Descrição de chapéu Obituário Carlos Antonio do Carmo (1983 - 2024)

Mortes: Dedicou suas habilidades de pedreiro para amigos que fez em ocupação

Carlos Antonio do Carmo era fã de pescaria e reencontrou irmãos depois de adulto

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São Paulo

Mesmo depois da semana de trabalho pesado, um dos prazeres de Carlos era se dedicar na folga às obras do lugar que adotou para morar no centro do Rio de Janeiro. Pedreiro habilidoso, se divertia ao projetar cômodos e acabamentos e a instalar tubulações e fiação elétrica, fosse para o apartamento dos filhos ou para outras unidades.

O lar adotado por Carlos é a ocupação Gilberto Domingos, formada por 40 famílias de camelôs e instalada há seis meses em um prédio abandonado na rua Riachuelo, no centro do Rio.

Era mineiro de nascença, de Caratinga, a cerca de 300 km de Belo Horizonte, mas chegou ao Rio com apenas nove meses. A família se estabeleceu em Engenheiro Pedreira, atualmente bairro de Japeri, na Baixada Fluminense, mas na época ainda um distrito de Nova Iguaçu.

Carlos tira foto selfie em barco, ao fundo está o mar e uma ilha com casas e vegetação tropical
Carlos Antonio do Carmo (1983 - 2024) - Arquivo pessoal

O pai, Antônio Caetano, tinha uma pequena roça de mandioca, e criava porcos para complementar o sustento.

"Ele era muito tranquilo, na dele, e muito amigo", diz a irmã, a camelô e ativista Maria de Lourdes do Carmo, a Maria dos Camelôs, 49. "Não conseguiu estudar muito, porque quando pegou certa idade já ia à cidade trabalhar."

Caçula, Carlos acompanhava os irmãos na lida da roça e na criação dos animais enquanto o trabalho acelerava sua infância.

A vida adulta também chegou rápido, quando Carlos perdeu o pai aos 18 anos. E pouco tempo depois vieram as filhas Hevellem, 17, e Kauany, 15. Mais tarde, teria Carlinhos, 8, de outro relacionamento.

Anos depois, também se separou da segunda companheira e construiu uma casa em cima da residência da mãe, Maria das Graças do Carmo, 76, em Engenheiro Pedreira.

Com a rotina diária de ir para o Rio trabalhar, a mais de 70 km, aceitou, em dezembro do ano passado, o convite da irmã Maria para ocupar, com outros camelôs, o prédio na Riachuelo. Levou junto o filho Carlinhos, seu xodó.

Maria e Carlos Antonio ainda descobriram que o pai, Antônio, havia trabalhado em condições análogas à escravidão em uma fazenda de Minas Gerais.

Ele havia tido outros quatro filhos que foram encaminhados a famílias ou orfanatos. Conseguiram contato com dois, Maria Ângela do Carmo, 66, e Francisco do Carmo, 58 —que encantou o meio-irmão mais novo.

"Nós fomos com o Francisco a Caratinga, e o Carlos dizia o tempo todo ‘ele é todo papai, o jeito de sentar, de fumar cigarro de palha, até o cheiro me lembra do papai’", diz Maria.

Quando não estava trabalhando, Carlos gostava de passar o tempo pescando em Saquarema, no litoral fluminense. Ele morreu em 16 de abril, aos 40 anos, no Rio de Janeiro. Sofreu um infarto enquanto trabalhava em um prédio de Copacabana. Deixa a mãe, os filhos, quatro irmãos e 12 sobrinhos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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