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Ômicron faz escolas nos EUA mandarem alunos novamente para casa

No Brasil, já se cogita que pode ser preciso repensar o plano para volta às aulas

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São Paulo

A explosão de casos de Covid provocada pela variante ômicron levou a uma nova onda fechamento de escolas nos Estados Unidos. Na Europa, em países como França e Inglaterra, professores temem a retomada do ensino presencial. E, no Brasil, já se cogita reconsiderar o plano para volta às aulas.

Vitor de Angelo, presidente do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação), diz que ainda não houve nenhuma discussão formal sobre alterações no calendário escolar no país. Ele avalia, porém, que existe a possibilidade de ser necessário repensar o planejamento previsto para a volta às aulas.

"Estamos vendo o que essa variante está causando em todo o mundo e em todos os setores, todos estão tendo que ser mais cautelosos. Embora a escola tenha se mostrado um ambiente seguro, ela não é uma ilha", diz.

Brinquedos em escola da zona sul de São Paulo foram isolados para não serem usados pelas crianças em retorno às aulas
Brinquedos em escola da zona sul de São Paulo foram isolados para não serem usados pelas crianças em retorno às aulas - Rivaldo Gomes - 15.fev.21/Folhapress

Para ele, no entanto, o fechamento das escolas só deve ser considerado em última opção. Angelo é secretário de Educação do Espírito Santo, onde as aulas presenciais tinham sido retomadas sem nenhuma restrição já no ano passado.

"Talvez seja necessário dar um passo para trás no que avançamos, mas ainda não há nenhuma definição", afirma ele. "Estamos vendo os sinais e é preciso estar atento para decidir o que faremos em fevereiro, com o início do ano letivo."

Em nota, a Secretaria da Educação de São Paulo informou que o início do ano letivo está mantido para 2 de fevereiro, com aulas presenciais e obrigatórias, e diz ter protocolo seguro em todas as escolas.

A Prefeitura de São Paulo também disse manter o calendário letivo e que suas unidades irão iniciar as aulas presenciais em 7 de fevereiro.

Nos Estados Unidos, algumas cidades decidiram que iriam voltar para o ensino remoto na primeira semana deste ano —o calendário letivo é diferente do brasileiro e não há férias em janeiro. A decisão ocorreu, por exemplo, em Atlanta, Detroit, Newark, Milwaukee e Cleveland.

Só nesta primeira semana de 2022, 4.783 escolas americanas estavam com aulas presenciais suspensas. O número de unidades fechadas é maior do que em qualquer outro período do ano passado, segundo levantamento da Burbio, empresa que mapeia a situação das escolas no país.

Apesar do aumento de escolas que voltaram ao ensino remoto, a maioria decidiu manter as atividades presenciais. Em Los Angeles, por exemplo, as unidades vão receber os alunos, mas eles (professores e funcionários) devem apresentar um teste negativo para frequentar as aulas.

O departamento de saúde de Los Angeles estima que até 10% dos alunos ou trabalhadores da educação possam estar com o vírus neste retorno às aulas, após as festas de fim de ano.

A adoção de regras mais rígidas também foi a opção de países da Europa para evitar nova suspensão das aulas. Na Áustria, os alunos e funcionários serão testados três vezes por semana, dentro das próprias escolas. Antes, eram testados apenas uma vez por semana.

Na Inglaterra, o uso de máscara nas escolas voltará a ser obrigatório a todos —a proteção não era mais exigida desde outubro do ano passado. Na Itália, o governo determinou que só podem ser usadas máscaras do tipo PFF2 dentro dos ambientes escolares.

Na Bélgica, todas as escolas devem ter medidores de CO2 (gás carbônico) e montar um plano de testagem nos alunos.

Apesar das medidas mais rígidas, alguns desses países já enfrentam a resistência dos professores que defendem não ser seguro o retorno presencial neste momento. Na França, os sindicatos de docentes ameaçaram entrar em greve se forem obrigados a voltar para as escolas sem que o governo forneça máscaras de qualidade para todos.

Na Inglaterra, ainda que o governo tenha determinado manter as aulas presenciais, algumas escolas comunicaram o receio de não ter professores em número suficiente para atender os alunos, já que muitos estão doentes e em isolamento.

"Estamos vivendo um novo momento crítico da pandemia em todo o mundo, mas com fatores ainda mais graves no Brasil. Além do aumento de casos como registrado em outros países, nós aqui ainda não iniciamos a vacinação de crianças, temos um apagão de dados da Covid e protocolos de segurança ineficiente nas escolas", diz Lorena Barberia, pesquisadora do departamento de ciência política da USP e da Rede de Pesquisa Solidária, que vem analisando dados da pandemia em escolas de São Paulo.

Ela destaca que o Brasil não tem nenhum plano de testagem nas escolas, como fazem países da Europa e dos Estados Unidos. Com testes frequentes, seria possível identificar infecções precocemente e evitar a dispersão descontrolada do vírus.

"O controle da pandemia depende de vigilância. A vacina nos ajudou, mas estamos vendo que só ela não vai controlar tudo. É preciso ter testagem para evitar novos surtos."

Além de não haver nenhum plano de testagem para as escolas, muitas delas ainda seguem protocolos ineficazes e deixam de lado medidas importantes para evitar a contaminação.

Nas escolas estaduais de São Paulo, por exemplo, a medição de temperatura ainda é uma medida obrigatória, ainda que já tenha sido comprovada cientificamente como ineficaz. Já a distribuição de máscaras corretas, como a PFF2, não ocorre.

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