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Por que invasão de piranhas amarelas no Guaíba (e nas ruas) é perigosa

Moradores de Porto Alegre (RS) têm registrado piranhas amarelas em meio às ruas da cidade, por causa das enchentes

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Rute Pina
UOL

A palometa (Serrasalmus maculatus), conhecida como piranha amarela, está presente no lago Guaíba desde 2021. A espécie chegou até a bacia hidrográfica com a conexão dos rios Uruguai, de onde ela é originária, e o Jacuí, através dos sistemas de irrigação para lavouras, principalmente as plantações de arroz.

Invasão das piranhas no Guaíba já havia despertado preocupação em pescadores e biólogos. Sua presença visível nas ruas de Porto Alegre pode representar uma nova etapa em sua migração, o que pode ser danoso, já que é uma espécie predatória que pode causar desequilíbrios na fauna aquática. É o que explica o biólogo David Reynalte, professor da Universidade Federal da Fronteira Sul e especialista em aquicultura e recursos pesqueiros.

Pescador mostra uma piranha, que foi pescada no lago Guaíba, em Porto Alegre, mordendo uma faca
Pescador mostra uma piranha após ser pega no lago Guaíba, em Porto Alegre, em meio às enchentes dos últimos dias - Reprodução/@maweissheimer no X

"Elas são piscívoras e podem alcançar até 2 kg. Elas se alimentam de peixes, mas também podem comer invertebrados como camarões, causando diversos impactos. Pescadores já relatam que colocam redes e não encontram peixes —apenas redes destruídas", comenta o biólogo.

As piranhas gostam de ambiente de água parada e, no Guaíba, estão encontrando ambiente propício para reprodução. Os registros dos moradores de Porto Alegre mostram que elas já estão em grande quantidade na bacia.

Migração até a lagoa dos Patos é o que preocupa especialistas. Um grupo de três piranhas foi visto na lagoa também em 2021, mas nunca mais foi encontrado. "Isso seria um impacto muito grande para a pesca na região", diz o professor.

O ictiólogo Roberto Reis, professor do programa de pós-graduação em ecologia e evolução da biodiversidade da PUC-SP, explica que, com as enchentes, o peixe pode atingir novas bacias hidrográficas.

Elas podem migrar e chegar até as lagoas costeiras, algo que ainda não ocorreu. Lá, existe um cordão de lagoas doces que têm sua fauna particular, o que pode representar riscos. Além disso, tem uma enorme exploração imobiliária, com condomínios náuticos e casas de veraneio. Podem também representar um problema para humanos, já que não é comum, mas elas também atacam pessoas", destaca Reis.

Contaminação da fauna aquática

Além das piranhas, tilápias, birus, lambaris, carás, tartarugas e até jacaré já foram vistos nas ruas da capital gaúcha após as enchentes. "Esses animais acabam saindo do leito do rio com a cheia. Quando a água baixar, um grande número vai ficar preso nos locais e vai morrer. Os peixes se recuperam porque, para eles, as cheias dos rios são algo natural", diz.

Mas David Reynalte diz que as alterações climáticas, com constantes cheias e momentos de seca nos rios, pode causar impacto nas espécies.

Marcus Querol, professor do curso de engenharia de aquicultura da Universidade Federal do Pampa, também ressalta a preocupação com a contaminação de peixes no estado. "Ainda não existem muitos estudos, mas com peixes atingindo pontos que não têm tratamento de esgoto e lixo, pode haver um impacto toxicológico, que ainda é preciso medir qual vai ser", diz.

"Só com monitoramento e recursos específicos vamos poder entender até que ponto pesticidas que são guardados em locais inadequados, lixos domésticos e de empresas, enfim, todo o material que entrou em contato com as enchentes, vai ocasionar um prejuízo, desde toxinas até contaminação da carne do peixe."

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