Itamaraty pede desculpas a embaixadores pais de jovens negros abordados pela PM no Rio

Filhos de representantes do Gabão e da Burkina Faso foram rendidos com fuzil; ministério pede apuração rigorosa e responsabilização dos policiais

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Brasília

O Itamaraty recebeu nesta sexta-feira (5) os embaixadores do Gabão e da Burkina Faso e entregou aos diplomatas um pedido formal de desculpas pela abordagem policial, no Rio de Janeiro na quinta-feira (4), de um grupo de adolescentes negros.

Dois dos adolescentes abordados, que tiveram armas apontadas contra si, são filhos dos chefes das missões desses países. Um terceiro é filho de um diplomata da embaixada do Canadá e o quarto é neto do jornalista Ricardo Noblat.

Os filhos dos diplomatas estrangeiros são negros.

Imagens de câmeras de segurança mostram PMs abordando com fuzis quatro adolescentes, três deles negros e um branco, em Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro, na noite desta quinta-feira (4); no grupo havia filhos de diplomatas estrangeiros - Guga Noblat no X/Reprodução

A família do neto do jornalista afirma que a abordagem foi racista e denunciou o caso ao Itamaraty. De acordo com nota do Ministério das Relações Exteriores, na manhã desta sexta foi apresentado um pedido formal de desculpas.

"Na reunião, foi entregue em mãos dos Embaixadores estrangeiros nota verbal com um pedido formal de desculpas pelo lado brasileiro, e o anúncio de que o Ministério de Relações Exteriores acionará o governo do estado do Rio de Janeiro, solicitando apuração rigorosa e responsabilização adequada dos policiais envolvidos na abordagem."

Os embaixadores foram recebidos pelo chefe do Cerimonial do Itamaraty, embaixador Mauro Furlan. Um documento com pedido de desculpas também será entregue à embaixada do Canadá, segundo a pasta.

Entenda o caso

Câmeras de segurança gravaram a abordagem em uma rua de Ipanema, zona sul do Rio, na noite desta quinta-feira (4).

Os quatro adolescentes, com 13 e 14 anos de idade, voltavam da praça Nossa Senhora da Paz, após jogar futebol.

Ao chegar a um prédio, os jovens foram empurrados para a garagem e revistados.

"Um dos meus netos estava com os meninos vítimas da violência racista da polícia do Rio", escreveu Noblat nas redes sociais. "Testemunha do episódio, o porteiro do prédio da rua Prudente de Moraes foi chamado a depor. Está assustado, e com razão", relatou o jornalista Ricardo Noblat nas redes sociais.

Segundo a mãe do jovem branco, Rhaiana Rondon, os quatro amigos moram em Brasília e estavam no Rio para passar férias, acompanhados dos avós de um deles, em uma viagem planejada há vários meses. No momento da abordagem policial, por volta das 19h, eles deixavam outro amigo na porta do prédio.

"Foram abruptamente abordados por policiais militares, armados com fuzis e pistolas. Sem perguntar nada, encostaram os meninos no muro do condomínio", disse Rhaiana. "Com arma na cabeça e sem entender nada, foram violentados. Foram obrigados a tirar os casacos e levantar o saco."

Ainda de acordo com o relato, os adolescentes foram questionados sobre o que faziam na rua. Os três filhos de diplomatas não entenderam a pergunta, por serem estrangeiros, e não conseguiram responder. O filho dela respondeu e, em seguida, o grupo foi liberado.

"Antes alertaram as crianças para não andarem na rua, pois seriam abordados novamente", afirma a mãe. "A abordagem foi racial e criminosa."

Em nota, a Polícia Militar do Rio informou que os policiais envolvidos na ação portavam câmeras corporais e as imagens serão analisadas para verificar se houve excesso por parte dos agentes.

"Em todos os cursos de formação, a Secretaria de Estado de Polícia Militar insere nas grades curriculares como prioridade absoluta disciplinas como direitos humanos, ética, direito constitucional e leis especiais", diz o comunicado.

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