Da extração do sal-gema ao colapso iminente: a cronologia da mina da Braskem em AL

Segundo geólogo, situação em Maceió é uma 'tragédia anunciada' e área dificilmente será reutilizada; OUTRO LADO: empresa diz que realocou moradores e monitora a região

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São Paulo

Com o risco iminente do desabamento de uma mina da Braskem em Maceió é uma "tragédia anunciada" que pode criar uma região fantasma na cidade, avalia o geólogo Pedro Cortês, professor da USP (Universidade de São Paulo). Ele afirma que o local afetado dificilmente será utilizado no futuro.

O perigo de colapso da região obrigou a evacuação de um hospital e da população localizada na região que está em risco. Os bairros que estão sob alerta são Mutange, Pinheiro, Bebedouro e parte do Bom Parto e do Farol.

Área próxima à mina 18 onde casas foram evacuadas em Maceió - Jonathan Lins/Reuters

Segundo autoridades, uma cratera do tamanho do estádio do Maracanã pode ser aberta no Mutange com o possível desabamento da mina de número 18 da Braskem.

Ao todo, o MPF (Ministério Público Federal) em Alagoas calcula que a área comprometida, que equivale a 255 campos de futebol, abrange mais de 14 mil imóveis ocupados por 57 mil moradores e comerciantes.

A Defesa Civil de Maceió informou na tarde desta sexta (1º) que a área ao redor da mina 18 da Braskem está afundando em uma velocidade de 1 cm por hora. No fim da manhã, o índice era de 2,6 cm/hora — e o deslizamento vertical acumulado, de 1,42 m. "A população não deve transitar na área desocupada até uma nova atualização da Defesa Civil", diz a nota.

Segundo Cortês, da USP, a gravidade da situação é explicada pelo fato de o minério da região ser altamente solúvel, ao mesmo tempo em que há água dos dois lados: de um, uma lagoa, e do outro, o oceano Atlântico.

"Há décadas, havia um perigo de mineração na área que passava por um processo de urbanização e, mesmo com análises e protestos, nada impediu que continuasse."

Para o prefeito da capital, João Henrique Caldas (PL), o cenário trágico que a região da cidade vive hoje é fruto de uma "exploração predatória e gananciosa" da Braskem na região.

"Estamos vivendo em Maceió desde 2018 uma dor crônica que está sempre presente, fica nos assombrando, e trazendo para todos nós um desafio que vai para além das nossas capacidades", disse em entrevista ao canal Globo News na tarde desta sexta-feira.

Em nota, a Braskem diz que tem monitorado o local e que dados atuais "demonstram que a acomodação do solo segue concentrada na área dessa mina e que essa acomodação poderá se desenvolver de duas maneiras: um cenário é o de acomodação gradual até a estabilização; o segundo é o de uma possível acomodação abrupta".

A empresa não comentou a fala do prefeito, mas disse que a área atingida está desabitada desde 2020 e que houve a realocação dos moradores de 23 imóveis localizados na área de risco.


Entenda o histórico:

Anos 1970

Governo estadual autorizou em Maceió extração de sal-gema —uma matéria-prima usada na indústria para produção de PVC e também cloro, ácido clorídrico, soda cáustica e bicarbonato de sódio.

A empresa que deu início à atividade foi a Salgema Indústria Químicas de Alagoas, que depois passou a ser chamada de Braskem. Apesar de o órgão ambiental da época não recomendar as extrações, a atividade na região aconteceu a partir de 1975.

2018

Após mais de 40 anos de extração na região, um tremor de terra foi sentido em março de 2018. Na época, também foram registradas rachaduras em casas, fendas nas ruas, afundamentos de solo e crateras, segundo o MPF, sem aparente motivo.

No início, as reclamações partiam do bairro do Pinheiro, mas no mesmo ano foram registradas também no Mutange e Bebedouro. No ano seguinte, moradores do Bom Parto também reportaram danos em suas residências.

Após o episódio, foi dado início a uma investigação para entender o que motivou o fenômeno na região.

2019

No ano seguinte, o Serviço Geológico do Brasil (antigo CPRM) concluiu que as atividades de mineração da empresa Braskem em uma área de falha geológica causaram o problema. No laudo, cientistas afirmam que o tremor de terra de 2018 aconteceu em razão do desmoronamento de uma dessas minas.

Segundo o estudo, aquele não foi o único tremor, pois os laudos apontam a existência de outras minas deformadas e desmoronadas. Desde então, o MPF em Alagoas acompanha o caso. Em meados de 2019, ocorreram as primeiras evacuações do local.

Até então, havia 35 poços de extração em área urbana. Os poços estava pressurizados e vedados, porém a instabilidade das crateras causou danos ao solo, que foram visíveis na superfície.

Desde então, mais de 60 mil famílias dos bairros Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e Farol foram realocadas para outros pontos da cidade. Após o laudo que apontou a exploração como responsável pela instabilidade da região, foram fechadas 35 minas da região de Mutange e Bebedouro.

2023

Na quarta-feira (29), após novos tremores serem sentidos na região, a Defesa Civil emitiu um alerta em que afirma que a mina de número 18 Braskem está em risco iminente de colapso. O alerta do órgão acontece após

De acordo com o órgão, a população que mora próximo à área atingida foi orientada a deixar o local e procurar abrigo, e a prefeitura decretou estado de emergência por 180 dias.

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