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Enem 2018: ferir direitos humanos leva à perda de pontos na redação

Para professora, bom texto expõe discurso crítico, porém conciliador

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São Paulo

"A melhor decisão a ser tomada é o sacrifício logo após a descoberta da maldição.” Essa foi a solução formulada por um participante do Enem em seu texto sobre a inclusão de surdos na educação, tema da redação de 2017.

Neste ano, ao escrever algo nesse sentido, ferindo os direitos humanos, o estudante poderá perder até 200 dos 1.000 pontos possíveis.

Segundo o manual de redação do Inep (responsável pelo Enem), um dos cinco itens que serão avaliados no texto é a capacidade de “elaborar proposta de intervenção para o problema abordado que respeite os direitos humanos”.

Até o exame de 2016, quem ferisse os direitos humanos teria a nota zerada. No ano passado, decisão do Supremo Tribunal Federal excluiu esse item entre os critérios que anulavam a prova.

Uma boa redação reverbera discurso conciliador, mas com crítica, segundo Ana Paula Severiano, professora de produção textual do colégio Stockler, em São Paulo. “O ideal é que mostre ser possível amenizar o problema por meio do exercício da cidadania.”

Segundo Severiano, a proposta de intervenção é a mais temida pelos estudantes porque pede soluções inteligentes e factíveis sobre questões que exigem vivência de mundo.

É por isso que Frederico Barbosa, professor de redação do Colégio Equipe e ganhador de dois prêmios Jabuti de literatura, vez ou outra esbarra em textos “com propostas genéricas, semelhantes a discursos de candidatos à Presidência”.

Escrever com início, meio e fim é uma tarefa árdua, reconhecem os dois professores. A dificuldade começa no gênero do exame: o dissertativo-argumentativo. “Não é um estilo de texto que circula fora da escola”, afirma Severiano.

Esse texto tem um formato ortodoxo. Primeiro, é preciso criar uma tese. O passo seguinte é argumentar em defesa de um ponto de vista e, ao final, propor a intervenção. Tudo com coesão e coerência.

Barbosa explica que o aluno não está a deriva no processo de criação. O tema, diz ele, vem acompanhado de textos complementares, com dados e trechos de reportagens.“Esses excertos não estão lá para serem copiados, mas para estimular uma interpretação crítica”, afirma Barbosa.

Dona da nota máxima (mil pontos) na redação do Enem em 2012, Laís Inoue Kurusu, 24, hoje engenheira civil formada pela USP, diz que seguiu à risca o conselho de Barbosa. Naquele ano, o tema foi sobre o movimento imigratório para o Brasil no século 21.

“Usei o texto de apoio para orientar o meu pensamento. Consegui trazer pontos de vista além dos que estavam ali.”

Para Severiano, o participante precisa saber diferenciar opinião de argumentação. “Opinião tem a ver com gosto pessoal. Ponto de vista é sustentado pela razão.”

A autoria em defesa de um ponto de vista pede um texto original, com informação e alguma percepção pessoal, de acordo com Barbosa. “Mas nunca escreva: eu acho.” E esqueça os verbos conscientizar, educar e respeitar. “A banca corretora não espera que o aluno resolva as questões do mundo”, afirma a professora.

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