Descrição de chapéu Alalaô

Catadores são contratados para cuidar de parte do lixo gerado no Carnaval

Blocos, prefeituras e patrocinadores investem em gestão inclusiva de resíduos; lei paulista que responsabiliza grandes eventos por lixo gerado não foi regulamentada

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São Paulo

O samba pede passagem e costuma deixar um rastro de resíduos recicláveis pelo caminho. Na maior festa popular do Brasil, arquibancadas e ruas, gramados e praias emergem da folia mascarados por pilhas de plástico, alumínio, papelão e isopor.

E cada vez mais blocos de Carnaval, patrocinadores e prefeituras contratam catadores autônomos e cooperativas para que esses materiais sejam destinados à reciclagem.

"Hoje, todos têm ciência de que a reciclagem é necessária e obrigatória", avalia Lucas Assumpção, 38, que é catador de materiais recicláveis há cinco anos em São Paulo. "Nesse carnaval, tem mais blocos que investiram na gestão de resíduos por catadores e cooperativas, mas a mudança, de fato, ainda é bem pouca. E a varrição da prefeitura vai para aterros e lixões."

Lucas Assumpção diz ter percebido maior interesse de blocos no serviço de gestão de resíduos de catadores e cooperativas de reciclagem neste Carnaval - Ronny Santos/Folhapress

Foi a PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos), por meio da Lei 12.305, de 2010, que instituiu a responsabilidade do gerador de resíduos de destiná-los de maneira ambientalmente correta –conceito conhecido como logística reversa.

A Ambev, dona de mais da metade do mercado brasileiro de cervejas, declarou ter investido R$ 5 milhões em logística reversa no último Carnaval, retirando 175 toneladas de materiais recicláveis dos festejos. O peso equivale a mais de cinco aviões Boeing 373 vazios.

Além da gigante das cervejas, Instituto Heineken e Solar Coca-Cola estão entre as patrocinadoras de ações com catadores e cooperativas nos carnavais de São Paulo, Recife, Salvador e Rio de Janeiro, em geral em parceria com a Ancat (Associação Nacional de Catadores). São iniciativas que visam remunerar os catadores acima do preço médio fora do Carnaval.

"Há três anos, desenvolvemos esse trabalho com a Ambev, que neste ano está um pouco mais organizado", diz o presidente da entidade, Roberto Rocha. "São 400 catadores envolvidos, alguns em situação de rua. Eles têm uma meta, a partir da qual recebem uma remuneração que pode chegar a R$ 250 por dia", explica ele.

A cada 10 kg de material entregue nos postos de coleta, os catadores ganham R$ 100 de bônus.

Segundo Rocha, as ações envolvem o uso de material de proteção, como luvas, e de uniformes de identificação. "Assim, a gente sente mais orgulho porque as pessoas não nos veem como uns pobres coitados, mas como prestadores de um serviço importante, que contribui para o meio ambiente. É um resgate de embalagens que iriam parar no aterro, mas também de vidas", diz.

No Brasil, historicamente, são carroceiros e catadores de materiais recicláveis os principais agentes desse ecossistema. Estima-se que sejam eles os responsáveis por 9 em cada 10 kg de embalagens que chegam à indústria de reciclagem.

"Tem aumentado a preocupação do setor privado e de municípios em aumentar o contingente de catadores nesse tipo de serviço durante o Carnaval, o que aumenta os resíduos coletados para reciclagem", afirma Edson Grandisoli, coordenador educacional do Movimento Circular.

Para ele, o reconhecimento do papel dos catadores é fundamental. "Eles têm o know-how desse trabalho, que envolve saúde pública e ambiental, e atuam na linha de frente para garantir que esses resíduos tenham destinação adequada", afirma.

Neste ano, a ONG Pimp My Carroça, que busca dar visibilidade ao trabalho dos catadores, propôs mediar a contratação de catadores autônomos por blocos.

Lucas Assumpção foi um deles. Ele atuou no Baixo Augusta e no Vem Quem Qué, e conta que foi procurado por outros blocos que, surpresos com o fato de terem de pagar pelo serviço, não fecharam a parceria.

"Os blocos têm interesse, mas precisam entender que esse é um serviço prestado e cobrado, ou seja, precisa ser remunerado", explica ele, que estima que 90% do lixo gerado pelos blocos seja reciclável. "Os blocos produzem resíduos e contratar catadores gera renda, inclusão e preservação do meio ambiente."

No ano passado, foi sancionada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) a lei 17.806 que exige que eventos públicos e privados de todo o estado adotem um plano de gerenciamento de resíduos sólidos que promova a contratação de catadores e cooperativas de reciclagem.

Segundo a deputada Marina Helou (Rede), autora do projeto de lei e coordenadora da Frente Parlamentar Ambientalista, está prevista a produção de 2.000 toneladas de resíduos recicláveis neste Carnaval em São Paulo.

"Este volume poderia gerar 20 mil postos de trabalho no Estado para gerar renda aos catadores e destinar corretamente esses resíduos, mas a falta de um decreto que regulamenta a lei é um entrave ao avanço dessa pauta", avalia Helou.

Erramos: o texto foi alterado

Ao contrário do afirmado em versão anterior do texto, 175 toneladas não equivalem ao peso de quatro ​​Titanics. O navio pesava 52 mil toneladas. 

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