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Um dia antes de morrer, idoso teve alta e foi levado duas vezes por parente a banco no RJ

Duas testemunhas afirmaram que o homem estava vivo pouco antes de ir para outra agência na terça

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Rio de Janeiro

O idoso Paulo Roberto Braga foi levado duas vezes por Erika Vieira Nunes a um banco na segunda (15), no mesmo dia no qual recebeu alta de uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) em Bangu, na zona oeste do Rio de Janeiro.

De acordo com a polícia, em ambas as vezes ela tentou sacar R$ 17 mil de empréstimo feito pelo idoso, mas a operação não deu certo. Na terça (16), ela o levou a uma outra agência. A gerente da unidade desconfiou da situação e chamou o Samu —que confirmou que o idoso estava morto.

Ao menos duas testemunhas disseram que viram Paulo ainda vivo pouco antes dele chegar na agência na terça. A Polícia Civil investiga as circunstâncias do caso, e tenta descobrir exatamente que horas ele morreu.

Erika foi presa em flagrante na terça por suspeita de vilipêndio de cadáver e furto mediante fraude, por tentar sacar um empréstimo de R$ 17 mil em nome do idoso. Nesta quinta, ela passou por audiência de custódia, que converteu a prisão em preventiva (sem prazo definitivo).

Imagens obtidas pelos investigadores mostram Erika levando Paulo a uma instituição financeira em Bangu na segunda, após ele ter alta da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) na qual estava internado desde o dia 8.

Segundo o prontuário, ao ser liberado, "o paciente estava taquicárdico, com frequência cardíaca de 97 batimentos por minuto, saturação de oxigênio no sangue periférico de 95%, disártrico e com dificuldade para deglutir", segundo informações do laudo pericial do IML (Instituto Médico Legal).

Os investigadores afirmam que apesar disso, Erika o teria levado levou a dois bancos para tentar sacar o dinheiro do empréstimo consignado — que havia sido contratado no dia 25 de março, por meio do celular. Era necessário que Paulo fosse até uma agência pessoalmente para retirar a quantia ou solicitar a transferência para uma conta nominal.

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Mulher tenta convencer parente que está apático a assinar empréstimo no Rio de Janeiro - Reprodução

A Folha teve acesso ao documento que detalha o empréstimo, a CCB (Cédula de Crédito Bancário). O documento aponta que o valor total contratado foi de R$ 17.975,38, a ser pago em 84 parcelas de R$ 423,50. Ao fim, portanto, Paulo pagaria R$ 35.574, ou 198% do valor inicial.

O idoso recebia um salário mínimo de aposentadoria, atualmente no valor de R$ 1.492.

Imagens de uma câmera de segurança mostram o idoso entrando em uma agência na segunda em uma cadeira de rodas e gesticulando com certa dificuldade. Não há informações sobre o porquê da falta de concretização do empréstimo naquele dia.

Como não conseguiu retirar o valor, Erika saiu com o idoso novamente na terça. Nesse dia, um mototaxista a ajudou a retirar Paulo de casa e colocá-lo no carro de aplicativo para ir à agência bancária em Bangu.

Em depoimento à polícia, o mototaxista afirmou que o idoso estava debilitado, mas "respirava e tinha força nas mãos" quando entrou no carro.

O mototaxista afirmou que trabalha na rua onde Erika mora, na Vila Aliança, também em Bangu. Ele relatou que Paulo sempre foi um homem ativo e que soube da internação dele por pneumonia, pois levava Erika até a UPA para visitá-lo.

Erika, que se identifica como sobrinha de Paulo, seria prima dele segundo registros apresentados à polícia.

Na terça (16), por volta de 12h20, ele contou que estava no ponto de mototáxi quando foi chamado por Erika para ajudá-la a retirar Paulo da cama e colocá-lo no carro de aplicativo.

Ele relatou que "pegou Paulo pelos braços, com a ajuda de Erika, e o levou para dentro do carro, que já estava aguardando". O idoso foi colocado no banco do carona.

O mototaxista também disse que "quando pegou Paulo, conseguiu perceber que ele ainda respirava e tinha forças nas mãos; que até percebeu quando ele segurou na porta do carro quando entrou". Depois disso, ele soube da morte dele pelas redes sociais.

O motorista de aplicativo que levou Paulo e Erika ao shopping onde fica a agência bancária fez um relato semelhante à polícia. Ele disse que a corrida foi aceita às 12h26 e que um homem (o mototaxista) ajudou Erika na ocasião.

"Erika, junto com esse homem, entrou na residência e voltou com Paulo; que Paulo não andava; que Erika o segurava em um braço e o homem em outro; que quando chegaram próximo ao veículo do declarante, Erika pediu ajuda para as suas filhas que estavam no portão; que uma das meninas, pegou as pernas de Paulo enquanto Erika e o homem o seguravam pelos braços", diz trecho do documento.

Ainda de acordo com o motorista, ele perguntou a Erika como ela faria quando chegasse ao destino. Ela, então, pediu para ele estacionar e foi buscar uma cadeira de rodas.

Ao voltar, após sete minutos, o motorista disse que ajudou Erika a colocar o homem na cadeira de rodas. "Que quando Erika estava tirando Paulo do carro, ele chegou a segurar na porta do carro", disse o motorista, em depoimento.

Após colocar Paulo na cadeira de rodas, Erika circulou pelo shopping. Em imagens de câmeras de segurança, o homem aparece com a cabeça tombada. A parente, então, saiu do shopping com a cadeira de rodas e foi para uma agência bancária, localizada em um calçadão a cerca de dois minutos de distância a pé do centro de compras.

Ao ser atendida, por volta das 15h, a gerente percebeu que o homem estava apático e acionou o Samu, que constatou a morte de Paulo. Às 15h20, a Polícia Militar foi chamada à agência, pela suspeita de crime.

O laudo do IML (Instituto Médico Legal) aponta que Paulo morreu entre 11h30 e 14h de terça. Assim, não é possível afirmar se ele morreu antes de entrar na agência bancária para onde foi levado ou se faleceu quando já estava no local.

A advogada Ana Carla de Souza Correa, que representa a defesa de Erika, afirmou na saída da audiência de custódia que vai pedir a revogação da prisão.

"Não é porque o caso nos causa estranheza ou clamor social que isso é suficiente para um tratamento diferenciado", afirmou a advogada. "Poderia ter sido aplicado a ela o artigo 318 do Código de Processo Penal por equiparação. Erika tem uma filha especial [com deficiência] e é a guardiã. A filha precisa dos cuidados dela", afirma Correa, citando a norma que estabelece condições para prisão domiciliar de mães ou responsáveis por crianças ou pessoas com deficiência.

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