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Saiba como identificar se seu diploma é reconhecido ou falso

Confira oito pontos a se atentar antes de se inscrever em um curso superior

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São Paulo

A história começa com o sonho de cursar uma faculdade. Quando a vontade encontra a oportunidade —e uma oferta atrativa— parece ser o momento perfeito para dar o primeiro passo rumo à graduação. Muitas vezes, no entanto, o que era para ser uma conquista pessoal acaba virando pesadelo. O motivo: um diploma falso. Diante de um diploma que parece acessível ao bolso e à rotina, poucos se questionam sobre a regularidade da instituição para ofertar aquele curso.

Não raro alguém é vítima de falsários. Na educação, um dos casos mais emblemáticos é do professor Wemerson Nogueira. Ganhador do Prêmio Educador Nota 10, em 2016, e um dos finalistas do Global Teacher Prize (considerado o Nobel da Educação), em 2017. No mesmo ano, ele foi acusado de falsificação de documentos após ter apresentado um diploma ilegítimo em uma seleção de professores da Secretaria de Educação do Espírito Santo (Sedu). O professor alegou ter sido enganado pela Universidade Metropolitana de Santos (Unimes), responsável pela emissão do diploma.

Em agosto de 2018, a Corregedoria da Sedu concluiu que Wemerson usou diplomas falsos para conseguir um cargo na rede pública estadual de ensino. Segundo a investigação, ele nem mesmo se matriculou na instituição onde dizia ter se formado. No entanto, na época, o professor reafirmou ter sido vítima de falsificadores de diploma e que recorreria à decisão.

Não há uma fórmula pronta para evitar ser vítima do golpe do diploma falso, mas há detalhes que merecem atenção —e desconfiança. Confira abaixo algumas dicas úteis antes de escolher sua próxima graduação:

1) Pesquise: é fácil e rápido
Antes de tudo, é fundamental verificar se a instituição é credenciada pelo Ministério da Educação, seja faculdade, universidade ou centro universitário. Para isso, basta acessar o sistema e-MEC, que é o Cadastro Nacional de Cursos e Instituições de Ensino Superior. De acordo com o MEC, o credenciamento é exigido por lei para o funcionamento de qualquer instituição. Ou seja: sem isso, a instituição de ensino fica proibida de oferecer qualquer tipo de curso superior de graduação ou pós-graduação. “Buscar uma instituição credenciada e regular traz segurança ao estudante e garante uma formação de qualidade”, garante o ministério.

2) Redobre a atenção se o curso for EaD
Em pedagogia, o fato da grande oferta na modalidade Educação a distância (EaD) é um agravante, já que muitos estudantes nunca têm contato presencial com o espaço ou pessoal da instituição. Pedagogia é o curso mais ofertado à distância, conforme o último Censo da Educação Superior. Em 2017, dos 2.108 cursos EaD oferecidos, 174 foram de pedagogia, empatando com ciências da educação. “Com base na quantidade de denúncias que temos recebido desde que o Conselho começou a atuar, há cerca de um ano, a modalidade dá maior margem para a prática ilegal de concessão de diplomas falsos”, diz Geraldo Paiva, presidente do Conselho Federal de Educadores e Pedagogos (CFEP). O Conselho, no entanto, ainda não tem contabilizados números exatos sobre a quantidade de vítimas no país.

3) Atente-se à duração do curso
Atualmente há três formas de cursar uma graduação: presencial, semi-presencial (uma parte online e a outra com encontros presenciais) e EaD (online). Se um curso que costuma durar quatro anos ao longo de 200 dias letivos está sendo ofertado por menos de duas mil horas, desconfie. Em pedagogia, por exemplo, para se graduar é necessário fazer estágio supervisionado de 400 horas em qualquer uma das três modalidades. A carga horária dos cursos regulamentados pelo MEC varia entre 2.800 e 3.200 horas.

4) Investigue se há estágio obrigatório
O presidente do CFEP orienta os estudantes a ficarem atentos às condições dos polos, que são extensões das universidades que oferecem o curso na modalidade EaD. “Ainda existem muitos polos que atuam em desconformidade com o previsto em lei”, explica Geraldo Paiva. No caso dos cursos de pedagogia e licenciatura, por exemplo, o estágio é obrigatório para obtenção no diploma. “Quando não há a exigência de estágio, é mais fácil detectar essa irregularidade.”

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5) Uma letra faz diferença
É dever de cada cidadão procurar uma universidade séria e credenciada, segundo Geraldo. “Uma dica importante é prestar atenção no nome da instituição, que muitas vezes tenta imitar a nomenclatura de instituições renomadas, mas muda uma letra”, observa o presidente do CFEP. A semelhança da nomenclatura pode ter o intuito de induzir o estudante ao erro. Fique ligado!

6) Se parecer bom demais pra ser verdade, desconfie
Outro ponto é desconfiar se a oferta parecer “boa demais para ser verdade”. Mensalidades baixas demais e carga horária menor do que a exigida são sinais vermelhos na hora de escolher onde estudar. “A pessoa está caindo no golpe quando sente que está tendo benefícios, que nada mais são do que promessas que nunca serão cumpridas pelos golpistas”, alerta Geraldo.

Um motivo a mais para ficar atento é o fato de que os falsários trabalham, cada dia mais, com meios sofisticados de falsificação, segundo Rogério Sanches Cunha, e por isso acabam vitimando pessoas mais humildes. “É muito importante consultar o e-MEC, que além de ter todas as instituições credenciadas também disponibiliza uma lista de estabelecimentos para ser evitados. Sempre recomendo fazer uma pesquisa antes de se matricular no curso”.

7) Atente-se aos detalhes
O diploma possui muitos carimbos? Desconfie. O presidente do CFEP, Geraldo Paiva, afirma que muitos carimbos atrás do diploma podem significar um documento falso. Outra suspeita, segundo Paiva, é a plastificação do diploma. “Não existe diploma plastificado, por isso, se você se deparou com um assim, provavelmente trata-se de uma falsificação”.

8) Em caso de suspeita, denuncie
Por fim, se você acredita que possa ser uma vítima do diploma falso ou que alguma instituição possa estar praticando essa ilegalidade, faça uma denúncia aos órgãos fiscalizadores, como o próprio Conselho Federal de Educadores e Pedagogos e o Ministério Público do estado no qual a instituição de ensino se encontra. O promotor de Justiça do Ministério Público de São Paulo (MPSP), Rogério Sanches Cunha, assegura que o órgão está atento aos casos de diplomas falsos e que a incidência é, de fato, grande, principalmente nos cursos de pedagogia. “As denúncias chegam até nós de diversas formas, por meio de entidades de classe e conselhos profissionais, por exemplo, mas geralmente elas vêm pelos próprios estudantes prejudicados”, afirma. 

Rogério explica que a atuação do MP nesses casos é realizar, no mínimo, duas investigações: criminal e civil. Isso porque “com certeza não teremos só uma pessoa lesada, mas sim um número indeterminado de vítimas, o que gera um inquérito civil”. O crime é tipificado como estelionato ou, dependendo da estrutura, associação ou organização criminosa, levando a penas que vão de 5 a 8 anos.

Além da dor de cabeça, os danos para quem é vítima de falsários também são psicológicos. O promotor de Justiça reforça que o caminho é a prevenção. “Precisamos, cada vez mais, democratizar a informação de que em nome daquela instituição foram emitidos diplomas falsos, mas é importante, também, se atentar para o fato de que a própria instituição pode ser vítima de falsários.”

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