte da nossa corregedoria", disse Castro.

"A resposta será rápida e dura. Nós não deixaremos com que policiais que fazem o seu trabalho bravamente corram risco, fiquem à mercê dessa bandidagem. Pode ser miliciano, traficante, estamos combatendo e iremos atrás", declarou o governador.

Na mesma rede social, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, lamentou o crime e afirmou ter instruído a Polícia Federal a auxiliar na apuração do ocorrido.

Foram realizadas, na madrugada deste sábado (25), diligências em Santa Cruz para tentar localizar os suspeitos. Na ação, policiais prenderam um miliciano, encontrado com uma arma. Os agentes dizem, porém, não ser possível confirmar se o homem participou do homicídio.

Pelas redes sociais, Andreza Lobão, irmã da policial, chamou o assassinato de Lobão de "covardia". Ela escreveu:

"Eu morri quando me disseram que você se foi, Você sempre será o amor da minha vida, minha filha, minha melhor amiga. A sua lealdade com os seus jamais será esquecida. Covardia e revolta, é o que meu coração sangra. Daria minha vida para você viver em meu lugar".

Mais cedo, a família da PM foi ao IML (Instituto Médico Legal), no Centro do Rio, para fazer a liberação do corpo. O velório está marcado para este domingo (26), às 14h no Jardim da Saudade de Sulacap, na zona oeste.

INVESTIGAÇÃO

Agentes buscam agora imagens de câmeras de segurança e possíveis testemunhas a fim de esclarecer a motivação e a autoria do assassinato. Novas operações em Santa Cruz devem ocorrer ainda neste fim de semana, tendo como principal alvo o carro utilizado no crime.

Uma das linhas de investigação da polícia é que, pelas características do crime, a PM tenha sido alvo de uma execução.

O Disque Denúncia divulgou um cartaz para colaborar no inquérito. São oferecidos R$ 5.000 por informações que ajudem a identificar os atiradores.

Com o assassinato de Lobão, sobe para 52 o número de agentes de segurança mortos em ações violentas no estado do Rio de Janeiro em 2023. Foram 46 membros da Polícia Militar, três da Polícia Penal, um da Polícia Civil, um do Corpo de Bombeiros e um da Guarda Municipal.

CRISE DE SEGURANÇA

A região onde ocorreu o crime está na zona de influência de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho. Ele é apontado como líder da maior milícia do Rio, comandada por sua família há mais de uma década.

É atribuída a ele a ordem para os ataques que incendiaram 35 ônibus e um trem na zona oeste carioca em 23 de outubro deste ano, após a morte do sobrinho, Matheus Rezende, o Faustão, em uma ação policial.

A ação, que causou um prejuízo avaliado em R$ 38 milhões e paralisou a cidade, evidenciou a força da milícia no Rio de Janeiro. Grupos milicianos ocupam quase 60% da região metropolitana, segundo pesquisas do Geni/UFF (Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos).

A milícia está no centro da mais recente crise de segurança vivida pelo Rio de Janeiro. A escalada de violência fez com o que o governo federal decretasse uma operação GLO (Garantida de Lei e da Ordem) com foco em aeroportos e porto para desarticular os grupos criminosos.

O operação está sendo feita nos aeroportos internacionais do Galeão (RJ) e de Guarulhos (SP), pela Aeronáutica, e nos portos do Rio, Itaguaí e Santos, pela Marinha. A intenção é coibir a entrada e a saída de armas e drogas do país.

Ministério da Justiça também criou, junto com o governo do estado, um comitê para combater a lavagem de dinheiro de facções criminosas, sejam elas de grupos paramilitares ou traficantes. Com o nome de Cifra (Comitê Integrado de Investigação Financeira e Recuperação de Ativos), a força-tarefa terá a participação da Polícia Civil, da Secretaria de Fazenda do Rio e das Polícias Federal e Rodoviária Federal.

As milícias passaram a ter controle territorial nas comunidades do Rio de Janeiro a partir de 1980. Sob justificativa de oferecer uma segurança extra e fazer um contraponto ao tráfico, policiais e ex-policiais passaram cobrar uma taxa extra dos moradores. Com o tempo, começaram a extorquir comerciantes e a estebelecer monopólios de serviços básicos como água, gás e luz.

Hoje, alguns grupos milicianos fazem alianças com traficantes para manter domínio de áreas da cidade.

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