Descrição de chapéu desigualdade educacional

Sete estados não definiram se retomam aulas presenciais para todos em 2022

Alunos da rede pública desses locais ainda não puderam voltar à escola todos os dias

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São Paulo

Depois de dois anos sem oferecer aulas presenciais para todos os alunos, sete estados do país ainda não definiram se vão retomar as atividades escolares de forma integral em 2022. Juntos, eles reúnem 1,5 milhão de estudantes que ainda não podem ir todos os dias para a escola.

Enquanto ao longo do segundo semestre deste ano, 20 unidades da Federação autorizaram que as escolas estaduais recebam todos os alunos todos os dias, esses 7 estados —da região Norte e Nordeste— continuam com o modelo híbrido, ou seja, só admitem uma parcela dos estudantes.​

Alunos voltaram a frequentar as aulas na escola estadual Jacimar da Silva Gama, em Manaus, mas ainda em esquema de rodízio - 10/08/2020
Alunos voltaram a frequentar as aulas na escola estadual Jacimar da Silva Gama, em Manaus, mas ainda em esquema de rodízio - 10/08/2020 - Tacio Melo/Secom

Um levantamento feito pelo Instituto Articule identificou que Acre, Amapá, Amazonas, Paraíba, Roraima, Rio Grande do Norte e Tocantins ainda não têm sequer previsão de quando suas escolas estaduais voltarão a permitir a frequência de todos os alunos. Enquanto isso, os colégios particulares desses estados já estão há meses com atividades presenciais todos os dias.

Procurados pela Folha, esses estados dizem ainda estar avaliando os indicadores epidemiológicos para planejar a volta segura de todos os estudantes da rede estadual.

No entanto, assim como em todo o país no geral, esses sete estados tiveram queda nos indicadores da Covid nos últimos meses e avanço da vacinação. Eles também retiraram as restrições dos demais setores comerciais e de serviços, mantendo regras mais rígidas apenas para as escolas públicas.

Desde o início da pandemia, especialistas e gestores da área alertavam que a ausência de uma coordenação nacional poderia aumentar as desigualdades educacionais do país, já que municípios e estados mais pobres teriam mais dificuldade para lidar com as consequências do fechamento de escolas. Apesar de contrário à suspensão das aulas presenciais, o Ministério da Educação não desenvolveu nenhuma ação ou plano para ajudar a organizar este retorno.

Uma pesquisa do Datafolha mostrou que a reabertura desigual das escolas no Brasil tem prejudicado mais os alunos negros, pobres e os que moram no Norte e Nordeste.

"Diante de todo o contexto que vemos nesses estados, podemos inferir que manter as escolas no formato híbrido não se trata de uma questão ligada às condições epidemiológicas, porque elas são hoje muito favoráveis. Tudo indica ser mais um resultado da dificuldade de tomar a decisão da volta e da falta de recursos para garantir o retorno seguro", diz Alessandra Gotti, presidente-executiva do instituto.

Em Roraima, por exemplo, o número de casos de Covid segue em desaceleração há semanas. Ainda assim, só alunos do 9º ano do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio tiveram a oportunidade de voltar a frequentar as escolas estaduais em esquema de rodízio. Nas demais séries, os estudantes continuam apenas com atividades a distância.

"São situações muito preocupantes, porque temos um contingente enorme de estudantes nesses estados que passaram dois anos letivos sem ir à escola e não há previsão de quando serão autorizados a voltar."

"Não podemos nos acomodar com essa situação, quando todo o restante do país já está oferecendo aulas todos os dias para os seus alunos. O resto do mundo também já voltou. Esses estados vão ficar ainda mais para trás", completa Gotti.

Na Paraíba, foi só no fim de outubro que as aulas presenciais foram autorizadas a voltar, mas apenas em esquema de rodízio de estudantes. Um levantamento da Secretaria de Estado de Educação identificou que apenas 30% dos quase 250 mil estudantes aderiram ao esquema híbrido.

Ainda assim, o governo paraibano ainda não tem previsão do retorno integral dos estudantes à escola no próximo ano. A decisão depende de um inquérito epidemiológico que está sendo feito desde o início de novembro nas unidades escolares, ainda sem resultado conclusivo.

No Amazonas, as escolas estaduais só estão autorizadas a receber metade dos alunos matriculados. Enquanto isso, os colégios particulares já têm autorização para funcionar com todos os estudantes.

"Com os outros 20 estados que já voltaram, começamos agora a ver os reflexos e prejuízos do período de fechamento das escolas. Ainda assim, eles ainda não conseguem dimensionar todo o déficit de aprendizagem dos alunos e da evasão escolar. Imagine nesses sete estados que ainda nem voltaram?", questiona Gotti.

O Instituto Articule tem se reunido com governos estaduais e municipais e com representantes do Ministério Público e de órgão de controle para buscar estratégias que possam garantir o retorno das aulas presenciais para todos no próximo ano em todo o país.

"Não podemos permitir que essa situação se arraste por mais um ano, permitir que essas crianças tenham mais um ano de sua vida escolar suprimido", diz a presidente.

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