Comerciante adoece e acumula dívidas após ter loja saqueada na cracolândia

Ela conta que precisa ressarcir clientes que perderam celulares que estavam em manutenção e exigem novos aparelhos

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São Paulo

"Desempregada e doente." É assim que a comerciante Angela Aparecida Alves de Oliveira, 44, classifica sua situação após usuários de drogas da cracolândia saquearem sua loja de manutenção de celulares na rua Santa Ifigênia, no centro de São Paulo, na noite de 1° de novembro.

Ela conta que sua rotina mudou desde então, com o uso frequente de remédios para dormir. Também tem medo de sair de casa.

No dia do saque, os criminosos levaram 25 celulares de clientes, 1.500 películas, mil capinhas, cabos, carregadores, suporte para carros e fones de ouvido. Uma máquina para retirar tela e outra para medir a capacidade da bateria também foram furtadas. O prejuízo total, ela diz, é estimado em R$ 80 mil.

Dos 25 telefones roubados, Angela terá que restituir dez, de clientes que passaram a cobrar pelos aparelhos levados. Ela afirma que com muito esforço já conseguiu restituir quatro aparelhos, restando outros seis, que sabe-se lá quando vai conseguir comprar.

Conta, ainda, que recorreu a um empréstimo de R$ 4.000 para pagar fornecedores e arrumar a porta destruída durante o ato de vandalismo.

Usuários da cracolândia saqueiam loja no centro de São Paulo
Momento em que usuários saqueiam a loja de Angela Oliveira na rua Santa Ifigênia, centro de São Paulo, em 1° de novembro - @salveocentro no instagram

"Não tenho capital de giro. A loja está aberta pois ainda estou respondendo a esses clientes [que exigem a restituição do aparelho]. Tem um fornecedor que está confiando peça fiado, então o técnico está trabalhando e com isso estou pagando. Meus filhos estão pagando o aluguel do apartamento onde eu vivo", disse Angela à Folha.

A comerciante contou que também recebeu ajuda do dono do imóvel onde fica a loja, que a dispensou do pagamento do aluguel por um mês.

"Estou mal. Fiquei um mês sem dormir. Até que criei coragem e procurei um psiquiatra. Tem que ter força, pois estou sem coragem de sair de casa. À noite fico apavorada com o barulho dos usuários [de drogas], como se já estivessem saqueando outro lugar."

A invasão da loja de Angela foi filmada por testemunhas. Assistir como tudo ocorreu a deixou ainda mais triste, ela diz. "Me senti impotente, pequena, e ao mesmo tempo me perguntando por que eu de novo?", acrescentou.

Em abril de 2019 a loja já havia sofrido um ataque, realizado também por usuários de drogas. Na época, o prejuízo foi de R$ 50 mil, ela conta.

Angela conta que o médico a receitou remédios para controlar crises de ansiedade e depressão e também para ajudá-la a dormir. As medicações, segundo ela, estão sendo custeadas por uma filha. Ela também tem recebido ajuda de um cunhado farmacêutico, que mora na Bahia, seu estado de origem.

"Uma mulher, uma mãe, mais uma para o somar ao índice de desempregados no Brasil. Vou procurar trabalho, tenho uma filha de nove anos para cuidar."

Angela, que está na região há dez anos, avalia que falta vontade política para resolver o problema da cracolândia. "Se pelo menos tivessem interesse em lutar junto aos comerciantes, com muita luta isso acabaria."

Procurada, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que a investigação é coordenada pela pela 1ª Cerco (Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas). "A equipe da unidade analisa imagens de câmeras de monitoramento para identificar e prender os autores. Demais diligências estão em andamento para recuperar os objetos levados", diz trecho da nota.

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